Fugas - Vinhos

  • Adriano Miranda
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10 enólogas: Gabriela Canossa (Quinta da Revolta)

Por Pedro Garcias

O late harvest Grandjó, da Real Companhia Velha, será sempre um dos vinhos da vida da enóloga Gabriela Canossa, portuense de 37 anos. É um dos brancos doces mais conceituados do país e a sua fama remonta a 1925, quando a família Silva Reis produziu um branco a partir das castas Sémillon e Sauvignon Blanc que viria a revelarse eterno. Algumas garrafas desse vinho permaneceram esquecidas nas caves da Companhia durante décadas e quando foram descobertas, 85 anos depois, o vinho estava formidável.

Essa descoberta levou a Real Companhia Velha a repetir a experiência em 2002, quando Gabriela Canossa era responsável pela Fine Wine Division da empresa. O sucesso foi enorme e a Real voltou a produzir o Grandjó, sempre em pequenas quantidades, em 2004, 2005, 2006 e 2007.

Gabriela Canossa esteve ligada às primeiras três colheitas. Em Junho de 2006, saiu da empresa, colocando um ponto final a uma relação de sete anos. A enóloga entrou na Real Companhia Velha para substituir Jorge Moreira, que havia saído para fazer o seu próprio vinho no Douro, o Poeira, e assumir a enologia da Quinta de La Rosa. Em 2010, Jorge Moreira regressou à Real como responsável máximo pela enologia da empresa e que antes era assegurada pelo americano Jerry Luper.

Da sua passagem pela Companhia, Gabriela Canossa traz ainda a satisfação de ter sido responsável também pelo lançamento do vinho Quinta do Cidrô Pinot Noir e a experiência de trabalhar numa empresa que vendia mais de oito milhões de garrafas. Agora, é coordenadora do painel de provas da revista Wine Passion, está a criar, de raiz, um arrojado projecto no Douro para um empresário e responde pelos vinhos de três produtores Casas Altas (Beiras), Quinta do Vale de Bragão e Quinta da Revolta (Douro)-, que, em conjunto, não produzem mais do que 250 mil garrafas.

Ironia do destino, um deles, a Quinta do Vale de Bragão, situada em Sabrosa, esteve na origem, há 20 anos, da sua decisão de se dedicar à enologia, quando "já estava formatada para ser artista plástica", recorda. Gabriela tinha seguido a via das artes durante o secundário, mas, a dada altura, sentiu "a necessidade do contacto com a natureza" e decidiu "ir estudar para a Escola Agrícola de Santo Tirso", conta. Foi nesta cidade que conheceu o médico Asdrúbal Mendes, numa consulta, e que, em conversa, lhe perguntou se tinha conhecimento da abertura do curso de enologia, em Vila Real. Gabriela não sabia, mas ficou interessada. Mal acabou a regência em agro-pecuária, inscreveu-se na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde fez o curso de enologia.

Durante o curso, estagiou na Taylor's. Já licenciada, abriu uma galeria de arte em Vila Real e foi fazer uma vindima à Real Companhia Velha. E ficou sete anos. Durante este período, os seus caminhos voltaram a cruzar-se com os de Asdrúbal Mendes, que vendia uvas para aquela empresa. Quando Gabriela Canossa deixou a Real, a Quinta do Vale de Bragão deixou também de trabalhar com a família Silva Reis e contratou a enóloga. "O dr. Asdrúbal costuma dizer que que é como o Zandinga e que havia preparado a minha ida há 20 anos, quando me falou no curso de enologia em Vila Real", graceja.

Gabriela não tem dúvidas que aquela consulta em Santo Tirso foi decisiva para o rumo que a sua vida tomou. "A minha família não tem nenhuma ligação ao vinho, é uma cambada de urbano-depressivos", diz. A galeria de arte ainda esteve aberta durante cinco anos.

10 enólogas: As mulheres estão a tomar conta das adegas

Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias

Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria

Filipa Pato | FP Wines

Sandra Gonçalves | Dona Maria

Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa

Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro

Rita Marques Ferreira | Conceito

Gabriela Canossa | Quinta da Revolta

Joana Roque do Vale | Roquevale

Lúcia Freitas | Dão Sul

Susana Esteban | Solar dos Lobos

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