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Sámi, cem anos de reconciliação

Por Sousa Ribeiro

Estão divididos por quatro países, num total de 70 mil, mas foi em Trondheim, em 1917, que os sámi, esse povo indígena que é um símbolo de resistência, se reuniu pela primeira vez para um congresso histórico. Pretexto para uma viagem que parte de Trondheim, sobe até Alta e vai até Karasjok.

Em comum têm, desde logo, o facto de terem nascido todas mulheres.

Lisa Barrock, Brita Brantfjeld, Sofie Mathiasen, Malla Vesterfjeld, Kristine Stinnerbom, Elsa Laula Renberg, Ellen Lie, Ellen Olsen, Gunhild Granefjeld, Anna Andersen e Maria Perdersen.

São 11 mas não representam uma equipa de futebol feminino de um qualquer país escandinavo.

Em comum têm, também, o curioso detalhe de todas elas terem feito parte do Comité de Organização do primeiro congresso do povo sámi que teve lugar há precisamente cem anos, entre 6 e 8 de Fevereiro de 1917, em Trondheim, a cidade que será sempre um ponto de referência para esta minoria e que desempenhou um papel relevante na definição das relações inter-étnicas entre os noruegueses e os nativos.

Trondheim está situada não muito longe dos territórios habitados tradicionalmente pelos sámi mas a explicação também pode residir no facto de o Nidelva, rio que cruza a cidade, ter a sua nascente no lago Selbusjøen, a sul das montanhas com as quais os aborígenes estão tão familiarizados. A religião teve, igualmente, um certo peso nesta aparente  empatia entre indígenas e Trondheim.

Em termos oficiais, a Noruega tornou-se um reino católico há quase mil anos, em 1030, coincidindo com a circunstância de, por essa mesma altura, Trondheim se ter transformado na capital do país, um estatuto que manteve durante quase 200 anos, até 1217, há precisamente 800 anos, quando obedecia à toponímia de Nidaros, numa clara referência à sua localização, na foz do curso de água a que também chamam Nid. E Nidaros, sendo capital, passou a ser igualmente diocese, abraçando uma parte significativa do extenso território dos sámi, designado por Sápmi, e de acordo com um plano que nada mais defendia do que os seus interesses expansionistas.

Perante este quadro ambicioso, em muitas áreas, mas mais ao longo da costa, o contacto a nível cultural entre os sámi e os cristãos era já uma realidade em pleno século XI e, durante a Idade Média, há evidências de uma proximidade gradual daquela minoria étnica às crenças cristãs, ainda que sujeitas a uma interpretação personalizada.

 

Impostos para todos

Para melhor se perceber este fenómeno é necessário recuar até ao século XVI, quando, pelo menos de um ponto de vista geográfico, ainda não se podia falar de fronteiras na comunidade sámi. Com efeito, esse século determina, na prática, o início de uma intervenção que visa acelerar a colonização de um povo impotente para se libertar do jugo imposto, em simultâneo, por três países (quando a Noruega e a Dinamarca eram um só, mais a Rússia e a Suécia) que não tiveram dificuldade em perceber a riqueza do Norte distante ao nível das pescas e o potencial mineiro no interior, obrigando os sámi a pagar, ao longo de todo esse século XVI e ao abrigo da reivindicação de soberania, impostos a todos eles (ou pelo menos a dois).

De forma consciente ou não, a igreja serviu, nessa altura, de instrumento à expansão dos estados — cada igreja construída, com maior ou menor dimensão, na área tradicionalmente ocupada pelos sámi, constituía mais uma etapa nesse processo de aculturação e de colonização, de integração forçada no sistema eclesiástico nacional e materializada através do baptismo e da participação nas celebrações religiosas,   aumentando a população nacional em detrimento do povo sámi.

Outras doutrinas, baseadas em pensamentos do Antigo Testamento, também contribuíram para fomentar os receios dos sámi, a verem a relação entre as suas terras e Deus de uma outra forma, na convicção de que só delas poderiam tirar partido no caso de trilharem os caminhos da fé. Muitos outros episódios se seguiram, xamãs sámi foram condenados à morte, instrumentos sagrados desapareceram e locais de sacrifício destruídos, até que em meados do século XVIII já nada mais restava, pelo menos em público, das práticas religiosas dos indígenas.

 

Uma mulher dinâmica

As primeiras décadas do século passado correspondem, efectivamente, ao momento em que a população sámi, contabilizando nos dias de hoje quase 70 mil almas (mais de metade, 40 mil, vivem em território norueguês, cerca de vinte mil na Suécia, seis mil na Finlândia e os restantes na Rússia), se começou a organizar.

Entre as 11 mulheres que a história dos sámi se encarregará de perpetuar, uma, Elsa Laula Renberg, assumiu um papel de destaque, figurando como a grande pioneira de um evento que este ano será celebrado em Trondheim com uma série de manifestações culturais que prometem atrair muitos olhares. Elsa Laula Renberg, política e activista que nasceu na Suécia e morreu (de tuberculose) na Noruega, escreveu e publicou, ainda em 1904, um panfleto contendo trinta páginas (Enfrentamos a vida ou a morte? A verdade sobre a situação lapã) em que colocava em causa o sistema educativo, o direito ao voto e de propriedade das terras na perspectiva, pouco animadora por esses tempos, dos sámi.

Desdobrando-se em contactos, Elsa Laula Renberg dedicou uma grande parte da sua existência a encorajar as mulheres sámi a trabalhar e a apoiar a causa comum, despertando a consciência, até aí adormecida, de um povo subjugado ao longo de séculos. Sem ela, sem a sua motivação e constantes viagens, pelo Norte e pelo Sul, na Noruega e na Suécia, para mobilizar a população silenciosa, provavelmente Trondheim não teria assistido a esse acontecimento histórico, verdadeiro símbolo da resistência sámi — ao congresso que exacerbou o orgulho da minoria e hoje é festejado anualmente, permanecendo a data de 4 de Fevereiro como o Dia Nacional dos Sámi.

 

Pinturas rupestres

Um dia, sob um céu sem uma única nuvem, aterrei em Alta, os motores do avião ficaram ainda a trabalhar mas não tive de esperar mais do que uma hora para ser entregue a um silêncio que me apaziguava a alma. Era Verão, sabia que ao dia se seguia o dia, mas a memória de noites intermináveis, preso às trevas eternas, martelava-me o cérebro como gotas de chuva desprendendo-se de uma abóbada carregada de tonalidades de um cinzento de chumbo.

Acontece-me com frequência, como viandante, levar os meus passos vagarosos ao encontro de um lugar, de um recanto, de um monumento ou simplesmente, como em Alta, de um passeio que mordisca a água para acreditar que, mais do que um reencontro com o espaço físico, aquele será o momento em que voltarei a viver, talvez ainda com mais paixão, a história gravada na alma de um tempo feliz — revisitar lugares é como deixar que as pernas levem o corpo para a frente, enquanto a memória teima em andar no sentido oposto.

A um suspiro segue-se um murmúrio mas este último tem a particularidade de me despertar para a realidade, como a dinâmica de Elsa Laula Renberg terá despertado os sámi para a inércia em que navegavam na alvorada de um novo século.

É Verão e, ao contrário desse tempo de lembranças tão gratas, manchando o meu ser de luz e o quotidiano de escuridão, tenho agora a possibilidade de percorrer novos trilhos, sempre tão envoltos na quietude, que me levam a novas descobertas e me conduzem a uma existência mais rica. Desta vez aproveito para, após uma curta viagem de autocarro até Hjemmeluft, visitar o admirável museu de arte rupestre, caminhando por passadiços que revelam a todo o momento um conjunto de pinturas que atestam da existência de actividade humana já em tempos pré-históricos (entre 4200 e 500 anos a.C.), razão pela qual a UNESCO integrou todo o conjunto na lista de Património Mundial. A panorâmica sobre o fiorde, as enormes extensões de terra à volta, a luz mágica, a harmonia da paisagem, tudo por aqui assume outra dimensão e obriga, com frequência, a desviar o olhar das pinturas e gravuras que retratam cenas da vida de pescadores e caçadores. 

Regresso a Alta, o sol é um disco que não me larga, suspenso no céu como uma bola atirada por algum menino, a luz inunda tudo à minha volta, faz-me renunciar ao combate para adormecer. Desisto. Saio para a varanda e vejo a cidade à minha frente, silenciosa, fantasmagórica, por ela caminho distraído e mesmo ausente, lembrando os dias tão diferentes, que é como quem diz essas noites em que os céus eram telas sobre as quais corriam cores pinceladas por pintores e não esse fenómeno místico que em tempos remotos era visto como um prenúncio de um castigo, um recordatório do dever de cumprir as leis, um presságio de pestes e guerras mas que, para os sámi, nada mais significava do que uma saudação das almas dos seus antepassados ou simplesmente virgens dançando nos céus — prefiro esta visão sobre a aurora boreal.

 

Capital cultural

Em Karasjok, uma neblina sem expressão tornava menos puro o azul do céu. É na capital dos sámi, com tanto espaço órfão de construções, que, quatro vezes por ano, os autóctones se reúnem no Parlamento; chegam de todos os lados do país, muitos mesmo têm as suas vidas em Oslo e só nestes dias se vestem como se veste um sámi porque em todos os outros, que são muito mais, trajam como o mais comum dos cidadãos noruegueses, como alguém que, de repente, depois de tanta luta, tendo esquecido todo o trajecto de uma mulher como Elsa Laula Renberg, renuncia ou pelo menos deixa de reinvidincar as suas origens.

São educados como noruegueses, nas paredes das suas casas colocam fotos de Jesus e, provavelmente quando olham para a imagem de Cristo, não raras vezes ao lado de um rei que não faleceu assim há tanto tempo, até pensam que o melhor mesmo é silenciar o joik, esse canto tradicional, de uma beleza rara; até final dos anos 1970, a língua sámi foi proibida e entoar essas canções é, para os mais velhos pelo menos, como que um pecado que se comete, uma desobediência face ao poder instalado, uma outra vertente de colonização, mais subtil, que até a tecnologia, sem se dar conta, exacerba: como se pode escrever em sámi quando todos os teclados dos computadores estão apenas preparados para escrever em norueguês?

Escrever em sámi é impossível, vestir como um sámi sai caro — uma mulher terá de gastar quase 1500 euros para ter um vestido e mais ou menos a mesma verba para adquirir um cinto dourado, brincos e jóias de prata, sem esquecer botas de pele e um gorro, entre outros apetrechos; o melhor mesmo é percorrer uns quilómetros e beber, por um preço mais em conta, algo que nos aqueça, como nesses dias de Inverno que a memória, continuando a caminhar para trás, regista. A fonteira com a Finlândia está a dois passos, é só caminhar para a frente. Em busca de mais memórias, enquanto transporto outras de uma paisagem que era branca, imaculadamente branca, como uma noiva gigantesca com pressa de chegar ao altar.  

 

Rei morto, santo posto

Contra o céu azul projecta-se, na sua imponência, a Nidaros Cathedral, que é, mais do que a catedral de Trondheim, o santuário nacional do país. Os trabalhos iniciaram-se em 1070 mas dessa época não resta qualquer vestígio — a parte mais antiga remonta a meados do século XII, mas aquela que é considerada a mais importante atracção histórica da cidade foi alvo de grandes obras de restauro em 1869, um trabalho que continua por concluir mais de um século depois.

Deixo a visita à catedral e a sua história para mais tarde.

A curta distância do templo religioso, em tempos um dos maiores centros de peregrinação da Europa, lugar de coroação de reis e da sua última residência, tenho o palácio do Arcebispo, um dos mais bem preservados complexos do género do continente europeu que começou a ser levantado na segunda metade do século XII e serviu de residência do bispo até 1537, ano da Reforma Protestante. Nas suas diversas alas, erro por museus que traçam os passos da cidade e que incluem, entre muitas outras curiosidades, esculturas originais da catedral e descobertas arqueológicas da sua história que tanto dramatismo encerra.  

Trondheim é uma cidade que dedica uma parte significativa da sua existência à música, conforme atesta a popularidade de dois dos museus que abriga: um, inaugurado apenas em 2010, o Rockeim, orgulha-se de ser o centro da música rock e pop, bem como uma das mais recentes atracções desta urbe que, embora contando com pouco mais de 170 mil habitantes, é a terceira maior da Noruega, logo depois de Oslo e Bergen.

Localizado num impressionante edifício na zona portuária (está dotado de um restaurante com uma vista soberba sobre a cidade), o Rockeim — significa literalmente casa do rock — exibe o melhor da música popular norueguesa desde 1950 até aos nossos dias, através de exposições, experiências interactivas, sem ignorar os concertos; o outro, o Ringve, é o museu nacional da música e dos instrumentos musicais, acolhendo duas mostras permanentes, uma numa mansão, aberta somente entre Abril e Outubro, englobando a secção mais antiga e preservada de forma exemplar, tal e qual como foi idealizada pela fundadora do Ringve, Victoria Bachke, quando inaugurou o espaço em 1952; a outra exposição funciona no Barn, tem as suas portas abertas durante todo o ano e está mais focada nos sons modernos e nas novas tecnologias musicais.

Trondheim é daquelas cidades que, embora ocupando uma área pouco extensa, tem de tudo um pouco, para todas as idades e gostos, em parte devido ao papel fundamental que desempenhou, num passado distante, no desenvolvimento da cultura nórdica. Conhecida em tempos ancestrais como Kaupangen (que se pode traduzir como mercado ou praça), de acordo com a vontade, expressa no ano 997, do rei viking Olav Tryggvason, tornou-se, mais tarde, Nidaros, servindo nesses primórdios como depósito militar do rei Olav I. Trondheim foi testemunha de respeitáveis acontecimentos na sua área limítrofe, como a célebre luta, em 1179, pela conquista do trono viking, conhecida nos manuais escolares como a Batalha de Kalvskinnet.

Em Trondheim, política e religião estão fortemente associadas à história e ao desenvolvimento da cidade. Não é possível falar de Trondheim sem evocar os primórdios do Cristianismo no país. O rei Olav, o primeiro soberano cristão, teve de expulsar os chefes pagãos de Lade (comunidade vizinha), tão determinados que estavam em perpetuar os méritos dos seus deuses e em evitar que um novo deus se impusesse — uma tese, defendida por alguns estudiosos, leva-nos a acreditar que o lendário explorador Leif Ericson se converteu ao Cristianismo em Trondheim antes de rasgar as águas dos mares a caminho da Gronelândia e da Islândia.

A verdade é que, desde 1152 e durante quase quatro séculos, a cidade foi sede do bispado de Nidaros, um dos mais influentes na região e mesmo no país, conhecendo um fim tão abrupto quão inesperado em 1537, quando os ventos da Reforma Protestante começaram a soprar na Noruega: forçado a abdicar pelos luteranos, o arcebispo teve de viajar à pressa para a Holanda.

A catedral, essa, manteve-se de pé e é na sua fachada, ora elegante, ora austera, que deposito pela segunda vez os olhos. A história daquela que é a maior estrutura medieval da Escandinávia e, em simultâneo, a mais importante igreja da Noruega, tem as suas origens num homem que se tornou um chefe viking antes de ser rei e santo.

Chamava-se Olav Haraldsson, terá nascido em 995 e, como tantos outros na mesma época, começou por gozar os prazeres da vida assentes no tradicional método viking de invadir e atacar até ao dia em que, na sua qualidade de mercenário ao serviço do Duque da Normandia e rei Ethelred de Inglaterra, se converteu ao Cristianismo. Provavelmente influenciado pelos missionários cristãos que já no século X erravam pela actual região do Norte de França, Olav Haraldsson encheu-se de determinação e regressou, em 1015, à Noruega para, após derrotar os seus inimigos, ser proclmado rei.

Conhecido pela sua agressividade, o soberano acreditava que, dessa forma, estava a acelerar o processo de conversão do povo mas, ao mesmo tempo, na sua cegueira, ignorava que, utilizando métodos brutais, hipotecava importantes apoios junto da população. Não foram necessários mais de 13 anos após o seu regresso à Noruega para Olav Haraldsson ser derrotado e forçado ao exílio, sem que o fracasso em momento algum aplacasse a sua sede de poder — pelo contrário, exacerbou a sua necessidade de vingança. O rei organizou-se, formou o seu exército e, decidido a reconquistar o trono, no espaço de dois anos, a 29 de Julho de 1030, estava de novo na frente de uma batalha — de Stiklestad, cerca de uma centena de quilómetros a norte de Trondheim — que desta vez o iria conduzir à morte.

Alguns dos seus apoiantes resgataram o corpo e carregaram-no até às margens do rio Nid, cenário do enterro e, pouco tempo depois, de alguns milagres relatados por anónimos. A popularidade de Olav Haraldsson, visto como um mártir, como o homem corajoso que combatera o rival e “estrangeiro” Knut de Inglaterra e Dinamarca, que lutara pelo fim do paganismo e pela construção de igrejas, corria mais veloz ainda do que os primeiros ventos do Cristianismo que varreram o país — o rei transformava-se numa lenda e no argumento ideal para os seguidores da comunidade religiosa criarem um santo. 

Rezam as crónicas que um bispo foi chamado para investigar os milagres que tanto tempo ocupavam nas conversas entre cristãos. E o bispo, sem perder pela demora, exumou o corpo do rei, encontrou-o intacto, um milagre que não poderia ter outro desfecho — Olav Haraldsson foi declarado santo. Se for verdade o que se conta, passara-se já um ano e cinco dias depois da sua morte; o corpo foi colocado num caixão de prata e sobre a sua sepultura foi construída uma pequena capela que haveria de dar lugar a uma catedral. Rei morto, santo posto.     

       

Guia prático

Como ir

A Norwegian (www.norwegian.com) estabele ligações aéreas entre Lisboa e Trondheim (com uma escala em Oslo) a preços em conta (é possível uma tarifa a rondar os 280 euros para um bilhete de ida e volta) mas opera nesta rota apenas entre finais de Março e Outubro. Se preferir viajar no Inverno, a TAP tem voos directos aos sábados e aos domingos para a capital norueguesa (se reservar com alguma antecedência pode conseguir tarifas, também de ida e volta, na ordem dos 150 euros). De Oslo, a Norwegian tem mais de uma dezena de voos com destino a Trondheim (ida e volta por cerca de 130 euros e uma duração de 55 minutos). Há ainda outras companhias áereas, como a Vueling, a Air France, a KLM e a Lufthansa, entre outras, que servem Oslo — mas todas elas requerem uma escala numa cidade europeia. Caso pretenda viajar directamente para o coração da cultura sámi, sem visitar Trondheim (quase 1400 quilómetros separam as duas cidades), a forma mais prática é voar da capital norueguesa para Alta (há voos diários), cujo aeroporto dista apenas duas horas de Kautokeino e duas horas e meia de Karasjok.

 

Quando ir

 

Em teoria, Trondheim (bem como o resto do país) pode ser visitada em qualquer altura do ano, dependendo do gosto de cada um. Na prática, os meses ideais são entre Junho e Setembro, quando os termómetros registam as melhores médias mas em Outubro, coincidindo com a época em que as árvores começam a ficar mais despidas, também pode ser uma boa altura para se conhecer aquela que é a terceira maior cidade norueguesa. Bem diferente é a situação de Alta, o munícipio mais populoso do condado de Finnmark, e das localidades onde poderá estar em contacto com os sámi, uma área que conhece um clima subárctico, com temperaturas acima dos dez graus apenas durante três meses ao longo do ano. Ainda assim, a precipitação é escassa e o céu vive órfão de nuvens a maior parte do tempo, razão pela qual Alta foi escolhida  como localização perfeita para o estudo da aurora boreal.  

 

Onde comer

 

Trondheim é uma das cidades norueguesas que mais enfatiza a comida local, de preferência acompanhada de uma cerveja também da região. Um dos melhores restaurantes é o To Rom og Kjøkken (www.toromogkjokken.no), na Carl Johans gate, 5, com uma forte inspiração francesa mas baseada nos produtos de Trøndelag.

Muito popular, há já alguns anos, é o Credo (www.restaurantcredo.no), na Ørjaveita, 4,  com ingredientes frescos e oferecendo a possibilidade de escolher entre o espaço gourmet no rés-do-chão ou o mais informal Jossa Mat og Drikke, situado no primeiro andar.

Os três restaurantes citados ocupam, todos eles, um lugar de destaque no White Guide, a resposta da região nórdica ao mais mediático Guia Michelin — em 2016, o Credo classificou-se mesmo em terceiro lugar entre os restaurantes noruegueses.

Finalmente, vale também a pena experimentar os sabores do Folk & Fe (www.folkogfe-bistro.no), na zona histórica de Bakklandet, mais concretamente na Nedre Bakklandet, 6, com muitos dos pratos confeccionados no carvão (aberto de terça a domingo, entre as 17h e as 23h).

 

Onde dormir

Trondheim é uma cidade pequena e compacta, pelo que a maior parte dos hotéis estão situados a curta distância, a pé, das maiores atracções e dos restaurantes. Não sendo um país propriamente barato, Trondheim tem a particularidade de proporcionar uma oferta razoável de espaços com preços mais em conta para quem viaja com orçamentos reduzidos, embora nem todos gozem de uma localização central. Entre eles, estão o Trondheim Apartment Hotel, em Lilleby (a apenas 50 metros da estação de caminho-de-ferro com o mesmo nome), o Trondheim Youth Hostel, em Rosenborg, com singles, duplos e também em sistema de dormitório, e, finalmente, o Sandmoen Bed & Breakfast (www.sandmoen.no), em Heimdalsmyra, ideal para quem viaja em carro alugado e pretende ficar alojado fora do centro da cidade. Ainda mais em conta são os parques de campismo, dois dos quais podem ser encontrados relativamente perto do coração de Trondheim: um, o Storsand Gård  Camping, a sul, o outro, o Flakk Camping, a oeste do centro.

Para aqueles que não abdicam de algum luxo enquanto viajam, Trondheim dispõe igualmente de alternativas capazes de satisfazer os desejos dos mais exigentes. Alguns deles têm uma vocação natural para receberem conferências, como o Scandic Lerkendal e o Clarion Hotel & Congress Trondheim, em Brattøra, mas há outros que seduzem por diferentes motivos — o Scandic Nidelven (www.scandichotels.no), na Havnegt, 1-3, com alguns dos 350 quartos com vista para o rio Nidelven, é extremamente popular e orgulha-se de servir o melhor pequeno-almoço entre todos os hotéis do país (uma classificação que mantém há dez anos) e, caso prefira um pouco mais de charme, pode recorrer ao Britannia Hotel, o mais antigo da cidade e também famoso pelo seu pequeno almoço (terceiro lugar em 2015) e por outras facilidades que incluem o spa.

Em Alta existem múltiplas alternativas de alojamento, entre elas, a apenas seis quilómetros do aeroporto, o Altafjord Gjestegaard & Spa (www.altafjordgs.no), na Bossekopveien, 19, com dez quartos (alguns com vista para o fiorde de Alta) e uma tarifa de cerca de 120 euros — tem também um bom restaurante. Mais ou menos pelo mesmo preço também pode dormir no centro da cidade, na Løkkeveien 61, no Scandic Alta, um hotel moderno e confortável.

 

A visitar

Se a sua visita a Alta coincidir com os últimos dias de Julho e os primeiros de Agosto (entre 28 e 5, mais concretamente), poderá, desde que se sinta em forma, participar no Sykkelfestival, um festival de bicicleta que inclui percursos (uns mais longos do que outros, podendo percorrer uma distância máxima de 700 quilómetros) por estrada através das paisagens selvagens de Finnmarksvidda, o planalto de Finnmark, mas também por trilhos e por cenários onde não raras vezes terá de enfrentar o desafio (considerado o mais duro do género em toda a Europa) de carregar a sua bicicleta para atravessar um rio.

Em Karasjok, aproveite para conhecer o magnificente edifício (desenhado por Stein Halvorsen e Christian Sundby) do parlamento do povo autóctone, inaugurado em 1989 e contendo, entre outras atracções, uma biblioteca com mais de 30 mil volumes, a maior colecção do país de livros e documentos da língua sámi.

Karasjok, onde, com um pouco de sorte, pode ser um dos convidados de um casamento, tem uma população total de 3000 habitantes (nesta região nove em cada dez são sámi mas Kautokeino, um munícipio a sul, tem mais residentes autóctones) e nada mais nada menos do que 60 mil renas. Karasjok é justamente considerada a capital cultural dos últimos nómadas da Europa, palco de importantes eventos, como concertos, uma espécie de festival da canção e é também palco do Sápmi Cultural Park, onde se pode identificar de mais perto com os nativos, com a sua gastronomia, com as suas tradições musicais, os seus costumes, enfim, com o seu modo de vida.  

Em Trondheim, faça uma viagem de barco até à ilha histórica de Munkholmen para admirar a cidade desde o mar. Outra perspectiva interessante para a correr com o olhar, bem como à paisagem que a envolve, é desde o restaurante situado na torre Tyholt, que sobe 74 metros no céu.

 

Informações

Uma vez que a Noruega integra o Espaço Schengen, os cidadãos portugueses não necessitam de visto e podem visitar o país escandinavo com um documento de identificação que tanto pode ser o passaporte como o bilhete de identidade ou o cartão de cidadão.

A língua oficial é o norueguês mas a maior parte da população fala fluentemente inglês, enquanto em Finnmark o sámi e o norueguês dominam as conversas.

A moeda em circulação é a coroa — um euro equivale a pouco mais de nove coroas.  

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