Fugas - Vinhos

Paulo Ricca

Menos vinho no país, melhor vinho no Douro e Alentejo

Por Pedro Garcias

Em Agosto, o Instituto da Vinha e do Vinho projectou uma quebra de 17 a 22 por cento na colheita deste ano, estimando uma produção de 5,6 a 5,9 milhões de hectolitros de vinho. Mas é provável que as contas finais venham a ser mais positivas. Em regiões como o Douro, por exemplo, as produções estão a superar as melhores expectativas.
É verdade que os ataques de míldio e oídio registados um pouco por todo o país, provocados pelas condições meteorológicas de tipo tropical verificadas na Primavera, causaram grandes prejuízos, mas as chuvas do final de Agosto vieram repor a água que já faltava no solo e aumentar o peso das uvas. O facto de a seguir às precipitações de há duas semanas ter feito bom tempo, com dias muito quentes, teve também a virtude de concentrar mais as uvas e permitir uma melhor maturação. 

Não sendo um ano de qualidade homogénea, há já sinais que nas principais regiões do país a qualidade dos vinhos irá ser alta. No Alentejo, "os vinhos deste ano estão muito melhores do que em 2010, com mais cor, melhores taninos e mais equilibrados", assegura Joana Roque do Vale, enóloga das firmas Roquevale e Monte da Capela. O Verão foi menos quente e a produção também diminuiu bastante face à vindima de 2010, que tinha sido exagerada; e uvas em excesso não são amigas da qualidade. 

No Douro, registou-se uma situação atípica: o início da vindima teve que ser antecipado e quando a colheita é precoce normalmente não é a melhor. Os primeiros vinhos surgiram um pouco menos alcoólicos, o que é bom, e também um pouco mais vegetais do que o desejado. Mas as chuvas fortes do final de Agosto obrigaram a parar a apanha e os dias de sol que se seguiram permitiram concluir a maturação das uvas da melhor maneira possível e retardar o grosso da vindima, que, em muitos lugares, vai acabar por ser mais tardia do que em 2010. 

Este adiamento acabou por fazer milagres e a qualidade dos mostos subiu em flecha. Como sublinhava Jorge Alves, enólogo da Quinta do Tedo e co-responsável, com Celso Pereira, dos vinhos Quanta Terra, é de esperar uma vindima "com, pelo menos, a mesma qualidade da de 2009", que, não tendo sido tão boa como as de 2008 e 2007, foi bastante melhor do que a de 2010. 

Mesmo sendo de esperar bons vinhos no Douro, sobretudo nas sub-regiões do Cima Corgo e Douro Superior, as menos afectadas por míldio e oídio, a vindima irá ficar marcada este ano pela diminuição de 25 mil pipas na produção de vinho do Porto. Com esta redução, aumentou a disponibilidade de uvas para os vinhos D.O.C, as quais estão a ser transaccionadas a valores ridículos, a 100 euros ou menos a pipa (750 quilos), mais de metade do valor a que são pagas no Alentejo. 

Na Bairrada, as uvas também estão a ser mal pagas (mas melhor do que no Douro), em virtude de também aí ser esperada uma produção maior do que em 2010. Em relação à qualidade, e segundo o criador Luís Pato, "os brancos e os espumantes são melhores do que no ano passado e os tintos são menos bons". 

Situação semelhante é esperada no Dão, onde, na opinião de Carlos Lucas, "estamos perante um ano para profissionais". Há grandes desvios na qualidade e "só quem tratou bem das vinhas pode aspirar a fazer bons vinhos", diz. 

Na região dos Vinhos Verdes, é esperada uma produção idêntica à de 2010. Nas zonas de Amarante, Baião e Basto, verifica-se uma importante quebra, mas, em contrapartida, a produção deverá ser maior no Litoral Norte, no Alto Minho, no distrito de Braga. "Vamos ter bons vinhos, salvo se tivermos chuvas na próxima semana", disse à FUGAS Manuel Pinheiro, presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes, no final da semana passada. É verdade que choveu logo nos dias seguintes, mas não ao ponto de ter deitado tudo a perder.
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