A prova mostrou duas coisas essenciais: os tintos, sendo bons, ainda estão novos de mais para permitirem conclusões seguras sobre a forma como irão evoluir; e os brancos confirmaram o que já se sabia sobre a excepcional qualidade da casta Rabigato, para cuja notoriedade actual muito têm contribuído os vinhos Dona Berta, o seu verdadeiro embaixador.
A prova permitiu extrair ainda uma terceira conclusão: o factor climático tem tido um papel determinante na qualidade final dos vinhos. Nesta última década, como sublinhou Virgílio Loureiro, professor do Instituto Superior de Agronomia e responsável enológico da Quinta do Carrenho, registaram-se condições ideais para a maturação perfeita das uvas em cinco a seis colheitas.
Em avaliação, estiveram todos os Dona Berta Rabigato produzidos desde 2001 até 2009 e todos os tintos produzidos desde 2001 a 2008, à excepção de 2002. Dos brancos, apenas um destoou: o Rabigato de 2001, que surgiu com uma cor acastanhada e aroma estragado. Virgílio Loureiro fez o "mea culpa", explicando que fizera o vinho seguindo um conselho do renomado enólogo francês Denis Dubordieu, que lhe terá dito que nenhum branco poderia aspirar a ser um grande vinho se não levasse ácido ascórbico na sua fabricação. Virgílio Loureiro está convencido que o vinho de 2001 ficou assim por causa do ácido ascórbico. Não voltou a repetir a experiência.
Os restantes são reveladores da capacidade de envelhecimento da casta Rabigato, que alia uma boa graduação alcoólica a uma extraordinária mineralidade e acidez e que, com o tempo, desenvolve deliciosos aromas "apetrolados". Vale a pena destacar as colheitas de 2003, 2004, 2006 e 2008, em particular as três primeiras, todas magníficas.
O Rabigato de 2009, o último a ser lançado no mercado, revela uma secura e uma acidez excelentes, a par de um aroma muito fresco e primaveril. Mas peca por ser um pouco alcoólico (14%), o que pode explicar as notas fumadas no seu aroma, apesar de o vinho não passar pela madeira. Acontece o mesmo com alguns vinhos brancos da casta Verdelho, na Madeira, e a causa pode estar na incorporação de uvas queimadas de mais, devido ao excesso de radiação solar.
Esta primeira década de vinhos Dona Berta mostra-nos que também nos tintos os menos interessantes são aqueles que apresentam maior graduação alcoólica. A única excepção é o tinto Dona Berta Vinha Centenária 2008, o topo de gama da casa, e que, apesar de ter 14%, mostra uma complexidade, elegância e frescura assinaláveis (custa 24 euros mais IVA). Dos restantes tintos provados, merecem loas o Reserva Especial 2008 (bastante químico de aroma, fruta madura, boa presença de madeira, taninos vigorosos e excelente acidez), e os Reserva 2006 (muito fino e elegante, com taninos já bem polidos), 2005 (na mesma linha do 2006) e 2003, o melhor de todos. Belíssimo no aroma, apresenta uma grande estrutura, com taninos poderosos e uma acidez magnífica que lhe dá nervo e tensão, algo que falta ao ainda assim muito interessante Reserva 2001.
Falta falar do Reserva 2004 e do Grande Escolha 2007. O primeiro está ainda muito fechado, revelando alguma dureza e austeridade. O segundo está um pouco pesado, com fruta muito madura e álcool a mais.