Para os indecisos, aquela temporada a viajar é também um momento para reflectir sobre o caminho académico ou profissional a seguir, para encontrar aquilo que os move. Gonçalo só se apercebeu mais tarde, mas a paixão era antiga: “ter um impacto positivo na vida das pessoas”. “É por isso que gosto de estar na AGYP, gosto muito de política, de todas as vezes em que estive num movimento estudantil ou de ser monitor em colónias de férias”, enumera. Aos 15 anos, tornou-se presidente da Concelhia da Juventude Socialista de Carregal do Sal. Mais tarde, chegou a vice-presidente da federação de Viseu. E está a terminar o mandato como membro da assembleia municipal de Carregal do Sal. Em Outubro, contudo, não se recandidata. “Não fazia sentido, tendo em conta que nos próximos anos não estarei lá.”
Em Setembro, Gonçalo deixa oficialmente o cargo de director-executivo da Associação Gap Year Portugal e passa o testemunho a João Pedro Carvalho. Fica como presidente não-executivo. Por duas vezes parou o curso para se dedicar à organização. Agora quer regressar à universidade. E seguir em frente. “Sinto que já dei um grande pontapé de saída e que deixar [a presidência] também simboliza que houve algum sucesso naquilo que fizemos porque só sairia quando estivesse assegurada a sustentabilidade da associação.”
O regresso à Índia é, por isso, também o fim de um ciclo. “Foram muitos anos a incentivar pessoas a viajar e a ficar sempre no mesmo sítio.” Agora, Gonçalo volta a pôr a mochila às costas para percorrer o país que tem “a capacidade de nos surpreender todos os dias”. E reflectir, uma vez mais, sobre o futuro. Num caderno, leva “uma série de pontos para pensar”. Entre eles, “perceber o quer fazer a seguir a sério”. Certo é que tão cedo não quer fundar outra organização ou empresa — “o balanço é extremamente positivo e voltava a fazer tudo outra vez, mas não fazia uma segunda”. E que em meados de Setembro regressa aos bancos da Faculdade de Economia do Porto. Se tudo correr como esperado, acaba a licenciatura neste ano lectivo. “Estou entusiasmado com a possibilidade de ir às aulas sem adormecer e de me dedicar a tempo inteiro à faculdade. E de ter boas notas — que foi algo que até agora também não pude ter.”
Resposta rápida
Como convenceria um jovem a fazer um gap year com um tweet?
Conhece-te e descobre as tuas paixões. Ganha o mundo que te vai distinguir no mercado de trabalho. Volta mais humana(o). Faz voluntariado, experimenta, cresce — faz um gap year.
Qual é a melhor memória que tem da viagem que fez durante o gap year?
Ter sido rodeado por um conjunto de crianças quando estava a fazer trabalho de voluntariado no Nepal quando estava num momento difícil. Estava mesmo abatido, lembro-me de estar ali num canto, e eles vêm todos e abraçam-me. Foi um momento que ficou.
Tudo tem um lado negativo. Qual é o do gap year?
Ter tantos preconceitos associados. De fazer a viagem? Para mim, foram as saudades, mas isso é tão fraco. [Hesita, reflecte em voz alta]. Não é perder um ano, não acredito mesmo nisso. Não é perder ritmo, regressamos é com mais vontade de estudar. [Volta a pensar] Estarmos afastados das pessoas durante um período prolongado. Sim, foi o que me custou mais.