Fugas - Vinhos

Alvarinho, na Quinta de Reguengo, Melgaço

Alvarinho, na Quinta de Reguengo, Melgaço Adriano Miranda

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E quando as castas portuguesas começarem a viajar?

O maior veículo de difusão das castas nacionais tem sido tradicionalmente o Vinho do Porto, vinho ímpar que cedo despertou a atenção internacional para algumas das castas do Douro. Este movimento tem sido especialmente visível entre os países ou regiões que mais gostam de imitar o grande vinho fortificado, nomeadamente a Califórnia, Austrália e África do Sul. Só isso poderia explicar a estranha surpresa de encontrar tanta Tinta Barroca na África do Sul e tanta Touriga Nacional, Sousão e Tinta Barroca na Austrália, a última das quais muitas vezes erradamente etiquetada como Touriga Franca.

Até mesmo o Alvarinho, de resto tal como a Tinta Roriz/Aragonez, acabaram por ser reconhecidos internacionalmente pelas sinonímias espanholas, respectivamente Albariño e Tempranillo, longe de qualquer associação com nomes de castas nacionais. Nem sequer a casta Jaen da região do Dão conseguiu apanhar a boleia da recente notoriedade da variedade Mencía, nome pelo qual o Jaen é conhecido em Espanha. Entre as castas portuguesas menos óbvias, só o Verdelho ganhou algum lugar de destaque, nomeadamente na Austrália, país onde tem honras de destaque e emancipação em diversos rótulos de vinhos monocasta. As restantes castas nacionais têm expressões internacionais ainda mais residuais, mantendo-se no recato da obscuridade quase total.

E se um dia esta realidade mudar? E se um dia algum país ou região despertar para o mundo tão particular das castas portuguesas, começando a plantar e difundir nomes como o Alvarinho, Loureiro, Encruzado, Avesso, Touriga Nacional, Touriga Franca, Alicante Bouschet, Baga ou Trincadeira? Que faremos então? Conseguiremos acompanhar esta realidade tirando partido da disseminação e vulgarização internacional dos nomes das castas, assumindo a paternidade de um nome que passou a ser popular... ou deixaremos para outros o mérito da novidade, perdendo de vez a oportunidade de afirmação da originalidade dos vinhos lusos?

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