Por estes dias em que a Esporão celebrou 40 anos, José Roquette, o gestor que fundou a empresa em conjunto com Joaquim Bandeira, olha para trás e reconhece que a sua aventura chegou a uma dimensão que jamais pensou ser possível: "Acreditava numa janela de oportunidade, mas as dificuldades eram muitas. Em Portugal, as zonas da raia parece que não fazem parte do nosso ADN como povo, são zonas de saída", diz o empresário. Em 1973 era difícil chegar às imediações do Guadiana, as castas e os vinhos alentejanos permaneciam desconhecidos, mas o primeiro desafio a ser vencido não resultou da agronomia mas da política. Em 1974 a herdade é nacionalizada e José Roquette preso durante quatro meses, seguindo-se o exílio no Brasil. As terras seriam finalmente devolvidas em 1984.
Os primeiros vinhos, de 1985, produzidos a partir dos 100 hectares de vinhas plantados em 1973, surpreenderam a crítica e mobilizaram de imediato uma legião de adeptos, mas só depois de 1992, com a chegada de David Baverstock, um australiano que dava os primeiros passos da sua carreira no Douro, é que a Esporão consolidou o seu projecto. "A capacidade criativa e de liderança do David é um activo absolutamente extraordinário que aqui temos", reconhece José Roquette. Na década em que o vinho português se modernizou, nos anos 90, a Esporão tornou-se um símbolo dessa vaga.
Com um peso decisivo na evolução geral do sector, mas principalmente do Alentejo. A Esporão "foi o projecto âncora a partir do qual vieram depois outras iniciativas, as quais, alías, sempre apoiámos", diz José Roquette.
A chegada da segunda geração da família à liderança da empresa aconteceu em 2006. João Roquette, 39 anos, funciona como um estímulo às tendências anteriores. Novos vinhos (Duas Castas ou os monocastas) são lançados, novos equipamentos construídos, a internacionalização acelera. Nada se faz com rupturas. "O que estava na nossa preocupação na origem deste projecto era fazer os melhores vinhos possíveis. É isso que temos vindo a fazer", diz João.
A continuidade é a nota dominante. "As empresas familiares têm uma enorme vantagem que permite gerir e perceber o que vai acontecer no prazo de uma geração", diz José Roquette. O fundador que ousou criar um Alentejo verde no coração do sequeiro olha o futuro e relaxa. "Daqui a 40 anos não vou cá estar, mas sinto hoje uma enorme tranquilidade sobre o futuro da Esporão".
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Herdade do Esporão