Um dos argumentos para a união de esforços está na identidade própria do local, que, na gíria do mundo dos vinhos, se designa por terroir – uma conjugação de solo, subsolo, clima, enquadramento físico e natural, castas e intervenção do homem. Este facto justifica, por si só, que existam vinhos na região desde há muitos anos e uma grande concentração de produtores, 12 no total.
Embora a Vidigueira Wine Lands só abarque metade dos produtores, a verdade é que a produção somada roda os 90% da sub-região. «São 12 produtores grandes, mas são muitos produtores pequeninos que vendem à Adega Cooperativa da Vidigueira», sublima Reto Jörg.
Muito mais do que vinho
«Queremos fazer marketing em Portugal e no estrangeiro. Sentimos, muitas vezes, lá fora que as pessoas não sabem nada sobre Portugal e da cultura portuguesa; só o Figo e o Ronaldo» – afirma o presidente da associação. Reto Jörg afirma que há mais coisas, para além do potencial qualitativo do vinho, que podem valorizar o vinho da sub-região. Segundo ele, podem acrescentar-se argumentos culturais: Vasco da Gama foi conde da Vidigueira e é figura reconhecida em todo o mundo, existe o sítio arqueológico da vila romana de São Cucufate, que este responsável diz ter a mais antiga adega da Península Ibérica. E existe a casta Antão Vaz.
«O nosso grande objectivo é criar uma rota de vinhos, e a rota não vai ser só vinho. Podemos convidar as padarias para fazerem o pão a lenha, há as queijarias, as salsicharias, os restaurantes, os museus... É importante vender cultura e história». Porque «hoje, vender só o vinho não é fácil. A comida sempre levou o vinho atrás... veja-se o casos do italianos ou dos espanhóis, que para onde foram levaram a sua gastronomia. Temos de estar associados» – garante.
Quando se fala em Alentejo e em tradição, ocorre perguntar acerca do vinho de talha. O sistema, tipicamente alentejano e herdado dos Romanos, consiste em fazer vinho e armazená-lo em grandes ânforas de barro. O processo milenar permite a micro-oxigenação, técnica muito em voga na enologia moderna, e que consiste em deixar passar algum ar para dentro de recipiente onde está o vinho. Reto Jörg responde pronto: «Por isso está lá a Vitifrades», uma associação de desenvolvimento local destinada à preservação e divulgação do vinho de talha.
No entanto, tudo está no estado das ideias. «Tudo está a dar os primeiros passos», reconhece Reto Jörg, que afirma querer recuperar uma «tradição» que conheceu nos primeiros momentos da sua vida em Portugal: «Quando cheguei, em 1986, quando se pedia um vinho branco, num restaurante, era ‘um branco da Vidigueira’. Isso era muito interessante e foi uma coisa que se perdeu. Queremos recuperar isso. Queremos provocar um renascimento».
No horizonte está a realização duma festa do vinho da Vidigueira, que não seja apenas a dum produtor. Perguntou-se-lhe acerca doutros, que ficaram de fora do projecto, cavalgarem a onda e dela tirarem partido. O empresário respondeu: «Paciência... a concorrência é uma coisa boa».