Ter vinhos das regiões mais apeteciveis e poder escolher as uvas e respectivas parcelas é certamente o sonho de qualquer produtor e a felicidade do enólogo, mas só em casos contados será possível conjugar todas as variantes. Mas é mais ou menos isso que se passa com a Lua Cheia em Vinhas Velhas, um produtor que está no mercado há apenas três anos, exporta já mais de metade da produção e vê alguns dos seus vinhos esgotarem ainda antes de lançada a nova colheita. A par da evidente qualidade dos vinhos, o segredo parece estar numa política de preços realista, aliada à eficácia da distribuição.
A empresa foi lançada em 2009, juntando a paixão e conhecimento de dois enólogos e a visão estratégica de um empresário. Manuel Dias, há muito detentor de uma experiente estrutura na área da distribuição, associou a sua perspectiva de negócio à paixão pelos vinhos e saber enológico de João Silva e Sousa e Francisco Batista. A ambição de fazerem vinhos de parcela, com personalidades e estilos distintos, levou-os até ao Douro, onde estabeleceram uma parceria com a Casa Agrícola Águia de Moura, com adega em Martim, Murça.
É com base em uvas de parcelas determinadas destas zonas de maior altitude da região do Douro que é elaborada a gama de brancos. Em geral povenientes de vinhas velhas tradicionais e detentoras de forte individualidade, cujos produtores não têm dimensão ou capacidade para proceder à própria vinificação. A gama Andreza é disso espelho fiel, com um varietal Códega do Larinho que bem expressa o poderio da casta e as especificidades do lugar. Um vinho de grande pureza, seco e fresco, que está à venda por menos de sete euros. E o mesmo se diga tanto em relação ao lote Viosinho/Verdelho, pelo mesmo preço, como ao topo de gama dos brancos, o Andreza Grande Reserva, que bem justifica os 14 euros com que aparece nas prateleiras.
Nos tintos é idêntica a filosofia da empresa, com lotes a serem feitos com base em uvas de parcelas escolhidas no Cima Corgo e Douro Superior. O Grande Reserva 2009 rapidamente conquistou os favores da crítica, tanto nacional como internacional, que sempre sublinhava a boa relação qualidade-preço. A colheita seguinte não atingiu a qualidade exigida, mas acaba de ser lançada agora a colheita de 2011, apenas com as tourigas, Nacional e Franca. Um vinho intenso, poderoso e ainda com toda elegância da fruta. Boca muito elegante, sensações de fruta fresca e madura e tanino ainda vivo e a prometer muito boa evolução. O ideal seria mesmo que pudesse esperar mais uns tempos para atingir a plenitude, mas a ânsia do mercado parece ter ditado esta espécie de parto prematuro. Pelo preço, 17 euros, parece valer bem a pena reservar algumas garrafas para os próximos anos. A gama de tintos do Douro completa-se com o Andreza Reserva, que se fica pelos sete euros na venda ao público. Mais baratos ainda, o Lua Cheia em Vinhas Velhas, abaixo dos cinco euros, e o Colleja, um vinho de combate na casa dos três euros que é praticamente todo absorvido pela exportação.