Penedo Durão, São Leonardo de Galafura e São Salvador do Mundo são miradouros que, como o próprio nome indica, miram o Douro e vêm-no passar entre encostas e penedos, em direcção ao Porto. Os dois últimos oferecem vistas extraordinárias de paisagens de encostas muito inclinadas que foram sendo domadas até produzirem o vinho do Porto, produto delicioso e requintado apreciado pelo mundo inteiro.
Tanto a qualidade do produto como a força e beleza da paisagem humanizada durante dois milénios, justificaram a entrada desta paisagem cultural para a lista de Património da Humanidade em 2001.
O primeiro, o Penedo Durão, oferece também uma vista especial sobre o Douro mas a paisagem é mais agreste e só o rio foi domado pela barragem de Saucelle para produzir energia. Em redor são serras e matos, poucas culturas e um sentimento de vastidão e quietude que justificou a criação do Parque Natural do Douro Internacional e a conservação desta natureza a funcionar por si própria entre cadeias alimentares e vistas sublimes.
O Penedo Durão é um promontório de xisto que se vê de longe, quase vertical sobre a margem direita do Douro. Enormes placas oblíquas recortam o céu como uma escultura e sobre estas pedras inclinadas, sentados, deitados ou em pé, temos um domínio completo da terra mas também do céu. Para chegar a esta fronteira de Portugal é preciso viajar até Freixo de Espada à Cinta, e daí por estradas e curvas subir ao Penedo onde um miradouro já foi preparado para encontros e merendas: há estacionamento, escadas, mesas de piquenique e até uma imagem de Nossa Senhora pousada na dureza das lajes de xisto escarpadas e cobertas de resistentes musgos e plantas que dão à pedra uma cor amarelada
Só dois movimentos se detectam pelas serranias desta imensa paisagem que se estende para Espanha a perder de vista: a água que a barragem solta em pressão, espuma, movimento e ruído, e as aves que habitam as escarpas do Penedo Durão e saem para um céu parado em voos planados e longos. São abutres, grifos e falcões peregrinos que, sem nos darem qualquer atenção, sobrevoam as pedras onde nos sentamos a contemplar a paisagem e, em ziguezagues, voam com toda a majestade por baixo dos rochedos, levando-nos quase a rastejar para os espreitar e ver de cima o dorso castanho e preto e as asas enormes.
À tarde, este miradouro oferece uma vista sobre a paisagem virada para nascente, iluminada por um sol dourado que em tudo melhora a beleza da paisagem. Na Primavera, ao movimento das aves junta-se o piar das fêmeas, os voos tentativos das crias e por vezes a passagem dos grifos assustadores de asas negras e bicos recurvados, abutres que caçam nesta paisagem parada de matos, serras e penedos sem fim. É a ponta final do Norte interior de Portugal onde o Douro serve de fronteira.
Miradouros de Portugal
“Faz tão parte de mim que só há pouco tempo me apercebi que dediquei a minha vida à beleza dos jardins e das paisagens, especialmente em Portugal”, diz Cristina Castel-Branco na introdução ao seu livro Jardins de Portugal (Edições Clube do Coleccionador dos Correios – CTT, Lisboa, 2014), que previa incluir esta série de miradouros nas áreas do país onde não havia jardins. Depois de ter seleccionado cerca de 700 jardins e miradouros que valem a viagem, a equipa — composta pela arquitecta paisagista Cristina Castel-Branco, o fotógrafo António Sacchetti e o arquitecto paisagista Filipe Amaral — visitou, durante dois anos, mais de 100 desses jardins e miradouros, escolhidos para a Colecção Filatélica dos CTT. Esta selecção, que será agora destacada na Fugas, é o resultado dessas viagens, de Norte a Sul do país, e é um convite a visitar e a gozar o nosso tão rico património de vistas.