Fugas - Viagens

  • Índia. Mumbai (Bombaim)
    Índia. Mumbai (Bombaim) Ana Alves, Bárbara Simões
  • Índia. Cochim
    Índia. Cochim Ana Alves, Bárbara Simões
  • Laos, rio Mekong
    Laos, rio Mekong Ana Alves, Bárbara Simões
  • Laos, rio Mekong
    Laos, rio Mekong Ana Alves, Bárbara Simões
  • Laos. Luang Prabang
    Laos. Luang Prabang Ana Alves, Bárbara Simões
  • Laos. Nhong Kiaw
    Laos. Nhong Kiaw Ana Alves, Bárbara Simões
  • Vietname. Halong Bay
    Vietname. Halong Bay Ana Alves, Bárbara Simões
  • Vietname. Hanói
    Vietname. Hanói Ana Alves, Bárbara Simões
  • Vietname. Can Tho
    Vietname. Can Tho Ana Alves, Bárbara Simões
  • Camboja. Kratie
    Camboja. Kratie Ana Alves, Bárbara Simões
  • Cambodja. Kampot
    Cambodja. Kampot Ana Alves, Bárbara Simões
  • Filipinas. Batad
    Filipinas. Batad Ana Alves, Bárbara Simões
  • China. Hong Kong
    China. Hong Kong Ana Alves, Bárbara Simões
  • China. Muralha da China
    China. Muralha da China Ana Alves, Bárbara Simões
  • Filipinas. Bohol
    Filipinas. Bohol Ana Alves, Bárbara Simões
  • Japão. Tóquio
    Japão. Tóquio Ana Alves, Bárbara Simões
  • Japão. Kyoto
    Japão. Kyoto Ana Alves, Bárbara Simões
  • EUA. Route 66
    EUA. Route 66 Ana Alves, Bárbara Simões
  • EUA. Costa Pacífico
    EUA. Costa Pacífico Ana Alves, Bárbara Simões
  • México. San Cristobal de las Casas
    México. San Cristobal de las Casas Ana Alves, Bárbara Simões
  • Peru. Lima
    Peru. Lima Ana Alves, Bárbara Simões
  • Peru. Ilha dos Uros
    Peru. Ilha dos Uros Ana Alves, Bárbara Simões
  • Peru. Machu Picchu
    Peru. Machu Picchu Ana Alves, Bárbara Simões
  • Bolívia. Cemitério de comboios, Uyuni
    Bolívia. Cemitério de comboios, Uyuni Ana Alves, Bárbara Simões
  • Bolívia. De Salar de Uyuni a San Pedro de Atacama
    Bolívia. De Salar de Uyuni a San Pedro de Atacama Ana Alves, Bárbara Simões
  • Bolívia. De Salar de Uyuni a San Pedro de Atacama
    Bolívia. De Salar de Uyuni a San Pedro de Atacama Ana Alves, Bárbara Simões
  • Bolívia. De Salar de Uyuni a San Pedro de Atacama
    Bolívia. De Salar de Uyuni a San Pedro de Atacama Ana Alves, Bárbara Simões
  • Bolivia. Salar de Uyuni
    Bolivia. Salar de Uyuni Ana Alves, Bárbara Simões
  • Argentina. Purmamarca
    Argentina. Purmamarca Ana Alves, Bárbara Simões
  • Brasil. Paraty
    Brasil. Paraty Ana Alves, Bárbara Simões
  • Brasil. Taipu de Fora
    Brasil. Taipu de Fora Ana Alves, Bárbara Simões
  • Brasil. Trancoso
    Brasil. Trancoso Ana Alves, Bárbara Simões
  • Brasil. Salvador
    Brasil. Salvador Ana Alves, Bárbara Simões

Até onde nos levaram os nossos amigos? Ao mundo

Por Ana Alves, Bárbara Simões

13 meses, 25 países, 106 lugares. Mais importante: 155 amigos. Ana e Bárbara, 27 e 28 anos, queriam viajar e acreditam na força da amizade. Criaram o projecto “Até onde nos levam os nossos amigos” e, por todo o lado, foram criando uma rede de anfitriões. Velhos e novos amigos deram-lhes asas e elas deixaram-se levar. Aqui, relatam os pontos altos desta viagem global pela amizade.

Agora escrevemos de cá. A janela a poente deixa ver Lisboa, a da frente o vizinho. Ouvimos a “Despedida” do Camelo e fica-nos o “sal nos olhos doentes da falta de voltar”. Depois de mais de um ano a viajar, estamos de regresso a casa. Voltamos a encher as prateleiras com os nossos livros, as nossas coisas, e até o globo voltou para cima do aparador, mas agora custa mais olhar para ele. Rodeamos a mesa de jantar com amigos, os mesmos que se reuniram à volta dela para preparar a nossa partida.

Cruzámos o Mundo de amigo em amigo, numa volta de dois continentes, na rotação dos 360º. Fomos de Oriente a Ocidente, da Ásia às Américas, de sofá ao chão, do quarto das visitas aos anexos, do topo de arranha-céus até às tendas de campismo. O nosso desafio foi ir até onde eles nos levavam, uma viagem onde chegar deixou de ser só um lugar e passou a ser um amigo, e o amigo deste amigo ou de um outro amigo estava noutro lugar, e foi para lá que seguimos.

Índia
O Tiago foi o primeiro amigo desta viagem, e foi com ele que percebemos
como é diferente conhecer lugares com um guia na mão, ou pela mão de um
amigo. Assim foi em Mumbai, como também foi em Goa, a aprender a
conduzir aceleras à instrução certa do Edgar, ou em Bangalore, abrigadas na
sala do Bunty a beber Kingfishers, a comer chicken masalas e caris
vegetarianos. E a Índia foi-se povoando de amigos aqui ou ali, uns a viajar
connosco, outros levar-nos aos amigos num outro lugar.

Indochina
Mekong, numa jornada lenta de dois dias de viagem até Luang Prabang. Atracámos na romântica cidade colonial com um amigo pelo braço e outro à espera do abraço. E se com o Madja corremos dezenas de vezes aquelas ruas afrancesadas entre tuk-tuks coloridos, bistrôs de charme e monges cor-de-laranja, com o Jorge e com o Xai sentamo-nos à mesa para fazer bolinhas de arroz, pôr a conversa em dia, mais o laap, o tam mak hung e as noodle soups. O reencontro ficou marcado para Hanói, uns dias depois, para umas lições de como atravessar a estrada, enquanto o tempo pára. Mas para chegarmos a Hanói o tempo já é uma câmara lenta, nas 36 horas de autocarro que fazemos para ir ter com o Stefan e com a Maria.

Damos por nós baratas tontas no enxame de vespas e motorizadas que fará
o nosso Vietname. Será sobre duas rodas que entraremos em Hué, que
chegaremos a Hoi An, que ligaremos Nha Trang, Lak Lake e Dalat, será
neste enxame que nos perderemos pelo Saigão, em vésperas de Natal. O
Saigão foi todo nosso, é assim que costumamos dizer, sem roteiros nem
agendas. Desta vez, fomos nós a ditar o preço, a apregoar a mercadoria, a
correr atrás do freguês – Santa Claus ballons, one 30 thousand, two 50. Em
três horas vendemos 20 balões, e eles riam a bandeiras despregadas com a
bazófia das turistas, trocavam-se pastilhas elásticas e bolinhos de leite por balões do Pai Natal, e mandavam-se passear os foreigners trombudos, que
nunca perceberam o gozo de andar por aí com balões atados aos pulso.

Pela mão levámos o Madja para uma Consoada pelo delta do Mekong, entre
mercados flutuantes e canais de perder a vista. Pela mão até ao dia de Natal,
a atravessar a fronteira do Camboja para darmos a outra ao Niels. Mas para
chegar ao Ano Novo, tivemos de chegar a Sianoukville, e de lá à ilha de Koh
Rong Saloem. Pisámos o paraíso para trazermos de lá a Carla, o Pablo, o
Don, o Andrés e a Diana, que muitos meses depois seriam copos e casa pela
Argentina e pelo Uruguai.

Não é que as coisas deixem de ser bonitas, nem que as pessoas deixem de
ser sorridentes, ou de nos conquistar. Não é que os mercados sejam menos
coloridos ou mal cheirosos, nem que os carrinhos e as banquinhas de rua
deixem de se ver em todo o lado. Não é que o Mekong seja menos forte,
menos bravo, nem mais estreito, nem tão poucas são as minority villages,
nem menos suspensas as aldeias flutuantes. Não é que dois meses pela
Indochina seja muito tempo, nem tantos foram os lugares por onde parámos,
mas damos por nós a identificar mais semelhanças do que diferenças – é o
tal same same, but different com que acabam todas as conversas, seja entre
turistas, seja com os locais.

Filipinas
Abrimos as janelas, metemos as cabeças de fora e levamos com o vento
quente, com as cornetas, com as buzinas e os arranques, com os solavancos
e as traulitadas dos triciclos. Passam jeepneys a rebentar de tinta e de gente,
passa música alta, gritaria, yes ma’am, no ma’am, o churrasco a crepitar, os
putos aos berros, mulherada, telenovela, karaoke, videoke, chinelas a
arrastar. Chegámos às Filipinas. Vai ser um mês de amigos, copos e
guitarradas, entre montanhas de chocolate, grutas, campos de arroz, praias,
rios, bairros de lata, criançada e gente perigosa. A saltitar entre o Zak e a
Katrina, a Jewel, a Pru e o Ryan, à espera da mensagem do Brillante
Mendoza, que chegou tarde demais, a conhecer o Tiago e a Fernanda, que
farão muitos dos nossos dias pelo Brasil.

China e Japão
Hong Kong, uau. A Mónica é o nosso sorriso pela metrópole armada em
estrela de cinema independente, com todas as poses e cortes de cabelo,
toda a boémia, corridas de cavalos, néons e escadas rolantes. E depois de
uma semana de plateau, entramos num ferry que em uma hora nos deixa à
porta de casa – Macau. É um galão, uma torrada e um pastel de nata, por
favor – sentadas na esplanada do Caravela, voltámos àquele velho hábito
que é ouvir as conversas da mesa do lado, espreitar o jornal português e ter
o gosto de passar um amigo na rua que se senta para o pequeno-almoço.
Entrar em Macau é encher o peito, é ficar-se inchada e com as
bochechas rosadinhas de se ser português. É pisar calçada, ver as bocas
pequeninas daqueles olhos em bico a abrir-se para trincar uma bifana em carcaça rija. Chegar ao Largo do Senado, babar as vitrines chinesas
recheadas de pastéis de nata e apressar o passo ao passo rápido do nosso
amigo macaense – Casa de Portugal, Livraria portuguesa, Embaixada
portuguesa, Santa Casa da Misericórdia, Albergue. Temos os pés cansados,
a pesar, sentadas no quiosque sem refresco, mas com a Sónia, muito patuá
e pragmatismo.
Percebe-se que nos estamos a aproximar do Ocidente quando nos começa a
faltar o tempo. O Ocidente começa na China, furiosamente, aceleradamente,
tudo acontece na simultaneidade do que já aconteceu e do que está para
acontecer. Nós apressamos o passo, acordamos com despertador, andamos
a toque de caixa, a ver se ganhamos o tempo que já está perdido. Em Pequim,
a nossa casa é a da Chiara, da Gili e do Rob. Toca-se e canta-se blue grass,
cozinha-se pasta e shakshuka, bebem-se cervejas, rum filipino e conversa-se
até tarde. Entrincheiramo-nos de roupa para a Cidade Proibida, para o
Palácio de Verão, para a Muralha da China, para deixarmos a China.
São os últimos dias para dar aos pauzinhos, andar ao encontrão, sacar
sorrisos de olhos em bico e não perceber patavina. São as últimas visões dos
pagodes, dos templos, dos shrines, dos monges, dos incensos e dos budas
gigantes. Mas são os primeiros do sushi, da soba, das gyosas, os primeiros
da manga, dos videojogos, do psicadelismo. São os nossos primeiros dias de
Primavera no Japão, os primeiros com cerejeiras em flor, piqueniques e
amigos de casa que vêm ter connosco.

EUA
Vamos ter com a Sandra, com o Nuno e com os putos a uma casinha típica
americana, num bairro de filme. Aliás, LA é isso mesmo, um amontoado de
bairros típicos que já todos vimos num filme qualquer. Ora nos passeamos
pelos enquadramentos da Coppola, ora pelas estradas do Lynch, pelas
praias Bay Watch ou pelas palmeiras de Beverly Hills. Mas não é só LA que
nos leva para a ficção. É o Big Sur do Miller, do Kerouac, a Cannery Row do
Steinbeck, o castelo de Hearst do Citizen Kane, a Carmel do Eastwood.
Passamos para as Reality Sandwiches do Ginsberg, na poesia da geração
Beat pela CityLights, em São Francisco, a olhar para Albatroz e para a
Golden Gate. Zabriskie Point numa derrapagem pelo Vale da Morte até à Las
Vegas de todos os imaginários. Grand Canyon num voo livre de duas miúdas.
A esfrangalhada 66, Williams, Flagstaff, Winslow, Hoolbrook, Chambers,
Gallup, Grants, Arizona, New Mexico, Two Guns, Cowboys, Jack Rabbit,
trading posts, mais motéis, néons e bombas de gasolina. Mesmo a tempo do
Coachella.


México
Chegámos à Cidade do México com olheiras fundas e um certo mau humor.
É verdade que não queríamos ter chegado já. E o céu carregado não ajuda. Em meia hora estaremos a caminho da Colónia de Anzures, para a Rua
Shakespeare, que está entre a Darwin e a Victor Hugo, de frente para a Allan
Poe. Dormiremos numa cama larga, no décimo andar do amigo Tiago.
Viva México! – a Alexandra Lucas Coelho é nosso guia. É através dela que
unimos os cabelos em desalinho deste México de nuances e fricções.
Juntam-se os tempos, passado, futuro, raiz, vanguarda, saias floridas,
mezcal. Cruzam-se nas ruas largas da calçada os sombreros e as palhinhas,
as camisolas bordadas, as janelas abertas, os parapeitos gradeados. Oaxaca
amarelo torrado, Oaxaca queijo entrelaçado, Oaxaca no alto do Monte Alban.
Noites às voltas na tórrida Juchitán. A subida de todas as escalas até San
Cristobal de las Casas. Os amigos de San Cristobal de las Casas, o amor a
San Cristobal de las Casas, o salto ao Yucatán, o retorno a San Cristobal de
las Casas, a dor de deixar San Cristobal de las Casas, e enfim, o adeus ao
México.

Perú
Estaríamos em Paris, se as grandes rotundas não tivessem vendedores
ambulantes, nem autocarros a descamar. Era Viena se as portadas dos
teatros e dos hotéis não estivessem tão comidas, as paredes tão
sarrabiscadas, as esquinas tão cheias de buracos. Seria Florença, se em
frente às grandes igrejas não houvesse indígenas de filhos às costas e
chapéus na cabeça. Mas é Lima, a eterna capital deste lado da América
Latina e uma boa metáfora do país. Os dias passados com o Nuno foram um
capricho, um estrago na mimalhice das meninas que, claro, estavam
felicíssimas. Mas não foi este o Perú que tivemos pela frente. Seguimos as
linhas do deserto de Nazca, caminhámos cinco dias, 75Km em altitude, para
chegarmos a Machu Picchu, atravessámos aldeias flutuantes, pisámos terra
firme no Lago Titicaca, e atravessámos, enfim, para a Bolívia.

Brasil
Depois de 11 meses a falar inglês e espanhol, com sotaque diferente a cada
país, chegamos ao Brasil, e a primeira coisa que nos perguntam é se somos
espanholas. Mas o Brasil é tão especial que não o podemos encaixar em
meia dúzia de linhas e de lugares comuns. É sim um lugar bem comum a
todos nós, portugueses, que afinal, de alguma maneira, com tanta novela,
tanta música, poesia, jeitinho de anca, faz parte do nosso imaginário. A
sensação é a de um estranho reconhecimento e a do total deslumbre. O
nosso Brasil teve amigos de sul a norte, grandes rodas de samba, de choro e
muito forrobodó.

Nunca a ideia de viajar de amigo e amigo foi tão bem
recebida e animada como no Brasil, e depois de um ano na procura de
amigos, ouvimos desta gente adocicada um reconfortante “podemos ser
vossos amigos?”.

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Este é apenas um resumo de algumas das viagens do projecto. Para todos os detalhes do dia-a-dia de 13 meses a viajar pelo mundo siga para o site oficial e Facebook

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