Fugas - Vinhos

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10 enólogas: Lúcia Freitas (Dão Sul)

Por Pedro Garcias

Quem nasce no interior tem sempre uma ligação à vinha e ao vinho. Quase toda a gente possui umas videiras, nem que seja a bordejar o quintal ou como ramada à porta de casa. Em Carregal do Sal, onde nasceu, Lúcia Freitas tinha como referência a pequena quinta do avô, pouco mais de dois hectares de vinha, onde descobriu a beleza e a dureza do ritual das vindimas.

Não foi uma vivência marcante, daquelas que definem um destino. Quando chegou a hora de entrar na universidade, Lúcia, agora com 31 anos, só contemplava três opções: matemática, física ou química. As duas primeiras reservavam-lhe uma carreira como professora, a última abria-lhe mais perspectivas de trabalho. E foi com este raciocínio que se matriculou em engenharia química, na Universidade de Coimbra.

Quando terminou o curso, foi trabalhar para um laboratório, mas percebeu depressa que passar a maior parte do tempo fechada entre quatro paredes e pipetas não era o que imaginava para a sua vida. Saiu e foi trabalhar para a empresa Dão Sul... mas para o laboratório. Explicou que não era bem aquilo que gostava de fazer e, logo no primeiro ano, deixaram-na fazer a vindima. Foi em 2005.

Desde então, nunca mais parou de subir na hierarquia da empresa. Em 2006, já era a coordenadora da adega da Quinta de Cabriz. Em 2008, juntamente com Carlos Rodrigues e Carlos Lucas, o enólogo principal e administrador da Global Wines, a que pertence a Dão Sul, passou a ser responsável por todas as adegas do grupo em Portugal: Quinta de Cabriz, Casa de Santar, Quinta do Encontro, Herdade Monte da Cal, Quinta das Tecedeiras e Encostas do Douro. O seu trabalho, explica, "é coordenar os enólogos mais jovens e provar e defi nir os lotes com Carlos Rodrigues e Carlos Lucas, a quem cabe a última palavra". "Antes, estava mais no terreno, agora faço um trabalho mais de coordenação", explica.

Em 2009, Carlos Moura e Casimiro Castro, que, com Carlos Rodrigues e Carlos Lucas, formavam o núcleo duro da Dão Sul e inspiraram a criação de um vinho com a designação Quinta de Cabriz Four C, saíram da empresa. A marca estava criada e era um sucesso. A forma de a manter foi encontrar uma nova narrativa. A designação Four C deixou de estar associada aos quatro responsáveis com nomes começados por "C" e passou a corresponder às quatro enólogas que trabalham actualmente na Dão Sul, com Lúcia Freitas à cabeça.

É por isso que, quando se lhe pede que indique o vinho a que está mais ligada, refere de imediato o branco Four C, do Dão. A partir de 2008, o vinho passou a ser feito apenas pelas enólogas da casa. "Deram-nos largas para fazer o que quiséssemos", diz, e o resultado tem sido muito elogiado. O Four C 2009 é um dos melhores brancos do Dão.

Dos vinhos que provou nos últimos tempos, Lúcia Freitas destaca o tinto duriense Vale Meão 2004. "Perfeitíssimo, sem arestas", resume. Mas, se um dia vier a fazer o seu vinho, será no Dão. Não só por razões efectivas, mas porque, sobretudo em brancos, "tem um potencial imenso". "O Dão está subaproveitado, há poucas empresas a fazer bons vinhos, mas, mesmo assim, os melhores vinhos brancos do país têm sido feitos nesta região", defende.

Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias

Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria

Filipa Pato | FP Wines

Sandra Gonçalves | Dona Maria

Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa

Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro

Rita Marques Ferreira | Conceito

Gabriela Canossa | Quinta da Revolta

Joana Roque do Vale | Roquevale

Lúcia Freitas | Dão Sul

Susana Esteban | Solar dos Lobos

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