Fugas - Viagens

  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido

Wroclaw, 70 anos à procura de uma identidade europeia

Por Ana Gomes Ferreira

Foi polaca, checa, austríaca, alemã, polaca de novo. Foi uma cidade luminosa e multicultural do centro da Europa e foi uma terra intolerante. Há 70 anos, mudou de nome e pôs-se à procura de quem é: encontrou-se e quer prová-lo no ano em que é Capital Europeia de Cultura .

Vieram de todos os cantos da cidade dispostos a esperar ao frio de seis graus negativos. Uma, duas, três horas — o que fosse preciso. Chegaram para participar num espectáculo mas não só. A festa de rua com que Wraclaw inaugurou o seu ano como Capital Europeia de Cultura foi, em primeiro lugar, a afirmação de que a cidade sabe a que terra pertence. “Passámos 70 anos à procura de uma identidade. A nossa identidade é europeia”, disse o presidente da câmara, Rafal Dutkiewicz.

A frase não é um exercício de retórica no meio de um discurso oficial. Estamos numa terra que já foi polaca, que já foi checa, foi austríaca, prussiana, alemã, novamente polaca. Estamos numa terra que já foi católica, protestante, católica outra vez. Estamos no mundo pós-nazi e pós-soviético. Wroclaw (pronuncia-se “vraflof”) já teve mil vidas e mil identidades, e quer parar.

À festa de rua inaugural (no domingo, 17 de Janeiro) chamaram Despertares porque, explicaram os organizadores, a cidade acordou para a boa vizinhança, para a irmandade, para a unidade e coexistência em harmonia — para o espírito europeu, dizem. De quatro cantos da cidade chegaram cortejos simbolizando problemas ultrapassados (guerras, perseguições, destruição/reconstrução, catástrofes naturais, conflitos religiosos) que, na praça central, o Rynek, se uniram, despertando a cidade para um futuro criativo e de paz.

É irónico que Wroclaw apregoe a sua pertença comunitária num momento em que a comunidade europeia está em crise de identidade. É trágico que esta cidade no centro da Europa, que foi estratégica na encruzilhada de gentes e ideias, seja mais uma vez apanhada por uma batalha — a que o novo Governo ultraconservador, nacionalista, populista e eurocéptico da Polónia trava com a União Europeia.

O presidente de câmara Dutkiewicz não denuncia inquietação. Os grupos de jovens que batem os pés para espantar o frio gélido do fim de tarde argumentam que o passado não voltará a Wroclaw. Todos falam de uma cidade integrada, aberta, cosmopolita. “Se Wroclaw acordou para esta identidade, a Polónia também acordará”, diz Olga, professora universitária de 31 anos à espera do Despertares.

Mas à volta deles há demasiadas provas de que a História é errática, bélica e destruidora.

Na noite fria da abertura da Capital Europeia, uma atmosfera mágica envolveu o Rynek — haverá outras, ao longo do ano —, a antiga praça do mercado salpicada de igrejas góticas e casas típicas do barroco do Centro da Europa. Com as luzes apagadas, agigantam-se no escuro as silhuetas negras das torres das igrejas. E o rendilhado dos telhados dos edifícios parece flutuar quando as fachadas em cores pastel são iluminadas por um jogo de luzes de formas geométricas.

Pouco do que ali está é de origem. Há escassos 70 anos, o Rynek foi reduzido a escombros e toda a cidade, que se chamava Breslau e era alemã, uma ruína em chamas, esmagada pelos exércitos totalitários de Hitler e Estaline.

Como em todas as cidades do mundo, as ruas de Wroclaw são testemunhas de um mundo perdido. Mas em Wroclaw existe também um mundo escondido, como se a cidade e os seus habitantes tivessem vergonha do passado ou se a memória fosse demasiado dolorosa para ser recordada. Neste caso, as duas hipóteses são verdade.

Por razões que a geografia e o traçado dos impérios justificam, Breslau foi uma cidade estratégica do mundo prussiano. Era uma metrópole cosmopolita, por onde circulavam comerciantes e letrados, artistas e industriais. Além da população alemã, dinâmicas comunidades polaca e judaica floresciam na cidade e continuaram a prosperar no período do império alemão (o II Reich).

Breslau — explicam os historiadores —, a sexta maior cidade do império, foi fundamental para o desenvolvimento da identidade da Alemanha unificada e de lá saiu a inspiração para o hino e a bandeira.

Dessa época dourada sobram muitos vestígios. Destaquem-se dois, um pela beleza, outro pelo que motivou uma lista de celebridades a passar por lá.

A partir do centro da cidade, chega-se à ponte Zwlerzyniecki em dez minutos, de eléctrico (os bilhetes compram-se nos hotéis ou nos postos de turismo). É inconfundível, em ferro pintado de amarelo. Foi construída pelos alemães no final do século XIX, mas não há qualquer placa que o indique. Nesta cidade que outrora acolheu com fervor Hitler e a sua ideologia nazi — nas eleições de 1932 o partido conseguiu ali 44% dos votos, o terceiro melhor resultado em toda a Alemanha —, toda a herança germânica foi apagada após o triunfo do Exército Vermelho.

Um ano depois desta eleição nasceu em Breslau um dos primeiros campos de concentração nazis, criado em Dürrgoy para tirar do mapa político e das ruas a oposição social-democrata, os comunistas e os judeus — lá estiveram aprisionados o presidente da Baixa Silésia, o presidente do parlamento regional e o presidente da câmara de Breslau.

A ponte, com belíssimos pormenores que já anunciam a Arte Nova, tem na memória cenas sangrentas da batalha travada na Primavera de 1945. É preciso atenção para encontrar as feridas que as balas e as bombas fizeram no ferro e que denunciam esse passado apagado.

A partir da Zwlerzyniecki nasce um parque que alberga mais uma marca imperial alemã, esta impossível de ocultar. O Hala Ludowa (palácio do povo) é um coliseu de escala esmagadora agora conhecido por Milennium Hall. Inaugurado em 1913 para celebrar o centenário da vitória sobre Napoleão, a extravagância (como todos os autores lhe chamam) futurista em cimento e ferro foi projectada pelo arquitecto Max Berg também para mostrar como o império estava na vanguarda da técnica e da engenharia. O Millenium é uma das 7 maravilhas de Wroclaw, uma exposição que pode ser vista na antiga câmara municipal, na zona do Rynek, de 3 de Fevereiro e 15 de Maio.

Hitler — que herdou da era imperial a ideia de tornar Breslau numa cidade modelo do Reich — fez lá alguns discursos. E quando os soviéticos já dominavam a cidade, foi ali que promoveram a Conferência Mundial pela Paz de 1948. Bertolt Brecht, Aldous Huxley e Pablo Picasso participaram e foi no Milennium que o espanhol pintou a mais famosa versão das suas pombas da paz — nove meses depois Picasso chamou Paloma à filha recém-nascida.

Pôr a cidade no mapa

Mas regresse-se à ideia de Hitler para Breslau, à utopia de uma cidade-estandarte para uma nova ordem mundial. Para quem falava polaco em público, a prisão; para os eslavos, a expulsão; para os judeus (dez mil), os campos de concentração.

Uma rede de campos foi construída à volta de Breslau e no auge do conflito o complexo de Gross-Rosen teve cem subcampos de trabalho escravo que alimentava a indústria do Reich.

Não eram campos de extermínio, como Auschwitz e Birkenau, nos arredores de outra cidade do Sul da Polónia, Cracóvia, a duas horas de comboio de Wroclaw. Um dos objectivos desta Capital Europeia da Cultura, diz o presidente da câmara na conversa que teve com a Fugas, é pôr Wroclaw no mapa do turismo, o de memória ou o de lazer, e duplicar o número de visitantes.

Na Primavera de 1945, Hitler chamou a Breslau “cidade fortaleza” e ordenou-lhe que resistisse “até à morte”.

O cerco do Exército Vermelho à cidade durou 12 semanas, mais do que o de Berlim (dez dias) ou Budapeste (16 dias). A cidade resistiu até 6 de Maio, dois dias antes da capitulação alemã. Os bombardeamentos terrestres e aéreos soviéticos pulverizaram a cidade — o termo é dos historiadores Norman Davies e Roger Moorhouse, que escreveram um livro sobre Breslau/Wroclaw,Microcosm: Portrait of a Central European City.

Relata outro historiador, Richard Hargreaves, noutro livro sobre a cidade, A última fortaleza de Hitler: “A história e o sofrimento não acabaram com a queda da cidade. Para os sobreviventes alemães, piores dias viriam. Para os soldados, a prisão na União Soviética; para os civis, violação, pilhagem, fome e finalmente a expulsão, quando Breslau se tornou Wroclaw”.

O fim da guerra trouxe uma transformação profunda à cidade que foi arrancada à Alemanha, passando para o território da Polónia, o que não acontecia desde o século XIV. Colonos polacos (sobretudo de Lvov, agora Lviv e parte da Ucrânia) receberam ordem de marcha para “os territórios reconquistados da Silésia”, segundo a ordem soviética de repovoamento.

Os “salpicos cinzentos”

População nova não significou, porém, alma nova; essa demorou a nascer. “Os que foram residir na cidade tiveram de criar uma nova comunidade, praticamente a partir do zero” e isso leva tempo, disse o historiador Norman Davies ao jornal Wroclaw 2016, que só vai existir, em quatro edições trimestrais, enquanto durar a Capital Europeia de Cultura. “Além disso, durante a era comunista a Polónia desenvolveu-se isolada do Ocidente. Lembro-me de, nas minhas primeiras viagens, ficar com a sensação de que este país era de outro planeta. Numa escala menor, Wroclaw também era ‘outro planeta’ — sem a possibilidade de contactar os vizinhos na Alemanha e na República Checa, fechada, aprisionada”.

Por todo o coração da cidade há vestígios dos anos do isolamento. De vez em quando, por entre o casario histórico surgem os “salpicos cinzentos” do planeamento urbanístico soviético, na descrição de um crítico de arquitectura. Mas não passam disso mesmo, de salpicos, pois as feridas que as bombas abriram na paisagem foram rapidamente bem preenchidos — o que os soviéticos destruíram, os comunistas reergueram na febre da reconstrução fiel do centro histórico nos anos 1950 e metade dos 60.

É por isso que o coração de Wroclaw, atravessado por um rio, o Oder, que serpenteia pela cidade criando, com o seu caudal e múltiplos canais, um labirinto com pequenas ilhas (são 20) ligadas por 200 pontes, é elegante, espaçoso e luminoso. E é por isso que se diz que Wroclaw é uma das cidades mais bonitas da Polónia.

É altura de recuperar a frase do presidente da câmara — foi quando regressou à Polónia que a cidade se sentiu segura para procurar uma identidade, verdadeira e definitiva. Demorou 70 anos a encontrá-la, tentando fundir a atmosfera do passado com os seus novos habitantes.

Se outras capitais europeias de cultura foram oportunidades para cidades revitalizarem zonas urbanas, criarem uma rede de equipamentos culturais (aproveitando o modelo de financiamento da iniciativa, que conta com dinheiro de Bruxelas e local) ou de porem no mapa do turismo os seus museus e monumentos, Wroclaw avançou para uma abordagem diferente. Até ao fim do ano, haverá exposições, concertos, performances, mas haverá sobretudo “um espírito de cidade multicultural e aberta”, como disse o organizador do Despertares, Chris Baldwin (foi ele que concebeu o espectáculo de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012). Wroclaw propõe tornar-se “um laboratório do futuro”, aceitando finalmente que tem de haver “um diálogo entre o seu passado e o seu futuro”.

O espírito vibrante e cosmopolita da Breslau do pré-guerra já está de volta — começou a regressar em 1989, quando o Muro caiu e o isolamento acabou. O bairro universitário é uma cidade dentro da cidade e por ele circulam 150 mil estudantes, mais de um quarto da população da cidade de 630 mil habitantes. Mal a noite cai, muito cedo, no Inverno da Baixa Silésia, os estudantes povoam os milhares de cafés e bares do centro da cidade.

São modernos e urbanos, como o Neon, na Rua Ruska, onde foi instalada uma exposição temporária de néons de empresas do período comunista. Estão pendurados nas traseiras de prédios altos — são “salpicos cinzentos” —, criando uma atmosfera industrial e decadente.

São tradicionais, o que nesta zona da Europa significa cervejarias. Na Spiz, em pleno Rynek, é preciso paciência para se conseguir uma mesa e provar uma das cervejas que ali se fabricam (entrar nesta cervejaria é também visitar um pequeno museu industrial). Será mais fácil quando o Inverno acabar e reaparecerem os “jardins de cerveja” (esplanadas). A Wiezienna fica no pátio da antiga prisão medieval e a esplanada da Mleczarnia aproveita a sombra da Sinagoga White Stork, no antigo quarteirão judeu que agora faz parte do bairro das quatro religiões, porque ali estão também templos das religiões católica, protestante e ortodoxa.

Também há bares antigos e muito elegantes, como o Kalembur, um sobrevivente da era pré-guerra (as bombas não o apanharam). É, por isso, o bar mais antigo da cidade, e um dos mais bonitos, com o mobiliário em madeira escura, os candeeiros e os pormenores de decoração Arte Nova em ferro. Uma nuvem de fumo envolve a sala e, em fundo, ouve-se música de época.

Podíamos estar em 1900, quando a cidade era o reflexo da abastança desta região industrial, comercial e académica (a primeira universidade é setecentista) e no meio de uma rua passeavam homens poderosos e jovens aristocratas, como Manfred von Richthofen, o barão vermelho, o “ás dos ases” da aviação na I Guerra Mundial, que ali nasceu e cresceu.

Podíamos estar em 1933, quando pelas ruelas e vielas da cidade o fatalista e erudito inspector Eberhard Mock circulava por entre espiões, agentes da Gestapo e judeus em fuga para resolver mistérios e assassínios. O escritor polaco Marek Krajewski criou Mock e fez dele protagonista de dez livros, todos de época, todos passados em Breslau; Death in Breslau, de 1999, é o primeiro. Ao lê-lo, ao caminharmos pela rua, ao bebermos um copo num bar — é preciso falar noutro, o Przedwojenna (também perto do Rynek, velha taberna que está igual ao que era na era comunista) — viaja-se no tempo para muitos mundos perdidos.

Agora, Wroclaw quer a ser uma cidade sem tabus, que aos poucos recupera o passado e começa a assumir as suas vergonhas e medos. E quer ser tolerante. Conseguirá, nesta Polónia que volta a fechar-se a uma certa ideia de Europa?

Na gala de inauguração da Capital — um concerto de homenagem ao grego Iánnis Xenákis, porque foi uma ministra grega, Melina Mercouri, que fez nascer as capitais europeias de cultura —, o público vaiou o ministro da Cultura do Governo do Partido Lei e Justiça, Piotr Glinski, que se pôs a dizer que “o sistema de valores cristãos da Europa” está em perigo e que a democracia corre riscos no seu país. Em Novembro do ano passado, o ministro tentou proibir que em Wroclaw se representasse A Morte da Donzela, do dramaturgo e Nobel da Literatura Elfriede Jelinek — disse que era uma peça “pornográfica”.

Na sala de concertos, chocaram duas Polónias, perante o silêncio do comissário europeu de Cultura, Tibor Navracsics, que é da Hungria, outro país em deriva populista e ultranacionalista na União Europeia.

“O tempo dos nacionalismos já passou”, respondeu o presidente da câmara de Wroclaw, que já tinha dito à Fugas: “A Polónia é um país europeu, muito europeu, e é essa a mensagem que a cidade quer passar à liderança europeia — o nosso lugar é aqui”. Na cidade, e em toda a Baixa Silésia, o nacionalismo do Lei e Justiça foi rejeitado nas urnas e o presidente da câmara, antigo membro do Solidariedade, é um independente apoiado pelos liberais.

Wroclaw começa o seu ano de Capital Europeia de Cultura com um braço-de-ferro com Varsóvia. Mais uma vez, corre riscos por querer ser uma cidade modelo — multicultural, tolerante, ocidental. “Esta Capital Europeia não significa nada para o actual Governo, que tem os ouvidos tapados. Mas vai dizer alguma coisa à Europa sobre o que realmente querem os polacos, sobre o que realmente os polacos são: europeus. Se tivermos que nos bater por isso, já estamos habituados”, diz Agnuska, que tem 26 anos, trabalha num banco e também batia os pés de frio à espera de ver o Despertares.

É verdade, Wroclaw também tem um passado de resistência, e também há muitos vestígios dele nas ruas da cidade. É preciso ir de cabeça baixa, de olhar no chão, para os ver — os pequeninos krasnale (duendes) de bronze estão semeados por todo o lado, assinalando lugares históricos e velhas profissões.

Mas o primeiro de todos, grande e gordo, “plantado” em 2005, não tinha essa função. Apareceu no lugar onde nasceu a Alternativa Laranja, o movimento de oposição lançado pelo artista plástico Waldemar “Major” Fydrych e que se espalhou por toda a Polónia. Nos anos de 1980, Fydrych realizou sessões de debate e pequenas manifestações no centro de Wroclaw; na cabeça, usava sempre um barrete de krasnale. Laranja, por oposição ao vermelho, do comunismo.

Uma capital europeia de cultura em sete momentos

A Capital Europeia de Cultura 2016 tem programados 400 projectos e mil iniciativas de literatura, arquitectura, teatro, artes visuais, cinema, música, performance.

Sonoridades
Um conjunto de esculturas de Eduardo Chillida é mostrado na galeria BWA Avant-Garde. As obras estão expostas num cenário construído na forma de dois corredores negros, para potenciar o efeito do abstracto com as duas peças de música contemporânea compostas propositadamente. O artista basco foi escolhido porque Wroclaw quis ser uma cidade em diálogo com a outra capital europeia de cultura, San Sebastián, onde nasceu o artista plástico basco. A exposição pode ver-se até 13 de Março.

Made in Europa
Uma mostra de todos os galardoados e finalistas do Prémio Europeu de Arquitectura Mies van der Rohe, de 1988 a 2013, e exposição sobre o concurso de 2015, ganho pelo estúdio de arquitectura Barozzi Veiga (espanhol) por um projecto construído na Polónia, a sede da filarmónica de Szczecin. No Museu de Arquitectura de Wroclaw, de 16 de Fevereiro a 27 de Março.

60 anos de música
Ao Millenium Hall chega a tournée mundial com que Ennio Morricone está a celebrar a sua carreira de compositor, sobretudo ao serviço do cinema. Ele que acaba de ganhar um Globo de Ouro pela banda sonora de Os oito odiados, de Quentin Tarantino. Morricone estará a dirigir a orquestra e o coro, no dia 23 de Fevereiro.

Mundo sem Liberdade
Um ciclo de cinema abordando a temática da ditadura e do totalitarismo. No cinema Novos Horizontes, de 11 a 20 de Março. No mesmo local, entre Março e Novembro, serão exibidos documentários que mostram a cidade ao longo da História num outro ciclo chamado Fotogramas de Wroclaw. Ainda no mês de Março poderá ser visto um conjunto de filmes sobre a história do sindicato Solidariedade. A língua poderá ser um obstáculo (estão previstas legendas em algumas obras), mas há imagens que valem por si.

7 Maravilhas de Wroclaw e da Baixa Silésia
Uma exposição no belíssimo edifício da antiga câmara municipal vai mostrar o melhor da cidade e da região na paisagem, na língua, na arte, na ciência, na arquitectura e na religião. Lá estará a ilha das catedrais (que também se deve ir ver ao vivo e a pé); lá se explicará como a Silésia foi, em tempos, uma Babel linguística (o escritor Marek Krajewski é um dos que vai ler excertos de livros históricos); lá se mostrarão obras perdidas ou roubadas na II Guerra Mundial; lá se explicará como ali existia um “lugar de encontros” (foi como João Paulo II, o Papa polaco, chamou a Wroclaw) de polacos, judeus, alemães e checos que é preciso recuperar. De 3 de Fevereiro a 15 de Maio.

Flow
É um espectáculo de rua, que vai ter lugar nas margens do rio Oder, e que evocará a destruição e reconstrução da cidade no século XX. É um projecto do director artístico Chris Baldwin, que quer envolver nesta encenação com múltiplas performences a população da cidade, mas também o rio, os parques, as pontes. Dia 11 de Junho.

The World as a Place of Truth
Wroclaw recebe a sétima edição do Theatre Olympics, que se realiza de quatro em quatro anos em cidades diferentes. A edição deste ano vai explorar o tema O mundo é um lugar de verdade — uma frase que foi usada pelo Instituto Grotowski para promover o teatro — e no festival vão estar Tadashi Suzuki, Robert Wilson, Wole Soyinka, Peter Brook, Eugenio Barba e Romeo Castellucci. De 14 de Outubro a 12 de Novembro no Teatro Olympics.

GUIA PRÁTICO

Onde comer

Mercado
Nesta cidade da Baixa Silésia abundam lugares para comer ou petiscar. E os preços, devido ao câmbio favorável ao euro (1 euro vale 4,4 zlotis), ajudam à escolha. Comece-se pelo Mercado, um edifício industrial do princípio do século XX onde, além de se comprar produtos frescos, há alguns pequenos restaurantes com pratos típicos. Uma sopa mais uma porção de zienniaki (puré de batata) com couve, ou uma dose de rolo de carne frito, não ultrapassa os 7-8 zlotis (dois euros).

Piwnica Swidnicka
É a mais antiga cervejaria da Europa, na cave do antigo edifício da câmara municipal (um dos poucos que não foram destruídos na II Guerra Mundial, junto ao Rynek). Fundada em 1273, produzia até há pouco tempo a sua própria cerveja e tem na carta pratos polacos mas alguns que invocam o passado alemão da cidade. Um pernil — dá para três pessoas — de porco com acompanhamento de batata e couve custa 70 zlotis.

Mleczny
Não é um restaurante, é uma cadeia de cantinas e encontram-se em toda a Polónia (e em alguns países do antigo Bloco de Leste). O nome significa bar de leite, que na época comunista servia exclusivamente os operários, que tinham direito a uma porção de leite. São subvencionadas e, por isso, tremendamente baratas. Servem literalmente comida caseira, no sentido que servem o que os polacos comem em casa: rolos de couve rechada com arroz e carne, puré de batata com couve, croquetes de massa com recheios variados e muitas sopas. É possível fazer uma refeição completa (bebida incluída, por exemplo o caldo de fruta cozida servido frio) por menos de um euro. Há regras: as mesas devem ser deixadas como foram encontradas, limpas e arrumadas. No Rynek há uma, o Mis (pronuncia-se “misha”).

Pierogarnia Stary Mlyn
Em pleno Rynek com uma decoração tradicional, serve pierogi, os pastéis tradicionais de massa recheados. O clássico tem recheio de batata e queijo, mas também podem ter carne, cogumelos e repolho.

Onde dormir

Mleczaria Hostel
No Rua Pawla Wlodkowica, no bairro judeu, com a sinagoga nas traseiras. Não serve pequeno-almoço, mas tem uma fiada de bistrôs, bares e cervejarias colados. Os quartos privados custam 20 euros, um lugar nas camaratas custa dez.

Bemma Hostel
Junto ao mercado, tem quartos individuais e partilhados a partir de 18 euros. Cozinha e casas de banho são partilhadas. Na Rua Kazimierza Wielkiego.

Arts Hotel
É um hotel de quatro estrelas nas traseiras da igreja de Santa Isabel — e da sua torre de mais de 300 andares, que se pode subir por 5 zlotis —, perto do Rynek. Tem um bom pequeno-almoço e custa entre 46 euros (uma pessoa) e 58 (quarto com duas camas).

A Fugas viajou a convite da Capital Europeia de Cultura, Wroclaw 2016

--%>