Fugas - Viagens

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O caminho que devolveu a barrinha à população

Por Ana Catarina Peixoto

Entre Esmoriz e Paramos, há desde o fim de Junho oito quilómetros de passadiços para percorrer e descobrir sozinho, em família ou com amigos.

Para muitos, o Verão é a altura do ano para partir na aventura de percursos longos e desvendar lugares com vistas que enchem as medidas. Os passadiços, esses, parecem estar cada vez mais na moda e são uma opção presente nas listas de visita.

Já lá vão os tempos em que passar na barrinha de Esmoriz/lagoa de Paramos, nos concelhos de Ovar e Espinho, era uma tarefa impossível. Desde Junho que estão lá oito quilómetros de passadiços à espera de serem calcorreados. Não se trata de apenas caminhar e ver a paisagem, mas sim de redescobrir um local que sempre existiu, mas nunca foi explorado ao detalhe. É como entrar e conhecer uma nova divisão da casa onde sempre se viveu.

Depois de vários anos a ser assunto de conversa, com promessas várias (e outros tantos recuos) de uma requalificação da barrinha, durante anos a fio fustigada pela poluição, fomos conhecer o novo capítulo da sua história, ouvir quem por lá passa e descobrir os cantos e recantos deste espaço, rodeado pela água da ribeira, pela riqueza da fauna e da flora e pela estrutura de madeira que aguenta firme os passos de quem por lá anda.

A pé, em passo de corrida ou de bicicleta, pode começar a percorrer os passadiços vindo das praias de Esmoriz ou de Paramos, da estação de caminhos-de-ferro de Esmoriz ou até da zona de actividade desportiva. O percurso é longo, por isso leve calçado confortável, água, protector solar e deixe o caos e as preocupações da cidade para trás.

Começamos na estação de Esmoriz e seguimos para o aeródromo e a Ecovia do Litoral. As placas colocadas nos vários pontos ajudam a perceber o que pode ser conhecido, numa obra que rondou os 2,7 milhões de euros. Este é daqueles percursos que exigem tempo para apreciar o que está ao redor. Em todo o lado há um manto de verde intenso que não deixa ver o que se pode encontrar a seguir, mas não esconde a beleza dos 396 hectares de zona lagunar.

Pelo caminho encontramos um casal, Luísa Silva e Rui Oliveira, a caminhar para o lado oposto. Vêm em passo calmo, óculos escuros e ar descontraído, a aproveitar um passeio depois do almoço. Desde que os passadiços foram abertos, caminhar por aqui tornou-se uma rotina de fim-de-semana. “Estes passadiços são excelentes para a preservação da barrinha, porque isto já tem muitos anos e agora estão a requalificá-la outra vez”, comenta Rui, que agora também já pode vir correr para os lados da barrinha. Para Luísa, poder passear neste local é também recordar tempos de infância: “Quando era pequena andava aqui de barco, ia mesmo até ao café e via muita gente de barco que vinha da feira e da zona interior”, relembra.

O percurso continua e há um sossego que não se encontra na cidade, acompanhado apenas do canto dos pássaros, do som da água e, de hora a hora, dos comboios que ainda se ouvem ao longe na estação. As bicicletas são também frequentes, com desportistas equipados a rigor ou visitantes que querem apreciar a natureza de uma outra forma.

Um percurso para todos

Chegamos à primeira zona de descanso, bem afastada do ponto onde iniciamos o percurso. Ao lado de um parque de estacionamento, onde muitos começam o caminho, há uma estrutura, também ela de madeira, com dois bancos largos para os visitantes recuperarem energias e encontrarem abrigo do sol nos tempos de maior calor.

É lá que se encontra sentado Mário Rocha, que decidiu fazer uma pausa pelo caminho e aproveitar para apreciar a paisagem que está à sua volta. Já passou várias vezes por ali, mas desta vez decidiu pegar na bicicleta que tem em casa e partir na aventura de dar a volta completa ao local. “Acho que está porreiro, é bom para as pessoas virem conhecer isto”, diz, enquanto vê chegar mais dois companheiros, também eles de bicicleta, para dar dois dedos de conversa. Mário foi passando pelo local até os passadiços estarem prontos, mas foi na fábrica onde trabalha que soube que já poderia ir conhecer ao detalhe esta zona lagunar com um ecossistema muito rico. Da próxima vez que lá for, conta, vai trazer o filho. Mas, antes, espera ver mais zonas de descanso, até porque, “parecendo que não, o caminho ainda é longo e para os mais velhos começa a custar”.

Fazer este percurso não escolhe idades nem tem um tipo de visitantes específico. Aqui vêm famílias, casais, amigos ou amantes de desporto e natureza. A ponte sobre a lagoa, que liga o município de Ovar ao município de Espinho, é o local que chama mais à atenção e reúne o maior número de pessoas. Por todo o lado apanhamos conversas sobre a construção, sobre o que já viram e o que falta ver, comprovando que para muitos é a primeira vez que conhecem a barrinha de tão perto. Alguns vêm de câmara fotográfica ao pescoço para captar a beleza do espaço, mas há quem seja ainda mais curioso e traga consigo binóculos para observar as aves que por ali passam, junto à praia, e que com os passadiços têm outra perspectiva.

Junto ao cais, há actividades para conhecer a barrinha de Esmoriz na água. É o caso do stand up paddle, ou remo em pé, que proporciona um passeio nas águas tranquilas, no meio da natureza e que só é possível percorrer pelas águas da barrinha. Para admirar as aves e a flora de mais perto, há também um observatório de avifauna mais à frente, numa pequena casa de madeira.

Ao longo dos passadiços, há múltiplas saídas que permitem aos visitantes seguir caminho ou terminar o percurso. Num único passeio é possível descobrir muitos segredos da barrinha, mas serão precisos mais para decorar o caminho que veio devolver a lagoa à população de Esmoriz.

Texto editado por Sandra Silva Costa

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