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Este ano, o Pai Natal chega a Óbidos com uma trupe de circo

Por Mara Gonçalves

No ano passado passaram pela vila cerca de 120 mil pessoas. Até 3 de Janeiro, a organização espera bater este recorde até porque há mais três dias para fazer a festa com palhaços e trapezistas.

“Porque é que estás a atirar o prato da menina ao chão?”, pergunta um dos animadores à colega, ambos vestidos a rigor, narizes vermelhos de palhaço. A pequena Isis, de três anos, tenta equilibrar um prato de plástico numa vara de madeira quase do tamanho dela, mas a parte de pô-lo a rodar não se está a revelar tarefa fácil e eles lá a vão incentivando com brincadeiras e justificações. “Só soprei um bocadinho, foi o vento”. “Sim, foi o vento”, devolve a menina com a cara pintada de leão. O rapaz abre o casaco negro para tapar possíveis brisas e, como se tudo aquilo fosse verdade (magia de Natal?), o prato rodopia uns segundos no ar; a mãe vai filmando tudo com o telemóvel. “Aproveitámos as férias em Portugal para a trazermos, nunca cá tínhamos vindo”, conta Susana. Estão alojados em Óbidos por dois dias e amanhã ainda será dia de muita folia natalícia pela vila.

Entretanto, já a miúda se cansou de brincar aos artistas de circo. Ainda ensaia uns passos de trapezista numa pequena trave, mas os olhos já brilham em direcção às barraquinhas ao lado, onde há jogos tradicionais de feira, como uma roda da sorte (onde minutos depois ganha um bloco e um porta-chaves), tiro ao alvo com pistolas de plástico ou pirâmides de latas coloridas para derrubar com bolas.

“O tema deste ano são as artes circenses e o circo vintage”, conta Ricardo Ribeiro, administrador da empresa municipal Óbidos Criativa, que organiza o evento anual. “Quisemos desta forma homenagear o trabalho do circo e um espectáculo que tem sido um dos grandes dinamizadores do Natal e achámos por bem aplicar esse tema através de um conjunto de actividades, desde logo estes jogos tradicionais, mas também de performances artísticas, workshops com malabares, ilusionistas e um conjunto de artes circenses em que os próprios visitantes podem participar, espectáculos baseados nessa temática criados especificamente para aqui e alguma cenografia e adereços que nos fazem lembrar o circo vintage”, enumera o responsável.

À entrada, somos recebidos pela imagética mais gelada do Natal, entre neve artificial, cumprimentos de um pinguim e de um urso polar, bonecos e flocos de neve a dominar a decoração e as já tradicionais pista e rampa de gelo a prometer fazer as delícias da pequenada. Ali próximo, a principal novidade deste ano entre as actividades disponíveis: um percurso de arvorismo com cinco estações, onde os mais novos se vão equilibrando entre cordas e traves de madeira, saltitando entre as árvores sem tocar com os pés no chão.

Ultrapassado o arco da Cerca do Castelo, é o circo que se instala, entre árvores e bengalas natalícias, muito verde, vermelho e branco. Aqui, há quadros gigantes com imagens antigas a preto e branco onde se pode colocar a cara e fingir ser um trapezista para a fotografia. Ali, algo parecido mas numa jaula com animais de circo pousados em bancos coloridos. No pequeno anfiteatro de pedra, o palco secundário recebe agora a dupla do Louco Circo de Natal (grupo Kinessis – nomad teatral) com muitos presentes a saírem da árvore entre números de malabarismo, equilibrismo e bolas de sabão.

“Ai, ai, ai, o meu gatinho. Tareco! Tareco!”, chama um animador vestido de domador e chicote na mão. “Viste-o? E foi para este lado ou para aquele?”, pergunta a um miúdo ao colo do pai. “Veja lá se não o tem aí na mala”, interpela uma senhora que passa. “Olhe que o meu gato também se chama Tareco mas não deve ter a mesma juba que o seu”, responde, divertida. Há um mimo, um malabarista, um faquir e até um halterofilista que, com sotaque espanhol, vai pondo os visitantes a fazer aquecimento ou a levantar os seus pesos de esponja. “Interagem imenso e são naturalmente vocacionados para as crianças”, comenta Cláudia Sardinha, que veio com o marido e os três filhos pela primeira vez à Vila Natal. “Ainda bem que viemos hoje, está um dia calmo e fantástico, dá para eles andarem mais à vontade e nós ficarmos descansados”, diz.

É o primeiro dia do evento e a abertura não contou com as enchentes habituais. No entanto, “se as condições climáticas forem iguais às do ano anterior, o número de visitantes deverá estar muito próximo, tentando subir sempre de edição para edição”, avança Ricardo Ribeiro. Em 2014, passaram pelo certame natalício “cerca de 120 mil pessoas, distribuídas em 28 dias”. Este ano, são 31 dias de Óbidos Vila Natal, de 4 de Dezembro a 3 de Janeiro.

Leonor, de quatro anos, vem pedir à mãe para andar no carrossel, mas depois do arvorismo, do comboio e da pista de gelo, Cláudia já não tem mais moedas. “Estava à espera que a maioria das actividades fosse gratuita com a compra do bilhete, mas muitas não são e acabo por gastar quase 5€ cada vez que os três querem fazer alguma coisa”, queixa-se. Além da descida em bóia na rampa de gelo, dos espectáculos, das pinturas faciais, do espaço ilusão e dos ateliers de artes circenses, apenas a visita ao Pai Natal se mantém de acesso livre. Este ano, integrando a temática do circo, o velho de barbas brancas espera pelas listas de presentes num acampamento romanichel.

Isis foi cedo fazer o seu pedido, naquele que tinha sido um dos momentos preferidos do dia: “Pedi um palhaço de brincar, porque ele precisa de pilhas e também canta”, ria-se. Num dia de pouco movimento na caravana de madeira decorada a preceito, apenas o pequeno Martim caminha agora hesitante até ao Pai Natal, sem largar a mão da mãe. O suficiente para tirar uma fotografia de recordação e fugir com “um bocadinho de medo”. “Nos próximos dias já deverá haver mais crianças e fila”, antevê o São Nicolau na sua poltrona. Entre os pedidos, “muitos animais de estimação e os brinquedos clássicos, como carros, motas e bonecas”. “Só houve uma menina que pediu um cão azul e isso nem o Pai Natal consegue concretizar.”

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Informações

Horário: todos os dias das 11h às 19h, encerrando às 16h nos dias 14, 15, 16, 17, 24 e 31 de Dezembro. A 25 de Dezembro e a 1 de Janeiro, as portas abrem às 16h e fecham às 20h.

Preços: Os bilhetes gerais de entrada no recinto custam 4€ para crianças entre os três e os 12 anos e 5€ para adultos (passando a 6€ a partir de 18 de Dezembro) e podem ser adquiridos previamente online(obidos.bol.pt) ou nas bilheteiras do evento (na Porta da Vila e na Porta de Santiago). Várias diversões não estão incluídas, como o arvorismo (1,50€); a pista de gelo (4€ por 20 minutos); o comboio (1,50€); os jogos de feira (1€ cada); o carrossel (1,50€) e o estúdio de fotografia (5€ por cada imagem).

Outras atracções natalícias em Óbidos: para além do recinto da Vila Natal, existem outros espaços em Óbidos com actividades ligadas à quadra natalícia, nomeadamente um mercado no Espaço Ó e uma feira dos Mágicos Solidários no Espaço Melhor Idade, na Casa da Porta da Vila, edifício onde começarão os peddy papersDescobrir Óbidos com Floco de Neve, que levarão as famílias “a conhecer o património histórico da vila enquanto vão desvendando a história do Natal” (dura 60 minutos e custa 2,50€ para crianças e 5€ para adultos). Há ainda uma exposição de Lego na Galeria do Pelourinho (2€ por criança e 3€ os adultos), um presépio em miniatura com sete metros na Capela de São Martinho e um jogo na Torre Albarrã que levará miúdos e graúdos a “imergir na Idade Média e a trabalhar em equipa para alcançar os objectivos: salvar o cavaleiro e encontrar o tesouro” (4€ por criança e 7€ por adulto). Já em Gaeiras, o Convento de São Miguel recebe a 9.ª exposição de presépios, com 1500 presépios feitos por 115 artesãos.

obidosvilanatal.pt

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