Fugas - Viagens

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    Amendoeiras em flor em Trás- -os-Montes Paulo Ricca

Portugal, esse grande jardim

Por Mara Gonçalves

Por fim, Primavera. Para celebrar a Fugas propõe um roteiro por alguns locais em Portugal onde a estação tem um encanto especial.

Parque Nacional da Peneda-Gerês
Excelência natural única

Foi a primeira área protegida criada em Portugal e é desde 1971 a única com estatuto de parque nacional, também classificada como Reserva da Biosfera pela UNESCO, desde 2009, em conjunto com o parque espanhol do Xurês. Predicados de excelência natural que, por si só, já lhe concederiam a entrada nesta lista sugestiva, não fosse pintar-se de particular encanto na Primavera. O frio gélido do Inverno começa a dissipar-se por entre os debruados de cinzento-granítico e o manto verde vai ganhando não só uma intensidade revigorante como cedendo espaço a novas cores, com especial destaque para os tapetes amarelos de tojo, carqueja e giesta e para o púrpura da urze e, mais tarde, do raro lírio-do-gerês. É também por esta altura que os garranos, pequenos cavalos selvagens, dão à luz e cedo as crias acompanham a progenitora e respectiva manada em busca de alimento, enquanto as fêmeas de lobo ibérico já deverão patrulhar o território em busca do lugar ideal para ter a sua prole, no início do Verão. 

Além do património natural, a (re)descoberta dos antigos caminhos da transumância revestem-se de particular interesse, pois o começo da Primavera marcaria igualmente a deslocação das populações entre as inverneiras — aldeias em vales abrigados — e as brandas — povoações a maior altitude, onde passariam a maior parte do ano, geralmente já incluindo a Páscoa, com melhores condições para as sementeiras e pasto do gado. 

Parque da Cidade do Porto
Descontrair no maior parque urbano do país

Nasceu a dois tempos — inaugurado em 1993 e finalizado em 2002, com a construção da Frente Marítima — mas cedo o projecto de Sidónio Pardal conquistou o coração da Invicta, que há muito pedia um amplo jardim onde abraçar cada raio de sol. São 83 hectares de verde — estendidos num triângulo entre o final da Avenida da Boavista, a Estrada da Circunvalação e o Castelo do Queijo, já de olhos no Atlântico —, onde os relvados vão ondulando o horizonte, serpenteados por cerca de dez quilómetros de caminhos pedestres e várias dezenas de milhares de árvores, entre as quais se destacam pinheiros e eucaliptos, que perfumam os recantos criados e ajudam a mergulhar em silêncio o bulício da cidade. Aqui e ali espraia-se um lânguido lago, o espelho de água com vida: patos bravos, cisnes, gansos, galinhas de água, peixes, sapos, rãs. A partir de Abril, o horário alarga-se até às 24h e, de 4 a 6 de Junho, o Primavera Sound promete voltar a celebrar os últimos cartuchos da estação com muita música a abrir a época dos festivais.

Amendoeiras em flor
Os últimos mantos brancos do ano

Cerca de um mês antes do início da Primavera, as amendoeiras começam a vestir-se em tons de branco e rosa claro, como que prenunciando a chegada da estação florida. Um pouco por todo o país, as árvores vão surgindo nos seus vestidos de noiva bordados, mas é sobretudo no barrocal algarvio (mais cedo) e nos vales do Douro (geralmente as últimas a perder as flores) que se derramam num manto frondoso, proporcionando panorâmicas únicas. É certo que por esta altura já não estarão no seu auge, mas ainda deverá ser possível despedirmo-nos deste fenómeno natural pelas serranias do Douro e Trás-os-Montes, onde desde meados de Fevereiro se celebra a Rota das Amendoeiras. As festividades — que tiveram o seu expoente máximo na Festa da Amendoeira em Flor e dos Patrimónios Mundiais, em Vila Nova de Foz Côa — terminam este fim-de-semana, com o encerramento da Feira Medieval em Torre de Moncorvo e da Feira Franca dos Produtos da Terra em Mogadouro (amanhã há por aqui ainda a prova de atletismo Trilhos de Mogadouro e uma caminhada pedestre pelo concelho, entre outras iniciativas). Até 30 de Abril, o auditório do Museu do Ferro e da Região de Moncorvo apresenta a exposição fotográfica Em Redor da Amêndoa e do Ferro.

Parque Natural das serras de Aire e Candeeiros
No encalço das orquídeas selvagens 

É a mais importante zona calcária do país, abrangendo o essencial do Maciço Calcário Estremenho, e foi essa a principal razão para a classificação como parque natural em 1979 e é, hoje, o grande motivo de incursão turística pela região comprimida entre as duas serras. No entanto, a paisagem vai-se compondo tanto de rochedos esculpidos como de uma diversidade florística digna de assinalar: cerca de 600 espécies de plantas habitam o parque, representando um quinto do total existente em Portugal, entre elas 27 espécies de orquídeas selvagens, cerca de 50% das orquídeas autóctones nacionais. É no princípio da Primavera que a maioria floresce, desenhando os seus complexos contornos de cores exuberantes um pouco por todo o parque, nomeadamente nas zonas da serra da Lua, Alvados, Arrimal ou Lapa dos Pocilgões. Há cachos de orquídeas-piramidal, orchis mascula ou erva-do-salepo, encontram-se as formas e nomes extravagantes da orchis itálica (conhecida como flor do homem nu ou dos macaquinhos dependurados), da erva-abelha e da flor-dos-passarinhos ou as mais raras dactylorhiza insularisorchis collinaophrys atrata e ophrys dyris.

Óbidos, vila florida

Em 1282, D. Dinis doou a vila de Óbidos — conquistada aos mouros em 1148 por D. Afonso Henriques — à sua futura esposa, rainha Santa Isabel, como presente de casamento. Desde então, a localidade e as terras em redor passaram a fazer parte do dote de todas as rainhas de Portugal, até 1883. Não será, por isso, de estranhar que a vila — envolvida num abraço de muralhas medievais e coroada pelo castelo — seja considerada não só umas das mais românticas, como uma das mais floridas do país.

As ruas tortuosas de paralelepípedos vão sendo ladeadas de pequenas casas caiadas de branco, debruadas ora de azul, ora de amarelo, algumas com vãos e janelas manuelinas, quase todas com telhas de barro e decoradas com vasos de flores e plantas trepadeiras, que na Primavera vibram de cor e aroma. As mais emblemáticas são as buganvílias, com o seu rosa-vivo, mas também se derramam pelas paredes alvas madressilvas, gerânios e glicínias, entre outras.

As Festas da Semana Santa, durante as quais são recriados os passos da via Sacra com procissões entre 30 de Março e 5 de Abril, e o popular Festival do Chocolate, de 16 de Abril a 3 de Maio, são razões extra para uma visita nos próximos meses. 

Parque Natural do Tejo Internacional
Observar as aves da estação

O Tejo vai delineando as fronteiras de Portugal e Espanha nos confins da Beira Baixa, desenhando com os afluentes Erges e Ponsul os contornos do parque natural. Na Primavera, as cores pardas que caracterizam o mato rasteiro, as azinheiras e os sobreiros que vão galgando as ondulações do terreno ganham novas matizes: o branco das estevas e das giestas, o rosa da urze e da rosa-albardeira, o roxo perfumado das planícies de rosmaninho. É nesta altura que o parque — onde coabitam 154 espécies de aves, 44 de mamíferos, 15 de anfíbios, 20 de répteis, 12 de peixes e 153 de insectos, segundo contabilizações do site do Turismo de Portugal — se torna uma importante área de nidificação de aves, nomeadamente da rara cegonha-preta, que aqui permanece até Setembro, e do abutre-do-egipto. As zonas de montado são ainda palco de reprodução e alimentação de várias espécies protegidas, como a águia de bonelli e o abutre-negro. Na aldeia de Rosmaninhal, uma colónia de andorinha-dos-beirais traz no dorso negro e ventre alvo o anúncio mais emblemático da estação.

Cerca da Graça
Há um novo jardim urbano em Lisboa

Deverá chegar já em meados da estação, com inauguração prometida entre final de Abril e início de Maio, mas será certamente a principal novidade no âmbito dos espaços verdes da cidade e a mais aguardada, uma vez que o seu nascimento tem sido sucessivamente adiado desde a aprovação do projecto, em 2009.  

O novo jardim, com quase dois hectares, resulta de uma parceria entre a autarquia de Lisboa e o Ministério da Defesa para a transformação da cerca do antigo Convento da Graça num espaço público de acesso livre. Terá três entradas — uma junto ao Caracol da Graça, outra na Calçada do Monte e a terceira na Rua Damasceno Monteiro — e será constituído por um pomar, um parque infantil, uma zona de merendas e um quiosque com esplanada, além de relvados e miradouros. Enfaixado entre o cume da Graça e o casario da Mouraria, o Jardim da Cerca da Graça promete nova varanda privilegiada sobre a cidade e o Tejo.  

Uma das principais razões para o adiamento da conclusão dos trabalhos, que só foram iniciados em 2013, foi a descoberta de dezenas de ossadas, ainda por apurar se estão relacionadas com o terramoto de 1755 ou com a peste. 

Jardim Botânico de Lisboa
O despertar das borboletas 

O primeiro dia da Primavera marca igualmente a reabertura do Borboletário do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em pleno Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Inaugurado em 2006, o Borboletário foi a primeira estufa de criação de borboletas da fauna ibérica aberta ao público, compondo-se de um jardim de plantas mediterrânicas onde podem ser observadas as diversas fases do ciclo de vida da borboleta.  

Com a chegada da Primavera, várias espécies começam a ensaiar os delicados voos que animarão os próximos meses deste recanto na capital. Entre as borboletas que aqui se poderão encontrar estão a borboleta-grande-pavão-nocturno (a maior da Europa), a borboleta-cauda-de-andorinha, a borboleta-monarca, a borboleta-malhadinha, a borboleta almirante-vermelho, a borboleta-cleópatra ou a carnaval.

O Jardim Botânico, que desce majestoso a colina desde o Príncipe Real até ao antigo Parque Mayer, complementa a visita, com a sua grande diversidade de palmeiras, raras cicadáceas e espécies tropicais originárias da Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul, entre diferentes níveis e recantos. 

Festa da Flor da Madeira
Celebrar a chegada da Primavera 

É um dos eventos mais marcantes da Madeira e celebra, precisamente, a chegada da Primavera, que no clima subtropical da ilha se pinta de especial exuberância de cores, formas e aromas. Este ano, a Festa da Flor decorre entre 16 e 22 de Abril, mas como habitualmente é no fim-de-semana que desfilam os dois pontos-altos do festejo. No sábado de manhã tem lugar o Cortejo Infantil, durante o qual centenas de crianças percorrem as ruas até à Praça do Município para ali deixar uma flor, compondo o Muro da Esperança, numa iniciativa de apelo à paz mundial. Já na tarde de domingo, o Cortejo Alegórico da Flor traz um carnaval de carros e figurantes trajados a preceito, compondo um jardim dançante e florido ao longo das ruas da cidade.

Paralelamente, o Ateneu Comercial do Funchal recebe uma exposição de flores, que nasceu nos anos 1950 e mais tarde daria origem à Festa, enquanto no Largo da Restauração o mercado vende as várias espécies que se podem encontrar na ilha. Na Avenida Arriaga, os tapetes de flores criados para a ocasião homenageiam esta antiga tradição regional. 

Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
Entre os aromas a serra e a mar 

O parque, criado em 1988, vai descendo o dorso robusto deste canto do continente, ao longo de 110 quilómetros de costa, desde a ribeira da Junqueira, em São Torpes, até à praia de Burgau, em Vila do Bispo, já cruzado o cotovelo de Sagres. São quase 130 mil hectares de área total, repartida entre o mar agreste, arribas escarpadas, falésias abruptas, pequenas linhas de areia e extensas praias, cabos, estuários, charnecas, sapais, profundos barrancos e pequenos serros, onde nascem cerca de 750 espécies de plantas, entre elas 100 endémicas, raras ou localizadas e 12 que não existem em mais local nenhum do mundo, como a biscutella vicentina, a cistus palhinhaea (esteva-de-Sagres), a centaurea vicentina ou a diplotaxis vicentina, cujas flores desabrocham ao longo da Primavera e vão rimando as cores coloridas com os aromas quentes do pinheiro, do eucalipto, do rosmaninho, da esteva, do poejo e dos tomilhos.  

Entre o perfume da serra e o cheiro salgado do mar, os caminhos pedestres (incluindo a comprida Rota Vicentina) vão-se sucedendo e permitindo descobrir ainda algumas das aves que aqui nidificam, como a águia-pesqueira (última zona na Península Ibérica), o falcão-peregrino (o animal mais rápido do mundo), a rara gralha-de-bico-vermelho e a cegonha-branca, que aqui constrói os ninhos sobre os rochedos marítimos, único local do mundo onde se conhece este comportamento. É ainda a única zona de Portugal e uma das últimas da Europa onde se encontram lontras em habitat marítimo. 

Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António 
A primeira reserva natural do país 

No sobranceiro castelo de Castro Marim abrem-se as vistas sobre a vila, em anel circundante, as serras que lhe sobem as costas e, defronte, o rio Guadiana, banhado pelos canais da reserva natural, a primeira a receber tal classificação, em 1975. Ao longo do rio, que ali separa Portugal da vizinha espanhola Ayamonte, é um complexo rendilhado de sapais, salinas, estuário, pastagens, charcos e esteiras. O monótono bicolor de verde e castanho-claro enfeita-se na Primavera com o vermelho do mesembryanthemum nodiflorum, que cobre os taludes das salinas, cuja água salgada vai correndo o arco-irís em reflexos e perspectivas. Protegida dos aglomerados turísticos, é uma das paisagens mais bem preservadas do Algarve, convidando a passeios prolongados, a pé ou até de barco pelo fronteiriço Guadiana. A diversidade de aves é nesta altura menor, mas ainda assim nidificam aqui algumas espécies aquáticas, como o borrelho-de-coleira-interrompida, o pernilongo (símbolo da reserva), o alfaiate ou a andorinha-do-mar-anã.

De 11 a 19 de Abril, decorre pela primeira vez a Algarve Nature Week, para celebrar e promover o turismo de natureza na região, com dezenas de propostas de actividades de natureza e unidades de alojamento, que terão em amostra no Parque Ribeirinho de Faro no último fim-de-semana.

Parque Terra Nostra, São Miguel, Açores 
Um dos jardins mais notáveis do mundo

Esta Primavera será marcada sobretudo pela chegada das companhias aéreas de baixo custo a Ponta Delgada, com a easyJet a aterrar no final de Março e a Ryanair em Abril. Com os novos voos cresce a promessa de muitos turistas a calcorrear a ilha de São Miguel, que nesta altura floresce de hortênsias a pintalgar a paisagem verdejante de novelões em tons pastel. São muitas as razões para justificar uma visita, mas destacamos o Parque Terra Nostra, um dos cinco jardins portugueses recentemente incluídos no livro The Gardener’s Garden, uma colectânea sobre os 250 jardins mais notáveis do mundo. O parque, encaixado no Vale das Furnas, foi ali criado há mais de 200 anos por Thomas Hicling, em 1775, e é hoje gerido pelo grupo Bensaúde, que detém o hotel adjacente. Entre milhares de exemplares de árvores, arbustos e flores, encontram-se o Jardim da Flora Endémica e Nativa dos Açores e uma extensa colecção de camélias, entre 600 exemplares de diferentes espécies e cultivares, que ganham especial colorido nos meses da Primavera.

O primeiro fim-de-semana de Maio marca ainda o regresso de Festa da Flor ao concelho de Ribeira Grande, após vários anos de interregno.

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