Fugas - Vinhos

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Uma prova inesquecível no Buçaco

O melhor costuma ficar para o fim, mas não foi o caso. Os tintos do Bussaco, sendo bons, não causam o mesmo impacto dos brancos. São vinhos em geral austeros e duros, com taninos por vezes demasiados secos. No entanto, são raros ou simplesmente não existem os produtores nacionais que se podem dar ao luxo de, sem dar tudo a conhecer, colocar em prova vinhos ainda bebíveis de 1949, 1958, 1960, 1962 e 1964. Bebíveis e emocionantes, nomeadamente o 1960 (magro mas complexo) e o 1964 (muito químico e fresco). Mas os tintos que vale mesmo a pena conhecer e provar são o Bussaco 2000 (vibrante e estruturado), o Bussaco Vale da Mata 2005 (ainda um pouco duro, mas com uma acidez soberba) e o Bussaco 2007 (o mais civilizado, suculento e equilibrado de todos). Três vinhos herdeiros da enologia moderna e do uso de barricas novas. Resta saber se vão durar tanto tempo como os mais antigos.


A colossal garrafeira do Palace Hotel

A garrafeira do Palace Hotel do Bussaco, uma das mais extraordinárias e exclusivas do país, começou a ser constituída nos anos 20 do século passado. Inspirado nos hotéis de charme da Riviera francesa e italiana, que produziam os seus próprios vinhos, o então proprietário do Bussaco resolveu replicar o exemplo e, a partir de vinhos comprados no Dão e na Bairrada, começou a fazer os seus próprios lotes. Os primeiros ensaios remontam à década de 20 e ainda existem algumas garrafas dessas experiências, mas os vinhos mais antigos que ainda estão bebíveis são um branco de 1944 e um tinto de 1945.

Dito assim, parece coisa normal. Mas estas são idades que costumamos associar aos vinhos fortificados, como o Madeira e o Porto. Os vinhos do Bussaco são vinhos comuns, tranquilos. O que os torna lendários é precisamente essa longevidade, só ao alcance de muito poucos vinhos no mundo. Sobrevivem tanto tempo graças, sobretudo, aos seus elevados níveis de acidez (nos brancos, acima de tudo), à sua soberba estrutura tânica (nos tintos) e ao seu volume alcoólico (em média, 13% nos brancos e 13,5% nos tintos).

A composição dos lotes é determinante. Nos primeiros tempos, os tintos eram feitos com Baga da Bairrada e uma mistura de castas do Dão. Mais tarde, o lote passou a reunir apenas Baga da Bairrada e Touriga Nacional do Dão. Os brancos são feitos com Encruzado do Dão e Bical e Maria Gomes da Bairrada. Antes, o hotel comprava vinhos já feitos e lotava-os. Hoje, compra uvas na zona de Silgueiros, no Dão, e Cantanhede, na Bairrada, e vinifica-as na adega que possui na Curia, onde se situa a Vinha da Mata, o único vinhedo próprio.

Ao todo, o Palace Hotel do Bussaco possui nas suas caves cerca de 200 mil garrafas de vinho próprio (cerca de 120 mil de tinto e 80 mil de branco). É uma colecção assombrosa que, durante muito tempo, esteve apenas reservada aos clientes do hotel. Há alguns anos, o hotel começou a fazer algumas exportações directas e, mais recentemente, estabeleceu uma parceria com Dirk Niepoort para a venda em Portugal de alguns vinhos. Mas as raridades continuam guardadas para os clientes do Bussaco.

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