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Casa Assombrada: “I see dead people”

Por Leonete Botelho

Não é preciso qualquer sexto sentido para sentir as presenças na escuridão. Na Casa Assombrada de Belas, a experiência é nítida, real e muito assustadora. Se entrar nesta Sintra Horror Story, terá medo, muito medo!

Só as faixas exteriores a assinalar que a propriedade é da Câmara Municipal de Sintra atenuam vagamente a aura de mistério que envolve a Quinta Nova da Assunção. Bem perto do cemitério de Belas, com enormes estátuas e árvores despidas nos jardins, o palacete cor-de-rosa do século XIX é o cenário ideal para esta Sintra Horror Story. Uma experiência de medo, muito medo, que os mais sensíveis podem não aguentar até ao fim e os mais resistentes levarão algum tempo até voltar a andar na escuridão sem um arrepio.

De pouco vale ao visitante saber que a experiência Casa Assombrada de Belas é proporcionada por um grupo de teatro — Reflexo, associação cultural e teatral, especializada em teatro infantil e dinamizadora de eventos como o Sintra Press Photo e o Córtex, festival de curtas de Sintra. Na Reflexo trabalham sete actores, mas só para o projecto Casa Assombrada são precisas 13 pessoas. Um número sugestivo para quem afirma que o medo é psicológico, mas vai provocá-lo de muitas formas, misturando muito pouco de realidade com uma grande dose de sugestão, num cocktail inebriante que demasiadas vezes nos tolda a lucidez.

Desde que abriu portas, em Junho do ano passado, a Casa Assombrada de Belas já recebeu mais de 4000 visitantes. Chegou a ter uma lista de espera de outros 4000, mas, para evitar esta situação, as marcações passaram a ser feitas onlinereservas.casaassombrada@gmail.com — a partir do dia 15 de cada mês. Na página do Facebook surgem também as vagas mais próximas, permitindo a reserva ali. O preço são 15 euros por pessoa e em cada visita são admitidos grupos de nove pessoas.

Chega-se sempre de noite — as visitas decorrem às quintas, sextas e sábados, entre as 21h e a meia-noite. O percurso da casa é feito em pequenos grupos, com momentos a solo, e demora cerca de 50 minutos — o tempo necessário para percorrer as 25 divisões da mansão, praticamente às escuras, e nelas procurar pistas para, por fim, encontrar a saída e conseguir escapar ao próprio medo.

Logo na entrada, o “mordomo” inicia-nos no jogo da imaginação. Conta-nos histórias da casa, supostamente relatadas pelos moradores da zona. José Maria da Silva Rego mandou edificar o palacete em 1863 e deu à propriedade o nome de Quinta Nova da Assunção em homenagem à sua esposa, Maria da Assunção Vieira. A casa, vizinha do cemitério de Belas, esteve abandonada durante muitos anos até que, na década de 1990, a Câmara de Sintra a adquiriu e recuperou, usando-a para algumas exposições.

O projecto Casa Assombrada de Belas surgiu por acção do vereador da Cultura da Câmara de Sintra, que convidou o grupo de teatro Reflexo a animar a Quinta Nova da Assunção, na sequência de um outro projecto de casa assombrada que o grupo tinha dinamizado em Santos, Lisboa. O grupo fez então recolha de algumas histórias e criou muitas outras.

Até aqui, são factos. O resto, não se sabe. Ficamos sem saber se são reais os relatos de estranhas figuras avistadas pelos visitantes mas que não fazem parte da encenação do Reflexo. Ou se existiu mesmo a jovem e bela Beatriz, para ali levada por um grupo de seguidores de cultos de magia negra para participar em obscuros rituais nocturnos. E que nos vai acompanhar nesta visita.

Dão-nos então um audio-guia, uns auscultadores que teremos de usar na primeira parte da experiência, feita em grupos de três pessoas e que não podemos retirar dos ouvidos ao longo do primeiro piso. “Boa noite, bem-vindo à Casa Assombrada”, diz-nos uma voz grave e profunda, convidando-nos a entrar no mundo das trevas. Tudo a partir dali é escuridão. Em cada divisão, uma nova experiência. Até que os olhos se habituem e comecem a vislumbrar as sombras, tudo é desconhecido.

A voz profunda e grave vai-nos contando histórias, da casa e não só. E não só histórias. Ruídos aterradores acompanham-nos. Fotografias de “gente que já não está entre nós” vão aparecendo, sempre com avisos de que é preciso permanecer alerta para conseguirmos recolher as pistas necessárias à parte de jogo desta experiência.

Somos confrontados com os mais sugestivos ícones do terror. Há monstros debaixo da cama? Fantasmas escondidos em armários? Que escondem os cantos recônditos do palacete que, visto de dentro, de cor-de-rosa não tem nada? O fantasma de Beatriz já se agita no sótão da nossa cabeça a meio da primeira parte. Temos medo, muito medo! E ainda estamos a começar…

Recolham-se as pistas possíveis, as que o susto não tolda. Vão ser preciosas no andar de cima. O grupo junta-se, discute-as. Começam então os movimentos a solo. São 11 quartos, cada qual com a sua assombração, em três níveis de terror. Agora é ainda mais importante estar atento aos sinais. A nossa libertação da casa depende disso!

Por essa altura já houve várias desistências. Há quem chame pelo André logo no andar de baixo. A senha para sair mais cedo é “André, quero desistir”. E é rara a noite em que alguém não o faz. Lá em cima, os mais susceptíveis têm outro refúgio. Mas não estarão a salvo dos gritos assustadores dos corajosos companheiros de aventura que arriscaram enfrentar sozinhos a escuridão de cada quarto.

O “mordomo” agora está connosco, ajuda-nos a encontrar a luz ao fundo do túnel. Saímos a tempo de confirmar que a tempestade que ouvíamos era real. As estátuas do jardim sem luzes prolongam a angústia já do lado de fora, onde nos esperam para uma “limpeza” espiritual. Bem precisamos de velas nessa altura. Estamos sem pinga de sangue! E já só pensamos na ginjinha que vamos beber na rústica Tasca de Bellas, no centro da vila, parceira do grupo de teatro nesta experiência assombrosa.

Casa Assombrada de Belas
Quinta Nova da Assunção
www.facebook.com/projecto.casa.assombrada/
Inscrições online a partir do dia 15 de cada mês
Preço: 15€

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