Fugas - Viagens

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    Vila Viçosa PAULO RICCA

Passear paisagens e monumentos alentejanos entre solavancos de adrenalina

Por Mara Gonçalves

O objectivo era claro: provar que a série X da BMW também serve para andar fora de estrada. Foi, por isso, um passeio de caminhos íngremes, buracos, riachos e lama, com o Alentejo saltitando à janela e muitas paragens em recintos megalíticos, castelos e adegas onde desentorpecer o corpo e o estômago.

Ao nosso lado estende-se um espelho de água, placidamente emoldurado por suaves montes, que as primeiras chuvas pintaram de verde vibrante, sob dezenas de sobreiros e azinheiras. Um manto de nuvens cobre este final de tarde, anunciando a chuva que correria noite fora e que traria mais lama ao último dia do BMW Explorer, evento que alia a condução fora de estrada à incursão turística e gastronómica na região onde é organizado (este no distrito de Évora). É sábado e o principal dia de actividades já vai longo.

Lá à frente, espera-nos o último troço de especial adrenalina do dia, que implica que avance um carro de cada vez, apertando a fila de espera que vai assim contornando o leito da barragem do Divor, no concelho de Arraiolos. Nada que desespere a caravana de 50 veículos da gama X da marca alemã: a paragem é a desculpa perfeita para sair do carro, devolver movimento ao corpo, tirar muitas fotografias na bucólica paisagem e medir a aventura das últimas horas nos desenhos enlameados que cobrem cada veículo.

Já é quase a nossa vez quando percebemos o que nos espera: um campo de lama, para acelerar e sentir o carro ganhar vontade própria. Sentimo-nos a escorregar em todos os sentidos, qual elefante numa pista de gelo, mas passamos com distinção. Houve quem não tivesse a mesma sorte (é a nossa primeira vez neste tipo de eventos, por isso, à inexperiência só lhe podemos chamar sorte) e tivesse afundado as rodas no barro movediço para ser depois prontamente rebocado pelo tractor que ali prestava assistência.

O socorro lamacento mais difícil ficaria para a manhã seguinte, quando o condutor de um modelo X5 emprestado por um concessionário descobriu da “pior maneira” que afinal conduzia um veículo sDrive: sem o sistema inteligente de tracção integral xDrive (que distribui a força do motor pelos eixos, tendo em conta as rodas com melhor ponto de contacto com o terreno em cada situação), viu-se atolado e a escorregar pela vala a cada ensaio de fuga. Depois de muitas indicações de bancada e tentativas de socorro por parte de outros participantes, entretanto parados sem possibilidade de ultrapassagem, foi ironicamente uma Nissan Patrol da organização a fazer o salvamento. Com vários veículos de assistência a acompanhar todo o trajecto, nunca ninguém foi deixado para trás e toda a comitiva chegou suja mas intacta ao final do percurso.

Desde 2010 que a BMW propõe iniciativas semelhantes aos clientes e entusiastas da gama todo-o-terreno da marca, com passeios de turismo aventureiro, mas este ano o foco na experiência de condução foi evidente, logo a começar pelo local escolhido. Pela primeira vez o evento desceu ao Alentejo, com o objectivo de usufruir das “condições espectaculares [da região] para o off road”, assumia a organização no primeiro briefing do evento. Também pela primeira vez, a marca criou troços específicos para as versões xDrive e sDrive, englobando assim no passeio toda a frota da gama X, com todos os modelos presentes. Foi, portanto, um fim-de-semana de adrenalina, com o corpo sacudido em horas de caminhos irregulares e apaziguado em rápidas visitas turísticas e bons momentos à mesa.

 

Pouco plano, este Alentejo

Depois da curta experiência nocturna de sexta-feira — para dar aos mais inexperientes um primeiro contacto com o terreno, as viaturas e o road book (guia indispensável para chegar a bom porto nestes dias) —, o sábado começou cedo pelos arredores de Évora, com base de operações e alojamento no Ecorkhotel. A manhã ainda se espreguiçava quando chegámos ao primeiro obstáculo, que iria pôr à prova a perícia dos condutores: no alto de um íngreme corta-fogo entre eucaliptos esperavam-nos covas largas e profundas, os veios serpenteantes de terra firme à medida dos pneus e da precisão atrás do volante.

Pouco depois, a primeira paragem turística, no cromeleque dos Almendres. Erguido há mais de sete mil anos, o maior recinto megalítico da Península Ibérica é constituído por uma centena de monólitos dispostos de forma elíptica, cinco deles decorados com motivos rupestres. Juntamente com o menir dos Almendres, que visitámos em seguida, o monumento do neolítico está classificado como Imóvel de Interesse Público pelo IGESPAR desde 1974. Mais alguns quilómetros e nova paragem, desta vez no mais pequeno cromeleque de Vale Maria, a relembrar que o distrito de Évora concentra um importante acervo megalítico, com mais de dez recintos, cem menires e quase oitocentas antas daquele período pré-histórico.

Atravessamos herdades e pequenas localidades de casas alvas, contornamos vinhas douradas, montados de sobreiros e azinheiras, prados verdes salpicados aqui e ali de vacas, cabras ou cavalos. A paisagem alentejana vai mostrando toda a sua diversidade, enquanto nós vamos descobrindo nos sulcos deixados por quem segue à frente os melhores caminhos para vencer o terreno. Subimos encostas íngremes e descemos valas profundas, galgamos riachos e pedras, fugimos a ramos e fazemos voar lama e água, como se pede nestes eventos. E quando corpo já reclama por descanso dos solavancos, surge nova pausa, ora turística ora gastronómica.

No Monte da Ravasqueira, o intervalo teve direito a três-em-um: almoço, visita à enorme colecção privada de carros de atrelagem (são dezenas de veículos dos séculos XVIII e XIX em exposição, de malas-postas a charretes, carros alentejanos e de caça) e uma “actividade de adrenalina”, para levar ainda mais longe as potencialidades do sistema xDrive. Depois da passagem pelo castelo de Arraiolos para uma das fotografias de grupo da praxe (a outra seria no dia seguinte de manhã, numa paragem encurtada pela chuva em frente ao templo romano de Évora), a tarde de sábado foi de novos percursos fora de estrada, com a surpresa do evento guardada para o jantar, já na adega Tiago Cabaço Wines.

Com o evento esgotado, foram precisos três autocarros para levar os 120 participantes a Estremoz, dando folga aos condutores e margem para experimentarem os vinhos da herdade. Depois de uma breve apresentação feita pelo produtor e ainda antes do jantar, deu-se o momento alto da noite, com a entrada triunfante do novo X6, ali apresentado pela primeira vez em Portugal. A segunda versão deste Sports Activity Coupé será “lançada ainda este ano e estará à venda no início de 2015”, anunciou Vasco Ramires, gestor de produto da BMW.

Apesar de a chuva ensombrar o último dia do evento, decorrido entre 10 e 12 de Outubro no distrito de Évora, o passeio fechou com chave de ouro na manhã de domingo. Muitos percursos de água e lama deram o toque final na pintura abstracta que deixou irreconhecível cada veículo, com paragens gastronómicas sobre vistas panorâmicas deslumbrantes, para um último travo do Alentejo. A primeira, com pão, queijo e enchidos, fez-se no moinho do Alcaide, onde as águas do rio Degebe caíam numa tranquila e pequena cascata. Na segunda, já em Reguengos de Monsaraz, despedimo-nos do evento e da região num almoço com os olhos postos no horizonte nostálgico e chuvoso que se desenhava nas janelas do restaurante da Herdade do Esporão. Não podíamos pedir melhor final.

A Fugas participou no BMW Explorer 2014 num BMW X5, cedido pela marca e a convite da mesma

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