A história, porém, começou bem antes, no final da década de sessenta, quando a Quinta de Sant'Ana foi comprada pelo pai de Ann von Fürstenberg, mulher de James Frost. Alemão de nascimento, apaixonou-se pelo local e decidiu viver e educar aqui os seus sete filhos, até que, após a revolução de Abril de 1974, e temendo pela segurança da família e pelo futuro do país, decidiu regressar à Alemanha. A quinta passou então por um período agitado, somando décadas de abandono e negligência, que deixaram uma marca indelével na conservação dos edifícios.
No início da década de noventa, Ann von Fürstenberg e o seu marido inglês, James Frost, tomaram a arrojada decisão de regressar à quinta de infância, ao berço, a Mafra. Com uma quinta tão aprazível, situada tão perto de Lisboa, o casal começou por aventurar-se no turismo de habitação e, sobretudo, na organização de casamentos e eventos. James Frost, porém, descendente de uma família apegada à terra, não conseguiu resistir a investir em pomares, olivais, pinhais, eucaliptais, juntamente com uma pequena exploração pecuária de ovelhas... até que o bichinho do vinho o mordeu. O projecto Quinta de Sant'Ana não parou de crescer desde então e de se solidificar.
O rol de vinhos é excelente, qualificando Mafra como um local perfeito para vinhos frescos e castas delicadas. Talvez por isso a aposta hoje recaia especialmente nos vinhos brancos de Alvarinho, Verdelho... e Riesling, bem como nos tintos de Pinot Noir, talvez a casta tinta mais delicada do planeta. Ora, se a larga maioria dos vinhos da Quinta de Sant'Ana é notável, com um Riesling surpreendente e um Verdelho da colheita 2010 fresquíssimo, as estrelas da companhia são o belíssimo e muito sério Homenagem a Baron Von Fürstenberg, um tinto incrivelmente fresco e harmonioso, e o singular Alvarinho 2010, desenhado num estilo alternativo mas penetrante, mineral e supinamente agradável.
No Homenagem a Baron Von Fürstenberg 2007 os aromas vagueiam livremente entre as notas animais e florais, entre a fruta e as especiarias, numa complexidade que se mantém fresca ao longo de toda a prova. Uma frescura que a boca depressa confirma, acrescentando taninos firmes mas suaves e uma acidez atilada que lhe assegura energia e uma estrutura férrea. É um tinto diferente, mais fresco que o costumeiro, amplo, elegante e harmonioso, sem ceder a facilitismos.
Já o Quinta de Sant'Ana Alvarinho 2010 começa por provocar alguma cisma, sendo difícil perceber estarmos perante um Alvarinho, graças a alguma timidez aromática. A boca, contudo, ressarce todas as hesitações aromáticas, consagrando um vinho incrivelmente mineral e tenso, quase electricidade líquida, seco e mastigável, vivo e cheio de nervo, com um final empolgante de pujança e grandeza. E tudo isto numa região sem nome e sem tradição...