Fugas - Vinhos

Provavelmente o melhor vinho branco português

Por Pedro Garcias

Pedro Garcias concede que eleger o branco produzido em Portugal que mais se destaca não é tarefa tão simples como quando se fala de tintos - aí a resposta é óbvia, Barca Velha. Ainda assim, arrisca que o Muros de Melgaço 2010 de Anselmo Mendes está muito bem posicionado para chegar ao primeiro lugar do pódio.

Qual é o melhor vinho branco português? Se a pergunta fosse sobre o melhor vinho tinto, a resposta seria fácil: Barca Velha. Nos brancos, é mais difícil. Não existe nenhum vinho que, pela sua história e qualidade, se distinga tão claramente como o Barca Velha nos tintos.

Quando falamos em grandes brancos portugueses, pensámos de imediato em vinhos do Dão, Bairrada, Vinhos Verdes e, com um pouco de boa vontade, do Douro. Neste último caso, para colocar em equação o Redoma Reserva, o grande vinho branco de Dirk Niepoort.

Na Bairrada, lembramo-nos de imediato do Vinha Formal, de Luís Pato, e do Quinta das Bágeiras, de Mário Nuno Sérgio. No Dão, é obrigatório citar os brancos da Quinta de Carvalhais, Roques, Dão Sul (Condessa de Santar e Vinha do Contador) e Álvaro de Castro, sobretudo o seu Primus da Quinta da Pellada. Nos vinhos minhotos, o leque confina-se ao Quinta do Ameal, ao Sanjoanne Superior (Casa de Cello), ao Soalheiro e aos Alvarinho de Anselmo Mendes.

Para irmos directos ao assunto, na nossa opinião, que vale o que vale, os grandes vinhos brancos portugueses da actualidade provêm dos campos húmidos minhotos. E, chegados aqui, a balança oscila entre o Soalheiro e as variações de Alvarinho de Anselmo Mendes.

Em 2009, Anselmo Mendes lançou o seu extraordinário Parcela Única, feito de Alvarinho. Foi a primeira colheita de uma parcela especial. Pela sua qualidade, iria de imediato para o topo dos vinhos brancos portugueses. Mas precisa da prova do tempo. Uma colheita só não faz uma marca.
Em 2010, o vinho voltou a ser feito, mas Anselmo Mendes ainda não decidiu se o irá lançar.

A mesma dúvida estende-se ao Curtimenta, uma das mais elaboradas variações de Alvarinho do seu portefólio. O vinho fermenta durante um ou dois dias em contacto com as películas, é depois prensado e acaba a fermentação em barricas de 225 litros, também usadas, onde estagia sobre as borras totais durante seis meses. É um Alvarinho mineral, gordo e envolvente.
Apesar das condições climatéricas adversas da vindima de 2010, Anselmo Mendes optou por colher as uvas mais cedo e saiu-se bem, tendo produzido excelentes colheitas das suas outras referências de Alvarinho: Contacto, Muros Antigos e Muros de Melgaço.

O primeiro é um Alvarinho fresquíssimo e de aroma contido. O nome tem origem no contacto das películas com o mosto, que, depois de fermentar, estagia durante alguns meses em cubas de inox sobre as borras finas. O Muros Antigos fermenta e estagia em inox e é mais directo e intenso de aroma, cativando de imediato. O Muros de Melgaço fermenta e estagia em barricas usadas durante seis meses sobre as borras totais e tem um volume de boca, uma complexidade e uma frescura deslumbrantes. À primeira prova, nem é muito fácil adivinhar a presença de madeira, que surge muito bem integrada e conjugada com a grande mineralidade e fruta cítrica do vinho.

O Parcela Única e o Curtimenta são as experiências sérias de Anselmo Mendes, o Contacto é um vinho delicado e seivoso e o Muros Antigos, na sua pureza e frescura, pode revelar surpresas admiráveis, como é o caso do 2005, que está formidável e sem qualquer sinal de cansaço (muito bons também o 2008 e o 2009). Mas o seu grande vinho, o vinho que já faz há 14 anos, é o Muros de Melgaço.

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