Fugas - Vinhos

O primeiro vinho a chegar ao mercado: um tinto da colheita de 2010, Dory

O primeiro vinho a chegar ao mercado: um tinto da colheita de 2010, Dory

Do bacalhau para o vinho com projecto de cinco milhões

Por Pedro Garcias

Na antiga região vitivinícola da Estremadura, hoje rebaptizada de Lisboa, o negócio do vinho chega a atingir proporções quase bíblicas (para a dimensão do país). É tudo feito em grande, ao ponto de, apesar da crise, continuarem a aparecer novos operadores com capacidade para meter num bolso dezenas de médios produtores do Douro, do Dão e da Bairrada juntos.

Não é exagero. Foi isso que aconteceu recentemente na freguesia de Ventosa, em Torres Vedras, com a inauguração da Adega Mãe, um projecto vitivinícola do grupo Riberalves, um dos principais players nacionais do negócio de bacalhau. O investimento na adega e nos 40 hectares de vinha da quinta da Archeira ascendeu a cinco milhões de euros. A capacidade de produção é de 1,2 milhões de litros de vinho, mas ainda pode subir um pouco mais. Nesta vindima, com a adega ainda em obras, foram já produzidos 400 mil litros de vinho (de uvas próprias e de outras compradas a agricultores da região).

É uma estreia da família Alves no negócio do vinho e no enoturismo. Mas é uma estreia ambiciosa, como se deduz pela escolha de Anselmo Mendes para a direcção enológica. Diogo Lopes é o enólogo residente e Sérgio Nicolau o responsável pela viticultura. Para desenhar a adega, foi contratado o arquitecto Pedro Mateus, o mesmo que assinou o projecto da belíssima adega da Quinta do Encontro, na Bairrada, do grupo Global Wines. Ao contrário desta, a Adega Mãe é um edifício de linhas direitas, moderno e funcional, que concentra no miolo toda a parte produtiva. Está equipado com um auditório, cozinha e salas de provas, de workshops e de experiências interactivas. Pela sua dimensão, beleza e funcionalidade, é o protótipo do que devia ser uma adega cooperativa do futuro.

Mas a ideia dos proprietários não foi fazer uma espécie de "adega cooperativa" moderna. A aposta numa capacidade de produção tão elevada tem, sobretudo, a ver com as condições actuais do mercado. Os preços dos vinhos no consumidor têm vindo a baixar e a única forma de poder ser concorrencial com viabilidade é compensar margens de lucro baixas com vendas de grande volume.

A moderna distribuição (hipermercados) será o canal privilegiado em Portugal, onde a Riberalves já está presente, com o bacalhau. Mas os planos passam por um investimento forte na exportação, nomeadamente em países onde o grupo também já possui redes de comercialização, como são os casos do Brasil, Angola e Moçambique.

O primeiro vinho, um tinto da colheita de 2010, chegou recentemente ao mercado (3,49 euros). Chama-se Dory, marca umbrela da casa, e foi inspirado no nome das pequenas embarcações que eram usadas antigamente na pesca do bacalhau. É um vinho típico daquela região, muito fresco, com boa fruta, mas ainda um pouco verde.

Em cave está já o primeiro reserva tinto, também da colheita de 2010, totalmente fermentado e estagiado em barricas novas de carvalho francês. Ainda está um pouco marcado pela madeira, mas já mostra atributos muito promissores. Tal como o primeiro branco, da colheita de 2011, um vinho sem madeira, de aroma exuberante e muito expressivo e fresco na boca. Vai estar à venda no início de 2012 (3,49 euros). O reserva só começará a ser comercializado no terceiro trimestre de 2012 e irá custar menos de 10 euros.

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