Pensávamos que íamos começar cedo, muito cedo. E nove da manhã não é muito cedo. Nem sequer para o Inverno, que já está a correr para a Primavera. Não que se perceba, aqui na serra de Montemuro: a neve já veio e já se foi, mas o vento teima em baixar perigosamente as temperaturas. No dia anterior havíamos visto água congelada numa fonte nas Portas de Montemuro, uma espécie de instalação de gelo com laivos líquidos. Água é o que não falta por estas paragens, sob os nossos pés nasce o rio Bestança, dizem que um dos menos poluídos da Europa, que desagua 13 quilómetros à frente, depois de muito balancear entre os montes, depois de saltar rochas, depois de se abrir em poços. Daqui não vemos mas adivinhamos todo o caminho do Bestança da nascente até à foz, uma nesga de rio Douro no fundo do vale. O rio vive inteiramente em Cinfães, que já foi do Douro, mas parece ter-lhe virado as costas, pelo menos na toponímia. Aveloso, pelo contrário, tem o seu nome inscrito nesta região há séculos. E quando chegamos parece que há quase tantos se mantém igual. Uma ilusão que é também uma verdade. Mas, então, são nove horas em Aveloso e é Inverno.
Quando decidimos acompanhar a saída do rebanho estávamos preparados para madrugar. Mas a vida ajusta-se às estações do ano. São estas que comandam a vida de quem vive no campo, do campo, para o campo. Há coisas que nem a troca das juntas de bois por tractores, do moinho de água comunitário por moinhos eléctricos em cada casa podem mudar. Está marcada a saída do rebanho e de repente estamos rodeados de cabras, ovelhas e cães. Surgem de vários lados, das cortes onde passam a noite, e parece que sabem o que fazer. Começam a juntar-se num pequeno largo ao lado do da igreja, mas quando todos os animais estão reunidos já chegam diante desta. Nós já cá estávamos, com o senhor Abel, pastor empedernido com ar de Lenine suave. Hoje não sai com as vigias — são duas em Aveloso, mas saem juntas — porém vemo-lo bem cedo, foice na mão. Vem de cortar milho para os cabritos e segue para os campos, “botar água”, para preparar a sementeira do feijão. (“Aqui começamos tudo no final de Abril, lá em baixo é antes.”). A água é dividida por horas, explica, cada qual “bota” na sua hora: na altura do milho (a principal cultura nesta aldeia mais propícia à criação de gado — que o milho alimenta) o horário é cumprido escrupulosamente, por estes dias há mais liberdade, faz-se “consoante a área do terreno” — junto da bica da aldeia, há várias caleiras que são abertas e fechadas ao ritmo desta partição da água.
Talvez porque não é altura do milho, o que parecia ser pressa rapidamente passa a conversa — o que parece confirmar o que havíamos ouvido de Emília Viana, artista com casa em Ferreiros dos Tendais: os seus vizinhos têm sempre pressa, porém, ficam meia hora a conversar; e com direito a visita à sua casa, pedra integral, onde tem como vizinhos Santa Ana e São Joaquim, ou não vivesse diante da igreja. Parece a vizinhança apropriada para o senhor Abel: uma cruz recebe-nos, um pequeno quarto transborda de motivos religiosos. Poderíamos pensar que eram herança (ficou com a casa dos pais, onde sempre viveu) se não soubéssemos que todos os dias, ao final da tarde, ouve o terço na rádio (hoje será um relato de futebol a sair pela janela aberta). O pequeno rádio é, aparentemente, aliás, a única peça de tecnologia existente na casa, paredes escuras do fumo, negras na cozinha onde a grande lareira pendura presuntos alheios porque já há poucas lareiras assim na aldeia — e casas assim escuras, perceberemos, “agora é tudo branquinho”, como nos dirão Maria Elisa e Marfida, 82 e 85 anos, a tarde passada junto a outra lareira em cozinha “branquinha”, da cunhada da primeira.
Aveloso terá sido uma aldeia integralmente pétrea até há muito poucos anos, até que os seus homens começaram a emigrar atrás da construção civil e o dinheiro começou a entrar mais abundante. Obras nas casas antigas, uns poucos “prédios” novos, quase todos do mesmo lado da aldeia, o lado oposto àquele a que chega a estrada e um pouco mais encavalitado na serra. A aldeia tem crescido, mesmo que encolha o número de habitantes: na parte nova há casas amarelas, rosa, em tijolo cru, à espera da bonança; na parte antiga, que é Aveloso quase toda, casas de pedra, currais de pedra, ruínas de pedra e ruelas empedradas pejadas de bosta, algumas naturalmente interditas aos carros — para chegar ao lado novo da aldeia de carro há uma rua de terra batida, uma “circunvalação” por cima. Entretanto, alguns homens voltaram; outros voltaram e tornaram a sair; muitos estão cá e lá, com muitas horas de estrada pelo meio. É a mesma história por todo o concelho de Cinfães (e arredores). Há quem esteja na Suíça, Brasil, Togo, nos sítios mais insuspeitos, as mulheres nem sabem bem onde estão; há quem esteja em Espanha, e venha ao fim-de-semana, a meio da semana, sempre que calha — e às vezes Lamego é tão longe quanto o país vizinho: “Já estou habituada [a não ter o pai], mesmo quando trabalhava em Lamego dormia lá”, dirá Diana, nove anos, o pai a sair muitas vezes às duas da manhã para ir trabalhar do outro lado da fronteira.
“O monte não é fácil”
Diana já está na escola (a carrinha vem buscá-la e a dois companheiros “às 8h, 8h15, 8h20...”), quando a dona Dina começa a subir o monte com a vigia. É um pouco redundante dizê-lo: Aveloso fica no monte, numa plataforma aninhada mesmo abaixo do topo que a serra recorta aqui. Vista ao longe parece empoleirada, vista ao perto, das últimas curvas da estrada (que mesmo no topo passa para Castro Daire, o concelho vizinho), parece embutida na paisagem rarefeita. O arvoredo perde-se à medida que se sobe; em Aveloso é quase inexistente, brota aqui e ali nos lameiros que muros de xisto retalham como tapeçaria, e agora está despido, vendo-se quase como um rendilhado. Mas esses terraços como ondas verdes só os descortinamos assim quando estamos a pairar acima de Aveloso, num dos topos, que serão vários, das montanhas rapadas que nos envolvem, rochedos e eólicas.
Trepamos, então, além do casario, além da “dor mole no braço” de dona Dina. Deu um tombo, conta, e só pensa na roupa que tem para lavar, “que a máquina não lava tudo” — não lava, por exemplo, “as calças dos homens quando andam a limpar as cortes”. Não sabe quantos animais leva consigo, sabe que algumas fêmeas estão para parir e por isso têm uma coleira laranja. Andará sempre com um olho nesses e sobressaltada pelas ovelhas — “já não vejo nenhuma”, “são malinhas, malinhas”. Caminhamos pela estrada de terra batida “aberta pelas eólicas” enquanto o gado se dispersa nas bermas. É este que decide o caminho, os seus badalos são espanta-espíritos constantes, melodias quebradas a tempos pelos gritos da pastora, cajado a brandir no ar, “ai burra paneleira”. No início, há quatro anos, após a morte do cunhado, vinha “à toa com os animais”, agora não arrisca, quando está nevoeiro e chuva, vem um dos filhos, Beto, que hoje anda por Sobreda “a cortar silvas”. Preocupa-se quando o céu começa a nublar — no dia seguinte tem de sair com os animais outra vez, hoje está a fazer um dos dois dias que deve ao senhor Júlio. É assim que funcionam as vigias: há rotatividade com as saídas, uma escala feita de acordo com o número de animais que cada proprietário possui — quantos mais, mais vezes sai.
“Quase todas as famílias têm gado”, diz-nos o senhor Amado, “porque nesta aldeia precisa-se de viver e entreter com algo”. “Vem algum subsidiozinho, mas não se vive... E temos monte como pouca gente tem.” Ele próprio, que já passou tudo aos filhos, ficou com o gado — e na escuridão da loja da sua casa, a “da capela”, granito com ambições ancestrais solarengas onde serve “uns cafezinhos para as primas” (e somos nós), guarda seis cabritinhos. “Não é pelo lucro, é que estou habituado.” Quando pode, continua a levar o gado nas saídas, quando não pode paga ao senhor Abel. “Dirigir [o gado] é fácil, mas o frio, o vento... É preciso ir bem coberto para o monte, o monte não é fácil.”
“Um mundo grande, caraças”
A dona Dina sabe-o, traz várias camisolas, um corta-vento, gorro, galochas. “Agora temos de esperar [pelo gado]. É bom, cansa andar sempre. Uma vez trouxe roupa para costurar, não me deixaram fazer nada. Quando me sentei lá estavam eles do outro lado.” E, na verdade, não dura muito o descanso. E acaba a estrada para a dona Dina. “Se calhar tenho de ir lá acima. E as minhas botas escorregam muito.” Vai lá acima e continuará pelos montes “manchados”. “Fazem queimadas para depois chover e rebentar a erva. Mas são burros, agora não há nada.” Há cores pardas, castanhos e algum verde seco dos fetos, silvas muitas. Em algumas semanas tudo rebentará de cor, com a urze e as giestas a anunciarem a chegada da Primavera. E nessa altura Aveloso começa a sair da semi-hibernação: em final de Abril iniciam-se os trabalhos mais pesados nos campos, por agora é quase só manutenção e tomar conta dos animais: o rebanho, os cabritinhos e cordeiros que ficam nas cortes, as vacas (arouquesas) que quase todos possuem. A rotina de Maria Isaura Ferreira, fora de casa, por estes dias resume-se a deitar as vacas nos terrenos e a puxar água. “No Verão é que nunca se anda de mais.” Há tempo até para pequenos assombros, de uma das “antigas”, como aqui se referem aos mais velhos, que vem de um lameiro com um ramo de árvore, um apenas, delgado, para a lareira: caminha lentamente a mirar a paisagem como se fosse a primeira vez, “isto é que é um mundo grande, caraças”.
E de onde está o seu olhar não chega sequer ao Douro (que é a fronteira norte de Cinfães — a sul é a serra de Montemuro), está fechado por montes salpicados de aldeias, onde ainda se fala de lobisomens e de bruxas, embora já não se acredite, nos primeiros pelo menos. Só já não se o faz à noite, quando as aldeias se reuniam numa das casas, as mulheres a fiar lã, os homens a jogar cartas e as histórias a avolumarem-se como uma edição do Fantasporto, brinca Emília Viana, que recorda as suas férias de infância, na mesma casa multicentenária que agora lhe pertence no Lugar da Ribalapa (Ferreiros de Tendais), na aldeia onde todos se tratavam por tios porque, descobriu mais tarde, eram mesmo todos família, a sua — agora, moram cinco pessoas aí. Sete quando ela e o marido estão na Casa da Geada, também alojamento de turismo rural, que faz parte do Turismo Rural do Douro, uma rede de casas de turismo rural e restaurantes que abrange, além de Cinfães, Baião e Marco de Canaveses. É através desta, e dos seus dinamizadores, os irmãos Ângelo e Teresa Montenegro, que chegamos aqui e que saímos a “pastorear” — é um dos vários programas com que tentam dinamizar a região.
E esta tem fama de ser das mais pobres do país. Mas quem vive em Cinfães não se convence. Há trabalhos, inclusive o emigrante, que não entram nas estatísticas. “E veja que temos três bancos”, dizem-nos. Não falta comida a ninguém, ao contrário de outros tempos, o que falta é solidariedade, repetem-nos em diversas paragens, até no meio da estrada, a chegar a Pimeirô, interrompida pelo rebanho conduzido por José Castro, “pastor efectivo” da cooperativa Senhora da Serra. Em Aveloso não nos falam disso, embora muitos dos hábitos comunitários se tenham perdido — por exemplo, a eira está quase abandonada, os espigueiros graníticos alguns em ruínas, outros remendados com chapa em vez de telhas. Em compensação, um pouco mais abaixo, como se na transição informal entre a velha e a nova aldeia (a eira já foi “engolida” pela construção), o tanque ainda serve a comunidade — não vemos lá ninguém mas está um tapete verde e amarelo a corar e há baldes com roupa.
“Espantaram-se todos”
A hora de almoço no monte é ao meio-dia. Às vezes, dona Dina traz merenda e nem a come (“arrelia-me tanto o gado”), outras vezes tem de comer a caminhar; hoje os animais decidiram abrandar na zona do “marco”, uma rocha erguida no centro de um círculo de pedras cobertas de vegetação. Pode ser uma herança megalítica, a região era povoada nessa época, mas disso nada sabe. Não tem, sequer, a certeza de que esteve sempre neste sítio o marco. “Já me confundo.” Pensa que estava uns metros mais ao lado, na órbita de uma eólica — uma das muitas que preenchem os cumes todos em redor, como uma via crúcis infinita. Sabe que elas produzem electricidade, mas ela até tem duas televisões por ligar em casa, “faltam-lhes uma caixa”. De qualquer forma, os seus dias terminam cedo, às nove da noite está na cama. “Não tenho lenha para bastar.” Aproveita para rezar, também o faz ao levantar-se, claro. “Não sou nenhuma Jeová.” À missa, que acontece uma vez por semana em Aveloso, é que nem sempre vai, depende se tem tempo.
Hoje tem tempo de pousar a mochila numa rocha, sem tirar os olhos dos animais — há uma ravina já aqui a que é preciso estar atenta e ao fundo vê-se Espinho, à beira-mar: “Nunca fui lá para abaixo, andam para lá os lobos” —, e comer com a tranquilidade possível. Não se senta, mas come um bom almoço. “Trouxe o que sobrou do Entrudo, ontem foi peixe, não se podia comer carne.” Há salpicão, nacos de carne e bacalhau, um iogurte grego, gelatina, “buche” de manteiga — e a acompanhar vinho maduro (“não faz tão mal”) com 7Up (“já só consigo beber assim”).
Não é a única, diz. Quando a mercearia “chega” à aldeia, há muita saída de 7Up. Confunde-se com os dias em que chegam o peixe, a carne, as mercearias e o padeiro, mas este, pelo menos, vem muitas vezes. Maria Isaura diz-nos que, por vezes, vêm três no mesmo dia. Por isso, já quase ninguém coze pão — e os novos gostam mais de trigo. “Antigamente, quando se cozia pão era dia de festa. Só cantar, rir e quando saía do forno comíamos quentinho. Era a devoção das aldeias”, conta Maria Isaura. Outros tempos. “Por um lado a vida era mais dura, não havia fartura, mas era alegre. Penso muito nisso.”
Maria Isaura gostava de voltar ao tempo da “lavoeira”, quando os campos, cheios de gente, eram trabalhados com os arados e todos falavam de um lado para o outro. Ou ao tempo da “podoeira”, quando se competia pelo corte mais sonoro. Havia muita juventude. “Aqui até é onde há mais jovens... Mas depois destes...” “Estes” já são da geração dos que “seguem os estudos”. Os seus filhos são exemplo disso: um é arquitecto, outro sociólogo e o outro foi para a Suíça, de onde o marido veio com pré-reforma. “Espantaram-se todos.” Maria de Lurdes também espera que se “espantem os seus” — “Se tudo correr bem, a minha filha é a próxima a sair”.
Todos aqui conhecem a história da aldeia da Levada, do outro lado do monte, em Castro Daire. “Tem ribeiro e era terra muito produtiva, fica numa baixinha, muito quentinha”, descreve Maria Isaura. Está abandonada há mais de 15 anos, garantem. Agora é ponto de passagem de vários percursos pedestres e até tem uma placa nova com o mapa das suas cinco ruas. O som da água é omnipresente, é o silêncio de Levadas onde o tempo não parou, simplesmente deixou de existir, abandonou estas paragens.
Mas a Aveloso até chega gente, lisboetas de gema, para ficar. O ti Fernando decidiu vir há sete anos, a mulher é daqui. “E consegues estar lá?”, perguntou-lhe ela. “Se estive em Espanha e em sítios piores”, respondeu. “E não saio daqui. Gosto da camaradagem, da brincadeira.” Tem 62 anos, a mulher 82, a sogra morreu há um ano com 101. “Não trabalho nada”, diz ele, “passeio, falo, ajudo com o milho e a batata, agora no Inverno fico à lareira, à janela.” E nós acercamo-nos da lareira de Maria Isaura, onde estão Maria Elisa e Marfida, para um cafezinho, enquanto na rua uma série de vizinhos encostam-se às paredes, sentam-se em escadas e aproveitam o sol da tarde em amena cavaqueira. “A crise não chegou aqui”, dizem-nos, “o problema é o trabalho para os jovens”. “Estudam e não arranjam colocação.”
“Dê um [cordeiro], avó”
Lá em cima, “merenda comida, companhia desfeita”. A dona Dina já está mais tranquila com os animais marcados para dar à luz, “elas não devem parir, andam com o úbere mole”. Contudo, parece que querem caminhar mais, já sobem a encosta seguinte. “Ai que vão para a Malhada Nova do Boi”, queixa-se. As eólicas têm lá uma casa, conta, têm muito dinheiro a enferrujar. Ela não. “Os euros estragaram tudo. Com 500 escudos comprava um ror de coisas. Então com 10 contos... Mas 50 euros é o que eu pago de luz.” E ainda tem de ir a Cinfães. “Já não há camioneta às dez horas. Só às oito, é muito cedo, temos outras coisas a fazer. Só vou às 13h45, perco a tarde.” Mas com sorte ainda vê uma das filhas, pelo menos, que por lá trabalha no Intermarché: são cinco, mais dois rapazes, sete netos e um companheiro na prisão (e uma história confusa).
Aldina, que um enfarte deixou apenas a fazer “trabalhos leves”, dá biberão aos cabritinhos e cordeiros, amarelos, brancos, negros, três vezes ao dia. À noite, havia dito, não faltam ajudantes: os miúdos chegam da escola e querem todos fazê-lo. É às 18h, mais coisa menos coisa, que a carrinha negra chega. Diana, Rodrigo e Micael vêm da escola do 1.º ciclo de Meridãos — os mais velhos, sete, vêm de Cinfães, chegam mais tarde. Rodrigo e Micael são primos e netos de Aldina. Impacientam-se com a conversa: Micael quer ir ver os animais, Rodrigo quer mostrar-nos o Gigante, o cão da avó que é um dos cães-pastores da aldeia. Andou todo o dia no monte, com mais quatro cães, a guardar o rebanho, que chega agora. Tarde para as contas que a dona Dina havia feito. “Não é que eles quiseram ir até ao São Pedro?”, exclama quando faz a entrada na aldeia. Tinha-nos dito que não ia para esses lados, uns montes mais adiante, onde há uma igreja e parque de piqueniques; no Verão vai sempre, no Inverno os dias são demasiado curtos. Pelos vistos, este não.
Aveloso está, de repente, em rebuliço, com o rebanho a passar e a recolher-se nas suas cortes. Como sabem para onde ir? É coisa que não se pergunta. Sabem, simplesmente. Os filhos saem, para mamar, e os miúdos rodeiam-nos. Rodrigo insiste com a avó. “Dê um [cordeiro].” A avó ri-se. “Por que não dás o teu?” É igual ao pai, conta, que quando andava na escola primária decidiu que queria dar um cordeiro às duas professoras. Rodrigo tem cinco computadores em casa, anda com um telemóvel no bolso, como o primo e Diana. Já sabemos que às vezes é preciso mudar algo para que tudo fique igual. Mas também sabemos, como diz Maria Hermínia, que “as coisas vão acabando, não há nada que dure para sempre”.