ITÁLIA | Roma
Foi notícia há algumas semanas: a Fonte de Trevi reabriu ao público de cara lavada (graças ao patrocínio da casa de alta costura Fendi) e novamente os turistas podem atirar as moedas à água para assegurar que regressarão a Roma. Aventuras à la Anita Ekberg em La Dolce Vita é que já não são possíveis, uma vez que a segurança é apertada neste monumento barroco impressionante, pelo tamanho e beleza decorativa, que é uma das mais antigas fontes da capital italiana. Da cidade eterna, portanto, uma das mais visitadas do mundo. Motivos para ir a Roma? São abundantes e conhecidos: desde a Roma “romana”, imperial e republicana, dos templos e palácios, arcos do triunfo e do inconfundível Coliseu, parte da paisagem da cidade há mais de dois mil anos e que terá a primeira parte do seu restauro concluído em 2016 (as paredes exteriores já foram devolvidas às suas cores naturais); a Roma dos primeiros cristãos com as suas entranhas a abrigarem catacumbas e criptas; a Roma dos bairros medievais, com as suas pontes antigas e pracetas idílicas; a Roma renascentista que tem na Praça Farnese e no palácio homónimo, projecto intervencionado por Miguel Ângelo, uma das vistas inesquecíveis; a Roma barroca que culmina na Praça Navona, construída no local onde a Roma Antiga tinha um estádio (mantendo essa forma, vestiu-se de arquitectura e escultura incomparável); a Roma capital da Itália unificada; a Roma dos cafés, gelatarias, do caos controlado. E, claro, a Roma do Papa. Ir a Roma e não ver o Papa: em 2016 será mais difícil, já que o Vaticano estará de portas ainda mais abertas para assinalar um jubileu extraordinário, o da Misericórdia, que começou em Novembro. E, para cinéfilos, ir a Roma e ver novos cenários – do remake de Ben Hur e do novo James Bond.
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ESPANHA | San Sebastián
É difícil permanecer indiferente aos encantos de San Sebastián — Donostia em basco, Doností, carinhosamente — segundo décadas de testemunhos de viajantes. A cidade que abraça o mar Cantábrico com a sua baía que é uma lua em quarto crescente quase perfeito mas é conhecida como “La Concha”, aos pés dos Pirenéus, tem uma aura de antiga estância balnear Belle Époque que o seu crescimento não conseguiu apagar. Há uma elegância irredutível nesta cidade que foi residência estival da família real espanhola, congregando monumentos históricos com arquitectura contemporânea, um certo refinamento burguês com a desenvoltura surfeira — tudo acompanhado pela arte de bem comer (os pintxos são as tapas bascas, quase obras de arte na montagem). É esta cidade, também uma das mais atingidas pelas lutas independentistas bascas, que será, a partir de 19 de Janeiro, co-Capital Europeia da Cultura 2016. E se referimos o separatismo basco não é à toa: a paz e a convivência são os dois eixos centrais da programação que inclui cinco centenas de actividades e cem projectos que também se querem assumir como ferramenta de catarse para meio século de conflito.
Talvez por isso a grande exposição desta capital cultural se chame Tratados de Paz (de 17 de Junho a 2 de Outubro no Museo de San Telmo) e reunirá mais de 300 obras de artistas como Goya, Zurbarán, Rubens, Picasso, Le Corbusier vindas de 21 museus europeus. Artes plásticas, fotografia, dança, teatro (destaque para a celebração dos 400 anos da morte de Shakespeare com a apresentação de Sonho de uma noite de Verão durante um mês no cenário natural do parque Cristina Enea), música (o festival Music Box trará 12 concertos, um por mês, de nomes sonantes do panorama internacional), arquitectura, banda desenhada, cinema fazem parte do programa — juntamente com a inevitável gastronomia: a Capital Europeia da Cultura terá direito a um pintxo próprio criado pelo chef Pedro Subijana.
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POLÓNIA | Wroclaw
Há muitas pontes em Wroclaw (que também responde por Breslau, em alemão — em português Breslávia) ou não fosse a capital histórica da Silésia (região charneira que já teve vários “amos”), um emaranhado de ilhas e ilhotas unidas por mais de uma centena de travessias sobre o rio Odra e afluentes que lhe valem nos folhetos turísticos o epíteto de “Veneza da Baixa Silésia”. Em retalhos de terra, portanto, estende-se a cidade que tem na praça Rynek (a praça do mercado), ladeada de casario medieval, o seu centro histórico, entre ruelas e pracetas imprevistas, igrejas barrocas e bares, carruagens a passear turistas e artistas de rua — e gnomos, muitos, de bronze (agora curiosidades, no tempo da Polónia comunista um símbolo da oposição). Quarta cidade polaca em dimensão, é ainda uma relativa desconhecida na Europa, vivendo um pouco na sombra de Cracóvia, mas 2016 pode ser o ano da emancipação, uma vez que Wroclaw é co-Capital Europeia da Cultura.
E não surpreende que as pontes para outras culturas sejam um dos temas fundamentais da programação numa cidade em que a mistura de culturas está no seu ADN. Como exemplo dessas pontes culturais, a programação inclui música de mais de 50 países e a performance Flow, que junta o literal ao metafórico: no rio Odra vai ser revista a construção, destruição e reconstrução da cidade. Esta performance é a segunda de três previstas que marcam o início, o meio e o fim da Capital Europeia da Cultura que abre no dia 15 de Janeiro e que serão, segundo a organização, os maiores espectáculos do ano na cidade. A programaçãoo está dividida em oito secções, cada qual com um curador, e inclui arquitectura, cinema, música, artes visuais, teatro, performance, ópera e literatura (que será também leitura quando, em Abril, Wroclaw se tornar a Capital Mundial dos Livros da UNESCO, ou seja, uma bibliopólis).
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FRANÇA
Se o futebol é o maior espectáculo do mundo, em 2016 França será o maior palco do mundo. Não é um campeonato mundial, mas o Euro 2016 assegurará que França, que já é o país que recebe mais turistas por ano, tenha um salto significativo nessa estatística. E serão visitas que se espalharão um pouco por todo país, unindo as dez cidades (oficialmente, porque Saint-Dennis é um subúrbio de Paris) que vão receber jogos entre 10 de Junho e 10 de Julho: além destas duas, a bola rolará ao sul, em Marselha e Nice, a sudeste caminhando para os Alpes, em Lyon e Saint-Étienne, ao sudoeste em Bordéus, vai até aos vales pirenaicos de Toulouse e chega ao Norte por Lille e Lens. Não cobre todo o país e isso tem as suas virtudes — quem quiser descansar das multidões futebolísticas tem muita França para descobrir.
Desde logo, por exemplo, a Bretanha e a Normandia, duas das mais cénicas regiões francesas, onde a natureza é a um tempo primeva e meiga e a História deixou pegadas infindáveis – e que passeio entre Bordéus e Lille ou Lens, cidades-futebol; a Alsácia, com os seus infindáveis Vosges, o Languedoc e a sua aura mística, o Vale do Loire e os seus extraordinários castelos e vilas históricas. E, para além de tudo isto, França, o maior produtor de vinhos do mundo, viu em 2015 duas das suas regiões produtoras reconhecidas como património da UNESCO, celebrando-se a cultura da vinha e os néctares produzidos em comunhão com a geografia. Umas férias vinícolas em França não serão novidade, mas esta distinção pode ser um incentivo (e recordemos que Bordéus e o Vale do Loire, também património da UNESCO, são regiões onde o vinho é central).
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IRLANDA | Dublin
Foi há 100 anos que, nas palavras de William Buttler Yeats, o poeta mais dado a misticismos e a magias do que a política mas que escreveu um dos poemas mais políticos do século XX, “tudo mudou, tudo mudou completamente,/ uma terrível beleza nasceu”. A chamada Easter Rising, a Revolta da Páscoa, pode ter terminado em tragédia para os que declararam a independência da Irlanda naqueles seis dias de insurreição, a mais importante contra o domínio britânico desde 1798, mas constituiu o ponto do não retorno: a Irlanda seria uma república independente. Há um século os revoltosos caíram na luta ou nas prisões inglesas, em 2016 a Irlanda, e muito particularmente Dublin, onde se concentraram os confrontos, vão cair nas celebrações — ajudadas pela recuperação da recente crise, que voltou a mergulhar o país na incerteza económica.
Se há cem anos, no domingo de Páscoa de 1916, os primeiros tiros foram disparados, às 13h15, em 2016, no mesmo dia, à mesma hora, haverá uma cerimónia de colocação de grinaldas em pontos estratégicos de Dublin, a começar pelo castelo. Durante o fim-de-semana da Páscoa serão várias as cerimónias que homenagearão os que morreram durante a revolta (e seus descendentes) e haverá também um desfile na O’Connell Street, ponto fulcral da rebelião. Na mesma altura, o General Post Office, quartel-general dos rebeldes e onde pela primeira vez se desfraldou a bandeira da república, vai inaugurar um Centro de Visitantes para o Centenário da Revolta da Páscoa. Este será o primeiro acto de um ano com muita música, teatro, recriações históricas, exposições que querem reflectir sobre os últimos cem anos e abrir as portas dos próximos.
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BRASIL | Rio de Janeiro
O Rio é uma festa, mas em 2016 pode ser demasiada — a festa dizemos, as multidões, portanto. Os Jogos Olímpicos, em Agosto, prometem tornar a cidade num Carnaval fora de tempo, e se já é difícil visitar o Rio de Janeiro em “época baixa”, não vai ser tarefa simples circular nesses dias. Contudo, cidade maravilhosa é cidade maravilhosa e por que não vê-la (ainda) mais engalanada (e com uma agenda preenchidíssima de festas nas praias) e, espera-se, com a circulação rodoviária mais normalizada? Pois alinhem-se itinerários pelas praias (incontornáveis Copacabana, Leblon, Barra da Tijuca), passeie-se pelo Jardim Botânico e pelo Parque Nacional da Tijuca, caia-se na “balada” na Lapa, visite-se o centro histórico e suba-se às alturas do Corcovado, do Pão de Açúcar e Morro do Leme olhando atentamente para descobrir prainhas (mais) escondidas pela geografia sinuosa da cidade — e não esquecer de beber um “chopinho” ou uma água de coco nas muitas esplanadas onde a cidade gosta de se exibir no seu gingar natural.
No entanto, entre as muitas coisas maravilhosas que o Rio de Janeiro tem, é o rápido acesso a outros “mundos”. E quando o desporto olímpico for demasiado, nada como escapadas curtas para perceber que não é apenas a cidade carioca que encerra jóias imperdíveis. A Costa Verde de Angra dos Reis (e das suas 365 ilhas) e da histórica (e literária) Paraty, a região dos lagos da muito conhecida Búzios e da mais escondida Arraial do Cabo, a região serrana da imperial Petrópolis e do charme natural de Itaipava são os destinos mais naturais para as “fugas” dos cariocas.
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EUA | Parques naturais
São mais de 340 mil quilómetros quadrados de parques naturais aqueles que os Estados Unidos albergam. Alguns nomes são imediatamente reconhecíveis, como Yosemite, Yellowstone, Grand Canyon, Joshua Tree, Death Valley, Everglades Zion, por exemplo; outros, como Katmai, Saguaro, Shenandoah, Mesa Verde, Mammoth Cave, têm menos fama (internacional, pelo menos). Ao todo são 59 parques naturais sob direcção do National Park Service (serviço de parques nacionais), compondo paisagens tão diversas como formações rochosas e barreiras de coral, glaciares e pântanos, florestas com sequóias gigantes milenares ou florestas petrificadas, desertos e pradarias, desfiladeiros intermináveis e vulcões, fiordes e geisers, grutas e ilhas — e a lista poderia continuar. São janelas para milhões de anos de evolução geológica, milhares de evolução natural; são territórios naturais encantados, mágicos, onde a aparição de criaturas fantásticas parece muitas vezes provável — e não falamos da fauna, que é muita e variada.
Em 2016, o National Park Service cumpre um século de existência e milhares de milhões de dólares vão ser investidos para celebrá-lo e, sobretudo, para preparar o caminho para o segundo século de vida. Entre a abertura de novos trilhos, melhorar as acessibilidades e a tecnologia disponível para os visitantes, os parques vão receber eventos de promoção, que passam pela sua “(re)descoberta” sob novos ângulos. Por exemplo, em Yellowstone (localizado maioritariamente no estado do Wyoming e entrando em Montana e Idaho), o primeiro parque nacional do mundo (instituído em 1872, quando o Oeste ainda estava a ser “conquistado”), a sua entrada simbólica (e única aberta durante todo o ano), um arco colocado na confluência dos rios Gardiner e Yellowstone (Montana), vai apresentar-se de cara lavada e complementada com novo equipamento, como um anfiteatro e recepção; e em Bryce Canyon (Utah) foi construído um novo museu que descreve e explica as suas formações geográficas invulgares (apesar do nome, não é um desfiladeiro mas um conjunto de anfiteatros naturais de pedra em tamanho XXL). Se há ano em que a travessia dos Estados Unidos tem um aliciante extra é este: os horizontes largos revelam mais os seus segredos.
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AUSTRÁLIA | Magnetic Island
Os habitantes chamam-lhe “Maggie”, o que não só revela o carinho que sentem por este pedaço de paraíso como o tamanho reduzido desta ilha que faz parte do território da Grande Barreira de Coral distinguido como património mundial da UNESCO. A Magnetic Island, localizada no estado australiano de North Queensland, tem 2500 habitantes que se distribuem sobretudo pelas quatro “cidades”, cada qual com a sua baía — mas 70% do seu território constituem um parque nacional. A apenas 20 minutos de viagem por ferry do continente, a Magnetic Island (nome dado pelo capitão James Cook: os wulgurukaba, povo aborígene original, chamavam-lhe Yunbenun) é uma das mais acessíveis da Grande Barreira de Coral e é também uma das que tem um clima mais distinto, tropical mas seco, o que garante temperaturas amenas e sol todo o ano.
Perfeito, portanto, para as actividades ao ar livre que são o modo de vida na ilha. Para os turistas, essas vão da terra ao mar e sobem aos céus (viagens de helicóptero). No oceano, os mergulhadores mais experientes têm oportunidade de mergulhar até ao HMAS Yongala, que constitui um dos cinco melhores locais de naufrágio para mergulho do mundo, e os principiantes encontram na águas serenas e baixas em torno da ilha um palco para snorkelling (passeios de caiaque são também muito populares). Em terra, há 24 quilómetros de trilhos a sulcar a ilha, cruzando lagoas e cascatas de sonho, permitindo desvendar o passado aborígene de milhares de anos em desenhos em grutas ou ferramentas de pedra ou o mais recente com fortes históricos, e ter encontros imediatos, mais ou menos inesperados: com os koalas são quase inescapáveis (há 800 e constituem, dizem os especialistas, uma das colónias mais acessíveis e amigáveis do país), mas há também rock wallabies (um marsupial) e gambás, por exemplo; as espécies de aves são abundantes e as tartarugas gigantes fazem ninho nas praias durante o Verão. A maioria das praias são desertas mas, uma vez por mês, pelo menos, a ilha agita-se com a Full Moon Party (festa da lua cheia).
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Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha
Napoleão foi, indiscutivelmente, o mais célebre habitante desta remota ilha do Atlântico Sul (mais ou menos a meio caminho entre África e América do Sul, é considerada parte da primeira). Um habitante à força, claro, enviado para o exílio depois da derrota final em Waterloo. Actualmente, o seu habitante mais conhecido será provavelmente Jonathan, a tartaruga gigante que terá mais de 175 anos (e será a mais velha do mundo), ou seja, que terá nascido poucos anos depois da passagem do imperador francês, que aqui morreu em 1821 e aqui esteve enterrado até à sua trasladação para França, em 1840. Jonathan continua a viver nos jardins da Casa da Plantação, a residência oficial do governador da ilha que faz parte do território britânico ultramarino de Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha; a memória de Napoleão Bonaparte vive nas suas antigas propriedades, actualmente detidas pelo estado francês, de Longwood House, Briars Pavillion (uma sala apenas) e no seu túmulo original (todas as visitas necessitam de marcação antecipada).
Contudo, o que faz esta ilha um destino a reter para 2016 é o fim do seu “isolamento”: até agora, a única maneira de chegar a Santa Helena era através de barco (está a 3100 quilómetros da Cidade do Cabo), porém o próximo ano verá a abertura do primeiro aeroporto, 501 anos depois do registo do primeiro habitante — um português, de seu nome Fernão Lopes, que, tendo traído Afonso de Albuquerque, foi mutilado, e preferiu ficar em exílio solitário do que regressar a Portugal (haveria de voltar à Metrópole, mas apenas brevemente, tendo morrido em Santa Helena). Depois da descoberta portuguesa, a ilha foi holandesa até ser integrada na Companhia Britânica das Índias Orientais, permanecendo britânica até hoje. O seu isolamento trouxe à ilha bastante astrónomos, entre os quais Halley, e até Charles Darwin, que a descreveu como “um pequeno mundo por si só, que excita a nossa curiosidade”. No Diana’s Peak National Park, a natureza intocada da ilha exibe-se em todo o seu esplendor com 45 plantas e 400 invertebrados que só aqui existem, por exemplo, entre as muitas espécies nativas da ilha.
Seja para usufruir da natureza, para caminhar pela capital Jamestown — descrita como uma pequena vila rural inglesa mas com a mais antiga igreja anglicana de África, por exemplo, e um castelo —, para descobrir fortes e outros monumentos militares, cemitérios centenários, restos de naufrágios que contam histórias de corsários (não foram poucos os piratas que por aqui passaram), destilarias, cascatas em forma de coração, observar a tordeira-do-mar, a única ave endémica que chegou até hoje, Santa Helena está agora, para o bem e para o mal, mais próxima do mundo.
CHINA | Xangai
A cidade de Xangai construiu nos últimos 20 anos uma reputação: a de ser a cidade chinesa mais voltada para o futuro, uma espécie de laboratório arquitectónico e de tendências, um centro comercial gigantesco — uma cidade moderna e cosmopolita. O seu skyline não se tem poupado a provar a sua apetência pela arquitectura grandiosa, com colossos a preenchê-lo (desde a torre de televisão Oriental Pearl, o World Financial Tower ou a Jin Mao Tower, que mistura elementos tradicionais chineses com os mais modernos estilos arquitectónicos actuais e é o quarto edifício mais alto do mundo) sem que tal, porém, tenha destruído a herança do passado, nomeadamente dos anos 20, que aqui também foram loucos, e deixaram um rasto de edifícios art déco. Os seus centros comerciais são míticos — e entre originais e imitações é possível comprar tudo aqui.
E agora Xangai está a voltar-se para a cultura, investindo na construção de museus de arte contemporânea de qualidade mundial, como o Yuz (da fundação sino-indonésia do mesmo nome), instalado num antigo hangar de aeroporto, o Power Station of Art, uma antiga estação eléctrica localizada nos terrenos da Expo 2010 e que é o primeiro museu de arte contemporânea estatal na China, ou o Liuli (da antiga palavra chinesa que significa “arte do vidro”), que apresenta peças desde a dinastia Qing mas não deixa os trabalhos contemporâneos de fora.
Este ano, a arte contemporânea vai ter concorrência de peso na forma de cultura popular: o sexto parque com a assinatura Disney fora dos Estados Unidos vai abrir e promete ser maior e mais arrojado do que qualquer outro. Por exemplo, o icónico castelo será o maior de todos e terá direito a uma viagem de comboio; entre as “terras” temáticas haverá a primeira dedicada aos piratas (partindo do imaginário de Os Piratas das Caraíbas); e na Tomorrowland vão juntar-se elementos de Toy Story e Tron, de Star Wars e da Marvel.
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BOTSWANA
Não é o país mais óbvio para quem quer conhecer as maravilhas de África, mas pode ser que essa condição mude em 2016, o ano em que o Botswana celebra os 50 anos de independência. Uma independência, diga-se, das mais bem-sucedidas no continente, com uma democracia estável, uma corrupção baixa e um nível sócio-económico que tem crescido de forma sustentada. Tudo isto num país que, apesar de situado num continente onde a natureza é pouco avara em maravilhas, consegue também surpreender, precisamente, pelas suas maravilhas naturais. Uma delas é o Delta do Okavango, um dos maiores deltas interiores do mundo (250 por 150 quilómetros), onde o rio Okavango, que nasce em Angola e passa pela Namíbia antes de chegar ao Botswana, se evapora ao encontrar o deserto do Kalahari. Antes, claro, o delta onde a vida selvagem é um milagre de diversidade. Não só se encontram os “Big Five” dos safaris africanos (elefantes, leões, búfalos, leopardos e rinocerontes), como chitas, hienas, antílopes, crocodilos do Nilo, zebras... As espécies de aves são mais de 400, os peixes 71 e os papiros constituem grande parte da vegetação — a distinção, em 2014, como Património Natural da UNESCO não surpreende e para percorrê-lo vai-se de mokoro, uma canoa tradicional. Mas esta é apenas uma parte de um país onde 17% da área pertence a parques nacionais — ao Savuti-Chobe, uma espécie de mini-Serengueti, às Salinas de Makgadikgadi, com as suas suricatas, e até a parques transfronteiriços como o Kavango-Zambezi (onde se encontram cinco países: além do Botswana, Angola, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué) e o Kgalagadi (com a África do Sul).
EMIRADOS ÁRABES UNIDOS | Abu Dhabi
Não é de agora: mesmo quando o Dubai era a última “maravilha” do mundo do mais-melhor-maior (e mais ostentoso, claro), já se ouviam rumores que diziam que Abu Dhabi é que era — apanhava-se a auto-estrada que atravessa o deserto e horas depois estaríamos num mundo (ainda) mais sumptuoso, mais dourado. Os vizinhos dos Emirados Árabes Unidos aprenderam pela mesma cartilha para colocarem duas cidades que até há poucas décadas não eram mais do que vilas de casas de adobe, entrepostos comerciais, portos piscatórios, na boca do mundo pelas excentricidades que lhes compõem o rosto mais visível — um jogo de espelhos que esconde o (quase) invisível: por exemplo, os pré-fabricados decadentes onde vive a mão-de-obra, imigrante e precária, que constrói os delírios faraónicos.
Um desses “delírios” custou mil milhões de euros só pelo nome e empréstimos — não um qualquer: Louvre, catedral da arte acumulada em milénios de história. Pela primeira vez, o museu parisiense empresta o nome a um novo projecto e já começou o vaivém de obras de arte de Paris para a “ilha da felicidade”, Saadiyat, onde o “novo” Louvre abrirá no final de 2016, depois de alguns atrasos. Desta ilha, Abu Dhabi tenciona fazer, entre várias coisas (zona comercial, residencial, de escritórios e hotéis), um bairro cultural e alinhados já estão o Guggenheim Abu Dhabi (obra de Frank Gehry), o Museu Nacional Sheikh Zayed (pelo gabinete de Norman Foster) e um Centro de Artes Performativas (por Zaha Hadid). Nomes de peso, para projectos que querem colocar definitivamente Abu Dhabi nas rotas culturais mundiais.
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