Fugas - Vinhos

Os novos vinhos da "nova" Herdade do Monte da Ribeira

Por Pedro Garcias

Chamava-se Cade - Companhia Agrícola de Desenvolvimento, agora chama-se Casa Agrícola HMR (Herdade do Monte da Ribeira), e a alteração de nome é apenas a face mais visível de uma profunda mudança que pretende dar nova vida aos vinhos desta propriedade de Marmelar, na Vidigueira, ligada à Fundação Carmona e Costa. O homem forte do projecto é Álvaro Portela, ex-vice-presidente do grupo Sonae e descendente do fundador e que foi buscar António Nora, fundador das garrafeiras Wine 0´Clock, para dirigir os vinhos desta herdade de 330 hectares, dos quais 46 são de vinha. Nora, por sua vez, contratou Luís Duarte como enólogo consultor (o enólogo residente e director de produção é Nuno Elias).
A imagem dos vinhos mudou radicalmente, surgindo com rótulos mais modernos e apelativos. O estilo também, obedecendo a uma lógica que mistura uma visão pragmática do negócio com o desejo de fazer melhor sem aumentar as quantidades, como explicou António Nora durante a apresentação dos vinhos no passado dia 17 de Maio, em Lisboa. Luís Duarte, um dos mais reputados enólogos nacionais (está ligado à Herdade dos Grous e tem os seus próprios vinhos), explicou esse pragmatismo dizendo que a ideia é fazer vinhos "actuais", que agradem ao gosto moderno. 

O portefólio inclui quatro referências: Varal, Pousio, Quatro Caminhos e Marmelar. A primeira (3,65 euros) é entrada de gama, a última será a marca de referência da casa (os primeiros vinhos só sairão para o mercado no último trimestre deste ano). Mas a marca principal continuará a ser o Pousio, já com nome no mercado (a primeira colheita da Herdade do Monte da Ribeira foi feita em 1992).

No jantar de apresentação, provaram-se as colheitas de 2010 de Varal e Pousio e de 2009 de Quatro Caminhos. Começando por estes: muito bom o branco (12,75 euros), feito de Arinto e Antão Vaz e sem qualquer contacto com a madeira. A madureza e a exuberância do Antão Vaz combina muito bem com a acidez e o baixo teor alcoólico do Arinto, originando um vinho de boa complexidade aromática e bastante fresco. O tinto (12,75 euros) é um vinho feito à medida do mercado, um lote de Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional com estágio em barricas de carvalho francês de segundo e terceiro ano. Tem tudo para agradar: boa fruta, volume de boca, sabor especiado, madeira contida e frescura. Provou-se ainda, já com queijos, o Quatro Caminhos Tinto Reserva, um tinto sério, mais extraído e com madeira nova, mas que ainda precisa de tempo para se mostrar (21 euros).

Dos restantes vinhos, vale a pena destacar a gama Pousio. São vinhos que estão à venda na grande distribuição a 3,99 e que valem cada cêntimo do que custam. Sobretudo o rosé, muito apropriado para esta altura, pelo seu carácter seco e pelo toque vegetal fornecido pela Syrah, e o tinto, sem madeira mas com um bom espectro aromático, muito elegante e saboroso, com taninos dóceis e um final bastante vivo e fresco.
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