As maiores surpresas dos resultados do Concurso Mundial de Bruxelas, que decorreu em Guimarães no início de Maio, são, sem dúvida, a eleição de um vinho do Alentejo como melhor tinto da prova e a ausência de vinhos do Douro da lista de melhores vinhos do concurso.
O prémio de melhor tinto foi atribuído ao vinho do Alentejo Poliphonia Signature 2008, por ter recebido, do júri, a melhor pontuação absoluta de entre todos os vinhos que foram enviados para o concurso. Com esta pontuação recebeu ainda uma das Grandes Medalhas de Ouro, a medalha mais importante do concurso.
É um feito notável a vários níveis. O vinho vencedor concorria, em prova cega - sem se saber o nome ou região - com amostras de países considerados como melhores produtores de vinho do mundo como, por exemplo, a França ou a Itália, conseguindo obter o melhor resultado.
O vencedor conseguiu ainda reunir consenso entre os provadores que pontuaram o vinho e que faziam parte de um júri constituído por membros de 48 países e com profissões tão diferentes como sommeliers, importadores, jornalistas ou bloggers com uma natural diversidade de opiniões e de gostos.
No entanto, é talvez a exclusão dos vinhos do Douro das Grandes Medalhas de Ouro a grande surpresa desta edição do Concurso Mundial - no que toca aos vinhos portugueses. Um resultado que pode em parte ser justificado pela ausência de amostras de alguns dos vinhos de topo da região do Douro e que é, de alguma forma, compensado com a atribuição de 21 Medalhas de Ouro.
Os resultados finais do concurso ditaram assim que o Alentejo e o Tejo arrecadassem entre si as dez Grandes Medalhas de Ouro atribuídas a vinhos portugueses. Entre estas, um destaque especial para os trabalhos desenvolvido pela Herdade das Servas e pela Quinta da Alorna que viram, cada uma, dois dos seus vinhos serem premiados ao mais alto nível.
Por último a surpresa - entre alguns profissionais do vinho menos atentos ao consumidor - que foi a medalha de ouro recebida pelo Mateus Sparkling Rosé. Uma medalha que confirma a enorme adaptabilidade da marca Mateus ao gosto do consumidor e ao mercado. A comprovar também os sucessos de vendas - e principalmente de exportações - por esse mundo fora.
Os resultados do Concurso Mundial de Bruxelas são essencialmente bons para Portugal. São bons, em primeiro lugar, porque dão a conhecer ao mundo a identidade do vinho português através de castas como a Alicante Bouschet - uma casta originalmente francesa mas há muito anos bem adaptada ao clima do Alentejo - e que está presente no vinho vencedor.
Mas são sobretudo bons resultados porque dão a conhecer Portugal como um país produtor de vinhos de qualidade num mundo onde a imagem junto de profissionais e consumidores é cada vez mais determinante no acesso ao mercado.
*André Ribeirinho foi membro do júri. É consultor de marketing de vinhos e fundador do Adegga.com e AVIN