A lista de castas estendia-se desde os já mencionados Cabernet Sauvignon e Syrah, até aos mais clássicos Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão, Rufete e Tinta da Barca, passando ainda pelo aparente exotismo do Castelão e do Alicante Bouschet, presentes curiosamente em algumas das vinhas velhas misturadas do Douro, e da preciosidade da separação entre as castas Tinta Roriz e Tinta Roriz Pé de Perdiz, este último um clone bem diferente da Tinta Roriz que, apesar da produtividade muito baixa, ou talvez por isso, é cada vez mais desejado na região do Douro.
Primeira e interessante constatação, apesar de a quase totalidade das castas se situar na faixa dos 15º de álcool provável, os extremos eram marcados pelos estranhos e pouco convidativos 18º do Cabernet Sauvignon e os 13,9º da Tinta Roriz Pé de Perdiz. Segunda e muito mais interessante constatação, especialmente agradável para o conforto moral de quem tanto advoga a grandeza das castas portuguesas, os dois exemplares de castas internacionais situavam-se entre os vinhos menos interessantes, repletos de açúcar e compota, enjoativos e claramente curtos na boca, cumprindo o seu papel sem qualquer brilho.
Competentes a Tinta da Barca, doce e com alguma falta de corpo, a Tinta Amarela, muito vegetal mas igualmente fresca, o Castelão, com aroma e boca de bombom de cereja mas muito incaracterística. Tanto o Rufete como a Tinta Francisca mostraram deter personalidade forte, embora revelassem tonalidades muito esbatidas, mais desmaiada aromaticamente a primeira e mais doce a segunda, as duas brutais na acidez e na pujança e tensão do final de boca.
Se a Tinta Roriz se mostrou acertada, certinha, politicamente correcta, a Tinta Roriz Pé de Perdiz mostrou-se muito mais franca, brutal na acidez, violenta na frescura, precisa na fruta e intensa no final de boca, como que a dar razão para a separação de águas entre os dois clones. O Sousão surgiu preto na cor, rústico, duro e intransigente na boca, vivo e brilhante, com energia para dar e vender. Excessivo mas generoso na entrega.
E finalmente a grande surpresa do dia, o Alicante Bouschet, desmedido e impressionante como é, aliás, apanágio da casta, frutado, gigante e poderoso, num autêntico tsunami de vigor e volume, com uma potência desmedida que necessita da acalmia de outras castas para temperar tamanho entusiasmo. Um resultado inesperado que, embora seguramente não necessário, pode abrir portas para outras investigações sobre esta casta extraordinária que já está presente no Douro em algumas das vinhas misturadas de maior e menor idade.