Risos histéricos, olhinhos a catrapiscar, uma vontade incontrolável de unir a própria voz ao coro. Não, não se trata da reacção espontânea de todas as crianças assim que Elsa pisa o palco naquele que é o espectáculo que promete fazer furor este Verão na Disneyland Paris. Ou melhor, não é apenas a reacção espontânea de todas as crianças.
No Chaparral Theatre, entre uma plateia apinhada, o encantamento é transversal a todas idades e géneros. Avôs e avós, pais e mães, filhos e filhas, netos e netas. A razão, explicam-nos, talvez resida no facto de toda a gente encontrar no filme Frozen: O Reino do Gelo alguma personagem com quem se identificar. Seja o sonhador Olaf, o boneco de neve que anseia conhecer o calor; a doce e ingénua, mas temerária, Anna, capaz de atravessar tempestades para resgatar a irmã; ou o solitário e duro, mas bondoso, Kristoff.
Mas se há uma personagem à qual ninguém escapa incólume é a Rainha do Gelo. Não estivéssemos nós numa terra mágica, a princesa Elsa traz consigo flocos de neve que flutuam e caem sobre as nossas cabeças, cumprindo a promessa da Disney de oferecer este ano aos seus visitantes um Verão alegremente refrescante.
Elsa, que inicialmente era para ser a vilã do filme — seria o tema premiado com o Óscar Let it go que acabaria por ditar a reviravolta na trama, transformando a vilã numa vítima dos seus poderes —, acabou por usurpar todo o protagonismo a Anna. No filme e agora no espectáculo no qual a irmã mais nova reúne os amigos para fazer uma surpresa à sua querida Elsa. Mas é quando esta chega que se tem a sensação que o show verdadeiramente começou.
Ao mesmo tempo que os primeiros acordes de Let it go se ouvem, até os mais resistentes parecem alinhar com este Frozen Sing-along, que mistura cenas do filme, personagens reais e um espectáculo de karaoke, com as letras a passarem pelos ecrãs em inglês, francês e castelhano. Nada que fosse indispensável. Todos parecem saber de cor e salteado as músicas do filme recém-adoptado pelo parque de diversão parisiense e cujo sucesso é até objecto de estudo académico. E, quando o refrão sobe de tom, a sala parece explodir: “Here I stand / And here I’ll stay”.
Princesas, mas não muito
A história de Frozen começa quando Elsa e Anna ainda são muito jovens. Sendo ambas princesas do reino de Arendelle, aproveitam todas as oportunidades para brincarem juntas. Mas Elsa tem poderes sobre o gelo que não consegue controlar e, sem querer, coloca a vida da irmã mais nova em perigo. Começa aí o afastamento das duas princesas e o crescimento de ambas é marcado pela mágoa de não se terem uma à outra, sem que Anna desconfie sequer da razão pela qual Elsa se mantém fechada no seu quarto.
E aqui reside uma das novidades deste filme Disney: apesar de ao longo da história se desenvolverem sentimentos românticos, a verdadeira história de amor está na relação das duas irmãs. As inovações não se ficam por aí e estendem-se à forma como a Disney concebeu estas duas princesas: são lindas como todas as outras, mas mostram uma capacidade de adaptação imensurável a todo o tipo de situações e destreza para não precisarem de nenhum príncipe que as “salve”. A fórmula não só não afastou o público feminino fã das princesas, como acabou por conquistar uma larga fatia de rapazes que, pelos parques, não resistiram a “vestir” o papel de Olaf.
Todos os ingredientes juntos poderão ajudar a entender a razão pela qual Frozen se mantenha, dois anos após a sua estreia, no top-10 dos filmes com mais bilhetes de cinema vendidos de todos os tempos em todo o mundo (actualmente está em 7.º lugar). E a razão que justifica que tenha tomado todo o parque parisiense de assalto. Até o meu próprio quarto, no Sequoia Lodge, onde a minha filha de dez anos, e já com alguns trejeitos irritantes de pré-adolescente, não resiste a assumir a infância por mais uns dias e transformar-se numa Elsa. Mesmo que o número maior do vestido azul celestial — na Disney não se comercializam fatos para adultos para não estragar a magia em torno dos personagens fantásticos que animam os parques — já quase não lhe sirva.
Não é só ao meu lado que há uma Elsa encantada. Por todo o lado avistam-se Elsas e Olafs a entrarem em grutas, a descerem montanhas-russas, a percorrerem todos os carrosséis. Mas sobretudo junto ao Chaparral Theatre, onde foi recriado o ambiente de um mercado do reino de Arendelle. Aqui, há guloseimas criadas a preceito tendo por base os ambientes gelados do filme — em dias quentes é de não dispensar o granizado servido num copo gigante Frozen —, uma loja cheiinha de fatos de todos os personagens do filme (“O da Elsa, azul celeste e repleto de detalhes prateados, é de longe o mais procurado”, garantem-nos) e uma casinha onde não só se pode optar por uma pintura facial alusiva ao filme como no fim tirar uma fotografia com o cenário de Frozen como pano de fundo. É a cereja no topo.
De terra em terra
Há quem vá à Disneyland Paris uma vez na vida e não queira voltar. Mas também há quem não perca uma oportunidade para reviver todas as emoções. É que até mesmo as atracções originais continuam, garantem-nos logo à chegada, a ter o mesmo encanto de sempre. Facto que não posso corroborar: tanto para mim como para a minha filha em dia de síndrome Peter Pan trata-se de uma estreia absoluta. Por isso, até as atracções mais “gastas” nos arrancam esgares de espanto, gritos assustadores e risadas bem audíveis.
Uma das tais atracções intemporais pode ser encontrada na Frontierland e trata-se de uma viagem ao tempo dos piratas, em que até o trajecto que se percorre para a embarcação (as carruagens rolam na água) nos envolve num ambiente negro e fétido. Os sons e a humidade ajudam a tornar mais real o cenário, enquanto vamos passando por um barco naufragado. Até começarmos a subir — e, claro, tudo o que sobe tem de descer. Mas já lá vamos. Ouvem-se cânticos piratas, vêem-se sombras a encetarem lutas, prisioneiros à procura de uma fuga, boémios, mulheres embriagadas e soldados. Até que chega a descida: com alguma emoção, mas perfeitamente aceitável até para o ser mais medroso.
Deixamo-nos ficar mais um pouco na Frontierland para emoções um pouco mais acesas na Big Thunder Mountain: apesar do meu pânico só ao olhar para uma montanha-russa, acedi em tentar. E a rápida fila à qual acedemos com o FastPass não deu tempo para desistir. A primeira metade do caminho foi feita de olhos fechados (como, aliás e infelizmente, atesta a fotografia captada pela própria Disney) e a controlar o pânico. Até porque, pior que as descidas ou as curvas apertadas, as subidas ao som de dinamite a rebentar (estamos numa mina, certo?) são de nos deixar os nervos em franja. Resultado? No dia a seguir não resisti em voltar: faltava-me ver a outra metade do caminho. É que, mesmo com medo, a Big Thunder Mountain é pura diversão. E, mais que gritos, soam gargalhadas, com toda a gente a sair dos vagões com um ar muito bem-disposto.
O mesmo já não posso atestar sobre a montanha-russa dedicada a Indiana Jones, na Adventureland, decorada com achados arqueológicos. Aqui, deixei-me ficar em terra para tirar a fotografia da minha filha — felizmente, não saiu à mãe — e amigos a divertirem-se em descidas vertiginosas e loopings de arrepiar.
Doces ou sustos?
De divertimento em divertimento, chega por fim a nossa hora de ir conhecer a Casa Fantasma (Phantom Manor). Por aqui é estritamente proibido fechar os olhos. Cada detalhe vale a pena ser apreciado, com a mansão a encerrar um conjunto de efeitos cénicos e especiais muito bem conseguidos. Mais que assolados pelo medo, é-se pelo espanto — e o difícil é apanhar todos os pormenores desta casa. E desta história. Claro que ninguém escapa a um susto ou outro. E, sem querer desvendar muito, é caso para dizer: cuidado com a caveira.
Do lado oposto do parque aguarda-nos outro tipo de tentação: a doçura de alguns divertimentos que nunca expiram a validade. É a terra dos contos de fadas e podemos começar logo por um bem emblemático, com uma visita ao castelo da Bela Adormecida, onde se percorre uma das histórias clássicas, com direito até a ouvir o ressonar dos guardas. Sob o castelo, esconde-se Malévola, transformada num horrível dragão, cujos sons e fumo são suficientes para assustar os mais pequenitos. Outros sustos aguardam-nos junto da Branca de Neve. Já na viagem de Peter Pan à Terra do Nunca, num delicioso voo nocturno, deixamos quaisquer receios à porta. A atracção, que continua a somar visitantes ansiosos por avistar as luzes de Londres em ponto pequenino e que ao longo dos anos foi sendo renovada e adaptada, é uma das poucas que inaugurou em 1955, por altura da abertura do primeiro parque Disney, em Los Angeles, que se mantém em funções nos dias de hoje.
Prosseguimos estas descobertas cheias de ternura e damos por nós no pequeno cruzeiro It’s a Small World, em que centenas de bonecos estilizados representam nacionalidades dos quatro cantos do mundo (é escusado procurar por Portugal). Apesar da falha, é absolutamente imperdível e a música (assim como a mensagem) promete ficar no ouvido.
Pela Fantasyland, há ainda lugar para nos perdermos pelo labirinto do País das Maravilhas, para apanharmos as mentiras de Pinóquio ou para sairmos a rodopiar das chávenas do Chapeleiro Louco.
É quase aos trambolhões que conseguimos chegar a tempo de assistir a um dos momentos mais mágicos do parque: o Desfile Disney, que parece fazer com que o tempo congele. Personagem a personagem, cena a cena, carro alegórico a carro alegórico, todo o universo de Walt Disney passa por nós, interagindo com quem se encosta às cordas que marcam a fronteira entre nós e o sonho para arrancar um beijinho a uma princesa ou uma gargalhada desdentada a um pirata. Não esquecer de pedir um desejo à passagem das fadas madrinhas que abrem caminho à carruagem que traz a bela princesa Aurora já desperta com o beijo do verdadeiro amor. Seguem-se a Branca de Neve e, para gáudio de todos, um deslumbrante carro alegórico a representar uma montanha gelada com as manas-sensação Elsa e Anna. Rei Leão, Pinóquio, Alice no País das Maravilhas — cuidado que a Rainha de Copas vem mal-humorada —, Livro da Selva, Toy Story, Peter Pan. Para o fim fica guardada a trupe de personagens sem as quais a Disney não seria a mesma: Mickey, Minnie, Donald, Tico e Teco.
Com os níveis de doçura bem atestados, é altura de juntar um pouco de acção à receita. Pela Discoveryland, embarcamos numa missão que nos é confiada pelo próprio do Buzz Lightyear e percorremos um labirinto aos tiros contra extra-terrestres. Já na Star Tours, onde nos sentimos verdadeiros turistas do espaço, embarcamos numa viagem pelo espaço a bordo de um simulador. O problema: como piloto calhou-nos um desastrado robot que nos leva pelos caminhos mais acidentados com direito a um ou outro friozinho na barriga…
Mas é ao fim da noite, com todo o parque coberto pela escuridão, que se é assolado pela magia. O espectáculo pode ser visionado em vídeo, milhares de fotografias do mesmo podem correr mundo, já lemos e ouvimos descrições sem fim. Mas nenhuma lhe faz justiça. Porque com o castelo da Bela Adormecida como pano de fundo, com a ajuda dos jogos de água, de luz e de laseres, os mais pequenos sentem-se como que num verdadeiro conto de fadas. Já os adultos não resistem em fazer uma viagem às suas memórias e sentem-se novamente meninos e meninas: parece ser esse o maior trunfo do espectáculo. Maior ainda que o magnífico fogo-de-artifício. Juntar a Disney de ontem e de hoje, com um piscar de olho ao futuro, conseguindo tocar todos os presentes. As músicas sucedem-se e todos acompanham, com um ainda maior sentimento quando o castelo se transforma diante dos nossos olhos numa fortaleza de gelo ao mesmo tempo que se assiste à rebelião de Elsa: “Conceal, don’t feel, don’t let them know / Well, now they know!”. Afinal, “já passou”, como se canta na versão portuguesa.
Há magia nos estúdios
É todo um outro parque, com entrada distinta. No parque Walt Disney Studios é-se convidado a conhecer o que se esconde atrás das telas. Para estreantes ou repetentes: as incursões ao Animagic e ao Cinemagic são simplesmente obrigatórias — e a última de deixar mesmo o mais durão dos seres de olhos marejados. Mas há muito mais para ver neste parque, onde há quem não resista a uma descida vertiginosa na Torre do Terror, a uma alucinante viagem (e desaconselhada a cardíacos) pelo mundo de Nemo ou a uns divertidos rodopios a bordo do Faísca McQueen. No entanto, uma das maiores atracções, desde a sua estreia no ano passado, é o segundo rato mais famoso que assentou arraiais por aqui, transformando parte deste parque numa mini Paris.
Na Place de Rémy é replicado o ambiente romântico da cidade das luzes, com o restaurante Bistrot Chez Rémy a cumprir a preceito as directrizes do rato-chef. Num espaço amplo, cheio de referências ao bem-sucedido filme, algumas mesas são gigantes frascos de doce enquanto outras conquistam privacidade graças a um prato gigante que serve de biombo. Já as cadeiras onde nos sentamos assemelham-se a rolhas de champanhe e os candeeiros que nos alumiam a refeição não são outra coisa que panelas de cobre gigantes viradas do avesso.
Mas para conhecer a cozinha deste rato de gostos requintados o melhor é deixar o restaurante para depois e pôr-se na fila para Ratatouille: L’Aventure Totalement Toqueé de Rémy. De óculos 3D bem colocados e sentadas num dos quatro ratmobiles somos levadas numa viagem pelos esgotos parisienses até encontrarmos Rémy. É então que a aventura começa: sem carris, cada um dos ratmobiles tem o seu próprio percurso (e distintas sensações), e quando damos conta somos pequenos ratinhos em fuga, pela sala do restaurante de Gusteau, pela cozinha, atravessando a despensa, descobrindo o calor dos sempre activos fogões. As sensações sucedem-se e são diferentes dependendo do carro escolhido e do lugar (há seis em cada carro). Por isso, as contas são fáceis de fazer: no mínimo há que fazer 24 viagens para aproveitar todo o divertimento. Um exagero, claro. Mas certamente haverá quem já fez mais do que estas: nós, em apenas dois dias, conseguimos repetir a aventura quatro ou cinco vezes. É que à saída, quer do mundo de Rémy quer dos parques, a pergunta é uma e outra vez sempre a mesma e chega acompanhada com um sorriso desafiante: “Outra vez?”.
Guia prático
Como ir
Tanto de Lisboa como Porto há voos para os aeroportos parisienses: a TAP, por exemplo, voa para Orly, enquanto a Air France aterra no Charles de Gaulle. Há a possibilidade de adquirir os passes de entrada e tratar do alojamento online no site da Disney ou consultar os pacotes com os operadores Abreu, Solférias e Viagens El Corte Inglès. Duas noites e três dias de entradas nos parques, voo e refeições excluídas, custam a partir de cerca 450€ por pessoa. A Disney aconselha a adquirir as refeições previamente — atenção: caso se escolham restaurantes buffet ou à carta é recomendável reservar com antecedência. Em vigor mantém-se a promoção de oferta de entrada e alojamento para crianças até aos sete anos. No entanto, há campanha de Verão à espreita que deverá ser lançada ao longo desta semana.
Quando ir
O Verão Frozen abriu a sua temporada no dia 1 de Junho e permanece como a animação principal dos parques até 13 de Setembro. Durante este período, as princesas Elsa e Anna percorrem o Parque Disneyland numa resplandecente carroça e convidam os visitantes a cantar com elas e com Olaf.
Como circular
Dos hotéis para os parques — excepto se se optar pela unidade mais dispendiosa, o Disneyland Hotel, situado mesmo à entrada do Parque Disneyland — há transfers regulares. Do Sequoia Lodge, onde ficámos, é uma caminhada de cerca 20 minutos. De diversão em diversão, há que ter atenção que muitas têm FastPass — uma via com prioridade e cujo acesso se adquire com este passe que diz ao visitante a que horas deverá regressar para evitar horas nas filas. Há também o VIP FastPass, um serviço disponível apenas para os que se alojam nos hotéis Disneyland, New York, Newport Bay e Sequoia Lodge, e que permite que o visitante saltite de fila rápida em fila rápida.
A Fugas viajou a convite da Disneyland Paris