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    A modernidade desta capital tem como principal ícone as Flame Towers Stoyan Nenov/Reuters
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Azerbaijão: Bacu, a sedutora do Cáspio

Por Rui Barbosa Batista

O visto ficou mais fácil e a moeda desvalorizou 35% em Fevereiro. É mesmo preciso o recente estímulo da Lonely Planet para ir ao Azerbaijão?

O vistoso e colorido skyline é imagem de marca de uma capital “vidrada” em potenciar o seu impacto internacional. Ou não recebesse cada vez mais eventos mediáticos à escala global, como os recentes I Jogos Europeus, a Fórmula 1 em 2016 ou o Europeu de futebol em 2020.

A principal referência do país que é “Terra do Fogo” renasce diariamente no seu centro urbano, um dos que mais rapidamente se está a transformar em todo o planeta. O Cáspio abraça a zona antiga, dentro das vigorosas muralhas, com o encanto que a UNESCO reconhece.

Entalada entre Rússia e Irão e, outrora, parte da Rota da Seda, a cidade libertou-se da aura soviética para se ver como europeia. Ainda assim, a cultura, atmosfera e gastronomia são todas orientais…

Um alerta: se antes de optar pelo Azerbaijão se aventurou pela vizinha Arménia, é mais avisado trazer um novo passaporte. A guerra de Nagorno-Karabakh terminou há duas décadas, mas as feridas não foram suficientemente debeladas. Demasiado longe de cicatrizar. E as novas gerações foram bem instruídas para que esse sentimento de inimizade perdure, até porque as escaramuças na fronteira persistem. Ter no mesmo documento o carimbo da Arménia e um visto, de uma página inteira, de Artsakh (Nagorno-Karabakh) teve tanto de loucura como de imprudência, pois normalmente custa a entrada no país. Confiei, talvez em demasia, que a minha missão jornalística resolveria qualquer problema. Foi por meio triz. Rocambolesco e longo episódio para exibir como “medalha de guerra” em animados jantares com amigos. E advertência para os demais. Nestes dias, vários jornalistas e organizações internacionais são impedidos de entrar, pelos mais diversos motivos.

 

Do céu, não engana

A aurora espreguiça-se sem vontade de assumir o seu efémero papel. Sobrevoamos zona rural e montanhosa. Não há casas e as solitárias estradas estão desertas. É assim boa parte desta nação, pouco mais pequena do que Portugal. Bacu alberga cerca de um quarto da população de uns 10 milhões. A paleta de cores vai mutando até que o mar Cáspio surge à esquerda. Salpicado de altivas infra-estruturas petrolíferas. Guinada para a direita e baixar altitude. Acompanhamos a praia erma e o solo vai-se aproximando. Os pequenos poços de petróleo contaminam a paisagem. Todas as habitações parecem ter um. O voo da Turkish Airlines pousa suave. Azerbaijão.

Luxuoso e futurista. É assim o novo aeroporto internacional Heydar Aliyev. É o primeiro impacto com aquilo em que o abundante petróleo transformou a opulenta capital. A nossa mente muda logo o registo de eventuais preconceitos quanto à modernidade do distante e pouco conhecido destino que nos acolhe.

Entramos na cidade por zona de construção emergente, com grandes avenidas e abundância de novos edifícios, muitos com estilo “histórico”. Esta parte foi adornada pelo estádio nacional que albergou os I Jogos Europeus em Junho passado, que obrigaram a astronómico investimento e uma visível modernização de infra-estruturas. Um evento que procurou ser tão sedutor e eficaz para o exterior como para os seus compatriotas. Os azeris tentaram mostrar ao mundo a capacidade, entusiasmo e compromisso de um país acolhedor e contemporâneo, cada vez mais empenhado em receber grandes eventos e investimentos. Ao mesmo tempo, o regime de Ilham Aliyev, de questionável democracia, atropela as mais básicas questões dos direitos humanos, situação regularmente em foco nos media dos cinco continentes. Das “cúmplices” instâncias internacionais, apenas o “consolo” de pensarem que o desporto “provoca inevitáveis mudanças positivas” nos países que organizam acontecimentos de tamanho colossal.

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