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Ricardo Magalhães é vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) desde Julho

Ricardo Magalhães é vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) desde Julho Marco Maurício

Ricardo Magalhães: "Falta energia vital" ao Douro

Por Mara Gonçalves

No dia em que se assinalam 15 anos desde a classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade pela UNESCO, Ricardo Magalhães, actual vice-presidente da CCDR-N e nome incontornável na região demarcada mais antiga do mundo, faz um balanço do que mudou na região desde 2001 e aponta o que ainda falta fazer.

Decorreram 15 anos desde a classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade pela UNESCO. O que mudou na região desde 2001?

O Alto Douro Vinhateiro é, agora, uma marca internacional e 15 anos foi o tempo necessário para se afirmar como uma região do mundo. O passo de gigante que o território deu foi no sentido de internacionalizar-se, muito à custa da aposta na promoção dos seus produtos e das suas quintas, já não só conhecidas por produzirem vinhos de excelência mas também por terem excelentes anfitriões. No Douro, nunca estaremos perante um destino de massas. Esse desígnio não nos serve.

Neste contexto, tem sido feito um forte investimento a vários níveis com ganhos de atractividade e urbanidade patentes na paisagem. As cidades e as vilas, centradas nas pessoas, são hoje espaços muito focados na cultura. Ressalvo a importância da conservação e da valorização do património cultural urbano em curso, em especial que favoreça a inclusão social. O papel da cultura no desenvolvimento urbano reflecte-se não só na melhoria do bem-estar e no enriquecimento da população, como também no reforço da atractividade dos principais aglomerados. Já muito foi feito. Teremos, ainda assim, de continuar a conseguir uma relação mais estreita entre a cultura e o espaço vinhateiro, entre as políticas culturais e as políticas urbanas.

Quais são as forças da região?

São várias e resumem-se na conjugação virtuosa entre a paisagem, autêntica e genuína, e a capacidade do homem, que dela tem sabido tirar proveito através da viticultura e do turismo. Coisa de génio. À geração actual está cometida a responsabilidade de dar seguimento ao testemunho de uma história que começou há mais de 250 anos, naquela que foi a primeira região vinhateira demarcada do mundo. Acresce o papel decisivo que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro tem vindo a assumir enquanto polo central da divulgação do conhecimento e de boas práticas.

E as suas debilidades?

De novo as pessoas, mas desta vez dada a percentagem assinalável de população envelhecida. O território não se pretende só atractivo para os visitantes ou investidores. Tem de ser uma região que seduza quem é de cá, que demonstre capacidade de fixar os jovens que aqui nascem. Falta energia vital. A aposta no empreendedorismo e a mobilização de recursos humanos qualificados são passos a trilhar na afirmação do Douro.

O que é que falta fazer na região para atingir o seu potencial máximo (turístico, económico, social...)?

Dois exemplos: primeiro tiraremos a breve trecho o melhor partido da navegação do rio Douro, que tem ainda uma grande margem de progresso. Isso será fundamental tanto no transporte de pessoas como de mercadorias. Depois é necessário apostar num programa contínuo de projecção e animação do Douro que combata a sazonalidade. Temos de saber tirar partido de redes de parceiros para uma estratégia global do património edificado monumental, mas também do paisagístico, imaterial e oral.

O que pode trazer o futuro em termos de sustentabilidade e de desenvolvimento das populações?

O Alto Douro Vinhateiro tem de saber tirar proveito de uma comunicação em rede dos bens Património Mundial. Pretendemos, em concreto, um papel activo na rede de regiões vinícolas que ostentam o selo da UNESCO e acresce também que depositamos confiança no trabalho da Rede Nacional do Património Mundial.

Por outro lado, o desenvolvimento do território e das populações passará, ainda, por uma proximidade cada vez maior entre a Universidade de Trás-os-Montes e as empresas da região. A aposta na transferência do conhecimento já teve início e as atenções estão voltadas para o Douro RegiaPark. Há que confirmar até onde a aposta na inovação, por exemplo na área da enologia, será determinante para levar a região para um outro patamar.

Destaco, ainda, a importância da execução dos acordos estabelecidos entre as universidades da Região do Norte, os núcleos empresariais e as associações culturais.

 

Ricardo Magalhães é vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) desde Julho, cargo que tinha ocupado previamente em duas ocasiões (1991-1994 e 2005-2007). Em 2001, quando a UNESCO classificou o Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade, Ricardo Magalhães era então secretário de Estado adjunto da ministra do Planeamento. Entre 2007 e 2012 foi chefe de projecto da Estrutura de Missão para a Região Demarcada do Douro.

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