Mas não se assuma que a contrafacção e a apropriação do nome do Vinho do Porto é prática exclusiva dos países emergentes, incapacitados para cumprir os regulamentos internacionais do registo de nomes, incapazes de respeitar as normas do comércio mundial. Não, infelizmente, o mal pode nascer em qualquer lado, longe e perto de casa... mesmo nos países onde tais práticas seriam menos expectáveis, Europa incluída.
E, apesar da tentação imediata, não arrogue que a honra manchada se concentrará, quase fatalmente, nos países de Leste e Balcãs, nessa entidade meio difusa que acolhemos com alguma sobranceria. Sim, as más imitações abundam nessa parte da Europa, divididas irmãmente entre as fraudes turcas, moldavas e polacas, com rótulos mais ou menos cândidos e vinhos incrivelmente doces, sempre com essa menção preciosa ao "Porto", "Port Wine" ou, em casos mais esporádicos, ao "Port Wein".
Verdadeiramente surpreendente é perceber que as contrafacções chegam dos lugares mais inopinados, de países que dificilmente poderíamos enquadrar entre as ovelhas negras da falsificação do vinho. Todavia, as adulterações provenientes de países como a Holanda, Bélgica ou França, esses modelos de racionalidade e bem-estar europeu, continuam a sobreviver nas prateleiras dos supermercados dos respectivos países, por regra com uma ligeira entoação espanhola no nome que o transforma em Puerto. Até mesmo Espanha, ainda que de forma inexplicável para um mercado em que o Vinho do Porto ocupa um espaço e atenção quase insignificantes, assume a sua quota-parte da burla, mais uma vez com os vinhos Puerto. Incrivelmente, até o nosso mais velho aliado, o país mais amante do Vinho do Porto, a Inglaterra, se especializou na comercialização dos "Port Cooking Wine", indignamente vendidos em bag-in-box para uma aplicação culinária...
Nem mesmo os nossos irmãos brasileiros resistiram a apresentar um "Porto" tropical, insistindo em promover vinhos como o Villardi Jabuticaba. Outros, ditosamente, como o Porto D. Izidro, produzido, segundo o produtor, com uvas viníferas, ou o Porto Valduga, assente nas eternas Cabernet Sauvignon e Merlot, abandonaram a ofensa do nome Porto face às pressões diplomáticas contínuas sobre a fraude decorrente. Será este o preço a pagar pelo êxito internacional do Vinho do Porto?