Fugas - Vinhos

  • As grandes nações do vinho já começam a replicar o modelo português, mas levam um atraso de décadas na recolha de dados
    As grandes nações do vinho já começam a replicar o modelo português, mas levam um atraso de décadas na recolha de dados Tiago Machado
  • Herdade de Pegões
    Herdade de Pegões Tiago Machado
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    Herdade de Pegões Tiago Machado
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    Herdade de Pegões Tiago Machado
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    Herdade de Pegões Tiago Machado
  • Antero Martins
    Antero Martins Tiago Machado

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Portugal, o santuário mundial da biodiversidade da vinha

Agora, depois de o Estado ter cedido em 2009 à Porvid parte de uma herdade em Pegões, na Península de Setúbal, nada longe de propriedades e da adega de sócios como a José Maria da Fonseca ou a Cooperativa de Santo Isidro de Pegões, entre outros, as plantas estão todas a caminho de uma nova casa. Milhares delas já foram instaladas (em vasos) e vai-se preparar mais terreno para guardar 50 mil genótipos das tais 250, ou mais, castas portuguesas, mesmo ao lado de uma área de 80 a 100 hectares onde uma parte importante dessa variabilidade vai ser enxertada e posta a produzir, para análise comparativa.

A necessidade de guardar um tão elevado número de espécimes é facilmente percebida se soubermos que, nas mais de 60 castas já bem estudadas ao longo destes anos, há exemplos de uma diversidade intra-casta impensável noutros países, que andaram a deitar essa variabilidade ao lixo. Se o Riesling alemão se faz com muitos poucos clones, do Alvarinho, há 530 genótipos diferentes conhecidos, com diferentes consequências na produção, compara Antero Martins. Aliás, foi depois de estudada a variabilidade interna da Touriga Nacional, um dos primeiros alvos da atenção do projecto, que o sector conseguiu descobrir e seleccionar genótipos que, com ganhos superiores a 30%, resolveram o problema da baixa produtividade e da desconfiança com que esta grande casta portuguesa era encarada, na década de 70, pelos produtores do Douro.

O estudo aprofundado da variabilidade dentro de cada casta foi um dos grandes avanços do projecto e Antero Martins insiste sempre em associá-lo à entrada em cena de uma sua assistente, Elsa Gonçalves, que o ultrapassou – e ele di-lo com o gosto de quem não quer ficar com o conhecimento só para si – na capacidade de pôr a estatística, e a informática, ao serviço da genética quantitativa. Graças a este aporte, já reconhecido no meio científico internacional, a equipa conseguiu, para mais de seis dezenas de castas, identificar as suas variantes internas e o comportamento de cada uma, independentemente de factores ambientais, em parâmetros como a produção, a acidez, o açucar (importante para o teor alcoólico) e as antocianas (pigmentos responsáveis pela cor escura do vinho tinto).

Não é difícil imaginar a utilidade deste conhecimento para a vitivinicultura portuguesa. E há casos concretos em que ele já resolveu problemas, explica António Graça. Já se percebeu por exemplo que a tinta-roriz, muito apreciada, entre outros aspectos, pela cor que imprime aos vinhos, perde, precisamente nesse aspecto, a partir de um determinado patamar de produção, potenciado por condições ambientais favoráveis. Perante isto, tem sido feito um esforço de enxertar as novas vinhas com genótipos menos "produtivos", mas que garantem a qualidade máxima pretendida. António Graça, tal como Antero Martins, antevêem o que isto, multiplicado por todo o nosso parque de castas, significa, em termos de competitividade, para o país, numa altura em que são visíveis os efeitos das alterações climáticas.

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