Como remate final para a lista de raridades sobre o produtor Hatten, falta só referir que as videiras das variedades Cabernet Sauvignon e Chardonnay morreram não só devido aos efeitos do clima... mas também pelos ataques de térmitas, aparentemente entusiasmadas por estas duas castas.
E se pensava que os únicos vinhos elaborados num estabelecimento prisional, feitos pelos reclusos que trabalham a vinha, realizam a vindima e conduzem o trabalho na adega, pertenciam a Pinheiro da Cruz, desengane-se. Não só porque existe outro estabelecimento prisional português a assumir o mesmo papel, a prisão de Alcoentre, como ainda existem casos afins noutros países europeus. O mais humorístico, pelos títulos escolhidos para os rótulos, é o do estabelecimento prisional de Velletri, a sul de Roma. Os reclusos produzem cerca de 45.000 garrafas/ano, com rótulos que divagam entre o Fugitivo (Fuggiasco) e o Fechado a Sete Chaves (Sette Mandate).
Falta de humor e imaginação demencial são também o que não falta ao produtor sul-africano Fairview Estate, uma das adegas mais conhecidas da África do Sul... embora a dose e o tipo de humor sejam muito menos apreciados em França do que em qualquer outra parte do mundo. Tudo porque Charles Black, o proprietário, para além de vinho produz ainda queijo, alimentado pelo enorme rebanho de cabras que passeiam pela quinta, na região de Paarl.
No centro da quinta ergue-se o verdadeiro ícone de Fairview Estate, uma torre de pedra onde as cabras podem deambular à vontade. Inspirado nas cabras, mas sobretudo nas afamadas regiões francesas de Côtes du Rhône, Charles Black introduziu uma série de rótulos ajustados a trocadilhos fonéticos com alguns dos nomes mais respeitados de muitas das sub-regiões de Côtes du Rhône. A nova marca passou a chamar-se Goats Do Roam (cabras que vagueiam), um nome cujo som resulta absolutamente idêntico ao som de Côtes du Rhône. Pouco depois lançou rótulos com nomes tão sugestivos como Goat Roti (cabra assada), facilmente confundível com Côte Rotie, uma das denominações de origem mais reverenciadas do norte das Côtes de Rhône.
Entre os vinhos mais recentes contam-se o Goat Door Chardonnay (porta das cabras), foneticamente idêntico com Côte d'Or, talvez a denominação mais venerada de vinhos brancos na Borgonha, e o misterioso rótulo Bored Doe (corça enfadada), que em inglês soa exactamente como Bordeaux, um vinho de Bordéus. A acrescentar ao lote sobra o Goats in Villages (cabras nas aldeias), em referência axiomática à denominação Côtes du Rhône Villages. Não espanta que as autoridades e produtores franceses não achem uma graça especial aos trocadilhos...