É fácil demonstrar com argumentos palpáveis, com a evidência de muitos dos vinhos mais velhos do Alentejo, que esta premissa é incorrecta e não faz qualquer sentido para além da repetição destemperada de um chavão. Os vinhos alentejanos conseguem envelhecer tão bem ou melhor que outras regiões, como aliás demonstram de forma cabal tantos rótulos clássicos da região. Entre eles, entre as confirmações da capacidade de guarda dos vinhos alentejanos, encontram-se os “Garrafeira” da Herdade do Esporão, também conhecidos como “Private Selection” da Herdade do Esporão.
Entre a larga oferta da casa, os Private Selection foram os vinhos incumbidos de demonstrar a arte enológica da Herdade do Esporão, vinhos desenhados para uma vida duradoura no cativeiro da garrafa. Os Garrafeira ou Private Selection são lançados exclusivamente em anos excepcionais, encerrando em si muitos dos valores, alma e singularidade do Alentejo. Curiosamente, as diferentes colheitas do Private Selection podem ser decompostas em duas fases e dois estilos bem distintos... apesar de sempre terem conseguido manter um fio condutor comum e de terem beneficiado da paternidade cuidadosa de David Baverstock, o enólogo luso-australiano que se tem mantido ao comando da enologia da Herdade do Esporão durante toda a vida académica dos Private Selection da Herdade do Esporão.
As primeiras colheitas, de vindimas já tão distantes como 1994 ou 1997, são aquelas que se apresentam mais clássicas, tradicionais e em tudo semelhantes aos Esporão Reserva dos anos correspondentes. Na verdade, as duas primeiras edições do então chamado Garrafeira distinguem-se dos Esporão Reserva dos mesmos anos pela selecção mais apurada das barricas, pela selecção das melhores barricas do mesmo lote do Reserva.
As colheitas subsequentes à vindima 1999 foram já elaboradas e desenhadas com o objectivo explícito de fazer um vinho Garrafeira, criando lotes próprios e autónomos do Reserva, assentando maioritariamente nas castas Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon e mais recentemente na Touriga Nacional. Para além da diferença de lote, os vinhos diferenciavam-se igualmente pela utilização de carvalho francês em detrimento do carvalho americano então costumeiro, bem como pela vinificação nos já então famosos lagares circulares da Herdade do Esporão. Um mundo de diferenças que justifica o perfil mais carnudo, apurado e vigoroso dos Private Selection.
