Fugas - Vinhos

Vesúvio e Senhora da Ribeira, dois grandes vintage

Por Pedro Garcias

Da Quinta do Vesúvio e da Quinta da Senhora da Ribeira, ambas do grupo Symington, dois vintage igualmente formidáveis mas muito distintos.
O Porto Vintage de 2009 da Quinta do Vesúvio é o típico vinho de coleccionador. Pela sua própria génese e qualidade, mas também por razões comerciais. Ao engarrafar apenas 600 caixas (de 12 garrafas) para vender em Portugal e no mercado externo, o grupo Symington transformou-o num objecto raro (custa cerca de 55 euros a garrafa). É um vinho dos novos tempos. Hoje, as casas de vinho do Porto estão a subir a cotas cada vez mais elevadas em busca de uvas frescas para os seus vintage. As alterações climáticas e o aumento da temperatura média têm diminuído a atracção pelos terrenos mais quentes e obrigado muitas empresas a renovarem as vinhas e a apostarem em castas mais resistentes à secura e com maior acidez.

Neste vintage da Quinta do Vesúvio, a Touriga Franca (a casta mais resistente à secura) foi responsável por 36 por cento do lote e o Sousão (variedade bastante tânica e ácida) contribuiu com 24 por cento. A Touriga Nacional entrou com os restantes 40 por cento.

O mais surpreendente neste vinho é precisamente a percentagem de Sousão utilizada, a mais alta desde que esta casta começou a ser replantada naquela quinta, no início da década passada. Esta variedade chegou em força ao Douro, vinda do Minho (onde leva o nome de Vinhão), durante a crise da filoxera (segunda metade do século XIX), por ser mais resistente e também por ser bastante tintureira. Com o tempo, foi perdendo importância. Na última década voltou a ser procurada e plantada em grande quantidade. Mas tem sido cometido um erro histórico: na sua esmagadora maioria, as videiras plantadas continuam a vir do Minho. Os viveiristas vão ao berço do Vinhão, em vez de privilegiarem a selecção da casta a partir de videiras existentes nas vinhas durienses. O quase século e meio de adaptação da casta ao Douro está a ser desperdiçado e apagado.

O que os Symington plantaram no Vesúvio no início da década passada foi Vinhão do Minho, mas, para o que interessa, os resultados obtidos têm sido os pretendidos. Em anos como o de 2009, em que choveu pouco no Inverno e o Verão foi muito quente, aquela casta pode fazer milagres. Foi o caso. A Touriga Nacional deu ao lote um toque floral, fruta bem doce, volume, complexidade, elegância. A Touriga Franca acrescentou-lhe austeridade e taninos, reforçando-lhe a estrutura. E o Sousão deu-lhe acidez e aromas mais verdes e, por isso mesmo, mais frescos. O resultado é um vintage de quinta magnífico, cheio de fruta bem madura e fragrâncias florais, muito especiado e intenso na boca, longo e fresco.

Mesmo em frente à Quinta do Vesúvio, na outra margem do Douro, situam-se as vinhas que deram origem ao segundo grande vintage de quinta de 2009 do grupo Symington, o Dow's Quinta da Senhora da Ribeira (50 euros). A distância é curta, mas o vinho é distinto e igualmente formidável. Neste caso, a Touriga Franca surge como a casta principal, tendo contribuído com 60 por cento do lote (o restante foi de Touriga Nacional). O vinho base de Touriga Nacional é muito bom, mas o de Touriga Franca é a quintessência da casta e fornece ao lote final notas químicas e apimentadas, frescura, taninos firmes e a secura e austeridade típicas dos vinhos da Quinta da Senhora da Ribeira, que são a base dos singulares e admiráveis Dow"s clássicos.

Em 2009, o grupo produziu ainda mais três vintage de quinta: Graham's Quinta dos Malvedos, Dow's Quinta do Bomfim e Cockburn's Quinta dos Canais. Mas estes só começarão a ser comercializados dentro de oito a 10 anos.
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