Há quem afiance com convicção, ancorado na erudição popular, que a imitação é uma das mais sinceras formas de elogio, sinal inequívoco do sucesso, justificando a cópia como o acto supremo de louvor aos predicados alheios. Como justificação emocional, a argumentação afigura-se atraente, apesar de a alegação colher muito mais simpatia nas diversas culturas orientais que na filosofia ocidental, onde a imitação é vista com menos tolerância e muito mais agravo e desconfiança. Como fenómeno patente nos mais variados sectores da economia, o drama da falsificação afecta igualmente o universo do vinho, manifestando-se de forma mais dissimulada ou descarada, de forma mais ingénua ou engenhosa, consoante os potenciais ganhos e as mais-valias prometidas pela fraude.
Porque, muito para além do alcance de qualquer discussão filosófica, a imitação, ou mais apropriadamente, a contrafacção do vinho, afecta a imagem, saúde e vitalidade financeira não só dos produtores envolvidos, mas também de toda uma região, um país... e uma actividade económica, uma das poucas que continua sadia e competitiva dentro do combalido sector primário. A ocorrência torna-se ainda mais grave quando a contrafacção se apresta a desassossegar um vinho de prestígio internacional, um dos raros vinhos de verdadeira influência universal que possuímos, o Vinho do Porto. Os danos resultantes, reais e potenciais, são tenebrosos para o sector.
São muitos os que se esforçam, em todo o mundo, por retirar rendimentos indevidos da boa imagem do Vinho do Porto. Como seria previsível, muitas das falsificações mais grosseiras provêm da região asiática, apesar de a Índia, com destaque muito particular para o estado de Goa, se autoproclamar como o caudilho principal da operação. São famosos os pretensos vinhos "estilo Porto" goeses, comercializados como Port Wine, ora vendidos em garrafões de plástico de cinco litros, ora vendidos em garrafas PET de litro, ora vendidos no formato Bag-in-Box ora, mais invulgarmente, negociados em garrafa de vidro tradicional de 750ml, despejados a preços ridículos que raramente ultrapassam os dois euros, nos melhores casos, no colo dos muitos turistas que visitam o deslumbrante estado indiano.
As castas habituais abarcam todas as latitudes imagináveis, desde as omnipresentes e previsíveis Merlot, Syrah e Cabernet Sauvignon, até às inesperadas e desconhecidas variedades locais Arkavati nos Porto brancos e Arkeshyam nos vinhos do "estilo Porto" Tawnies e Ruby. O nome Port, ou Porto, é usado sem pudor, de forma aberta e decidida, mesmo pelos produtores mais clássicos e de melhor reputação. São famosos os vinhos "estilo Porto" da Pinsons, sobretudo o Goa Port Wine Nº7, bem como os generosos de Château Indage, produzidos no estado de Maharashtra, a norte de Goa, divididos entre o Hammer Ruby Port e o Figueira Port, branco e tinto, aplicando no último caso a fonografia portuguesa em proveito próprio.
Condição fonética que volta a ser usada na África do Sul, um dos países que mais e melhor plagia o nome do vinho do Porto, aparente em vinhos como o Quinta do Sul Vintage, capaz de passar por um Vinho do Porto genuíno numa inspecção mais apressada e menos diligente ao rótulo, numa réplica quase perfeita dos rótulos clássicos do Vinho do Porto. Até as castas são de recorte nacional, com a inclusão da Tinta Roriz, Tinta Amarela, Sousão, Touriga Nacional e Tinta Barroca no lote.