Fugas - Vinhos

  • DR/Quinta do Pôpa/Rui Costa
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  • DR/Quinta do Pôpa/Rui Carvalheira
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Quinta do Pôpa: O sonho de fazer alguns dos melhores tintos do Douro

Por José Augusto Moreira

O avô sonhou mas nunca conseguiu produzir vinho na terra. São agora os netos que dão asas a este sonho. Uma história de final feliz com direito a vinhos de matriz duriense abertos ao mundo e à vanguarda.

A Quinta do Pôpa é uma espécie de homenagem ao avô, trabalhador rural que sempre sonhou produzir vinho em terra própria mas que a pobreza do Douro nunca permitiu. Essa ambição, no entanto, manteve-se sempre na família e são agora os netos quem dá asas ao sonho com uma bela propriedade de 30 hectares, dos quais 14 de vinha, toda com a classificação máxima do Douro, letra “A”, e três deles com vinha velha de mais de 60 anos.

As terras foram sendo adquiridas em pequenas parcelas pelo filho, emigrado em França, até que os netos, criados noutras paragens, entenderam que era tempo de concretizar o sonho do avô. A quinta fica no coração do Douro, no Cima Corgo, em Adorigo, Tabuaço, e desenvolve-se em soalheiros socalcos que acompanham o rio na sua margem esquerda.

O nome, como está bom de ver, é herança do avô, a quem todos chamavam o “Pôpa” pela sua jovialidade e a franja lambida que usava e era a sua imagem de marca. Como nesses tempos não havia lacas nem gel, era com açúcar que conseguia o tal arrebito capilar, o que, pelo que consta, lhe granjeava grande popularidade entre o mulherio de então.

Era, portanto, aquilo a que se chamaria um moderno em meio rural e pode-se dizer que vai também um pouco nesse sentido a filosofia de produção da Quinta do Pôpa. Vinhos de perfil moderno e cheios de carácter, conciliando as modernas técnicas com a secular tradição duriense. Vinhos que se abrem ao mundo sem perderem a matriz duriense.

Todos os vinhos são vinificados com pisa a pé em lagares de granito e com temperatura controlada e embora a propriedade possa produzir vinho do Porto, a opção foi pelos vinhos de mesa, com o objectivo de produzir alguns dos melhores tintos do Douro. Uma ambição assumida desde o início do projecto, em 2003, com o reforço da plantação de castas nobres da região – Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Sousão e uma grande percentagem de Touriga Nacional – a juntar ao lote de mais de vinte castas distribuídas pelos três hectares de vinha com mais de 60 anos.

Numa equipa de enologia que antes da última vindima foi reforçada com Francisco Montenegro e João Menezes, o bairradino Luís Pato (amigo da família de longa data) é o homem do leme, que tem assumido este seu projecto duriense com uma visão modernizadora, o arrojo e desassombro que lhe são reconhecidos.

Domar a rusticidade e fazer vinhos de perfil elegante e internacional tem sido a sua obra e lema de vida, e isso nota-se também nos Pôpa. A quinta engarrafa dois tintos varietais (Touriga Nacional e Tinta Roriz), um Vinhas Velhas e um inovador Tinto Doce. Além disso, há os Contos da Terra (branco e tinto), que são os vinhos de entrada de gama, e a linha Prefácio, a única com branco, tinto e rosé.

Foram da colheita de 2007 os primeiros vinhos a serem engarrafados, e estão a sair agora para o mercado os Popa 2009, a par dos Contos da Terra de 2012. Depois de uma primeira apresentação em Lisboa, as novidades foram dadas a conhecer a Norte em véspera de Natal, num almoço no restaurante Shis, que há-de ficar na memória. Pelos vinhos, claro, mas também porque dias depois o temporal haveria de, literalmente, levar pelos ares aquele que é uma das mais interessantes casas do panorama restaurativo nacional. Uma perda que seria naturalmente irreparável, não fosse a determinação do proprietário e da equipa do chef António José Vieira, que prometem estar de volta ainda durante a Primavera. Bem hajam por isso!

Elegância e complexidade

Quanto aos vinhos, o Contos da Terra Branco 2012, com Viosinho, Malvasia, Fernão Pires e um pouco de Moscatel, é um vinho fresco e jovial e com preço bem interessante (3,90€). Seguiu-se o Popa TN (Touriga Nacional) Tinto 2009 (14€), que passa por um estágio de oito meses em casos com diferentes volumes. Sobressai a força da fruta madura, o equilíbrio e a suavidade do tanino. Um perfil muito fino e elegante e pouco comum em vinhos da casta com tão pouca idade.

O mesmo perfil de elegância e suavidade no Pôpa TR (Tinta Roriz) Tinto 2009 (19€), um vinho cuja exigência de qualidade fará com que não seja engarrafada a colheita de 2010. Muito macio, rico de sabor e uma frescura limpa e quase infinita. Sedutor e cativante na conjugação com a cor limpa e carregada.

Complexidade e elegância são os principais atributos do Popa VV (Vinhas Velhas) Tinto 2009, que só deverá chegar ao mercado nos próximos meses. Apesar do custo anunciado (22€), perfila-se como uma interessante relação qualidade/preço, não só pelas suas características intrínsecas (intenso, vinoso, especiado e balsâmico) mas também pela rara finesse que, sem deixar de expressar o Douro, remete para um perfil mais associado aos grandes vinhos do mundo.

Interessante é também o exercício de inovação com o Tinto Doce (15€/0,5L), uma irreverência com uvas de vinhas velhas e maturação extrema (sem chegar à podridão), cuja fermentação é interrompida para não ultrapassar os 10% de álcool. Um toque de acidez volátil que “domina” a doçura, numa espécie de introdução ao vinho do Porto.

A juntar aos vinhos com marcas da quinta há ainda outros dois projectos, um associado a Luís Pato e outro em ligação com o criativo alemão Finkus Bripp.

O primeiro resulta da conhecida irreverência do enólogo bairradino, que associa duas das mais marcantes castas do Douro e da Bairrada, a Tinta Roriz e a Baga, respectivamente. Apresentado como um vinho sofisticado, o PaPo (iniciais de Pato e Popa) assume também o nome de TREPA (Tinta Roriz e Pan, da vinha bairradina) na versão de exportação.

De cariz marcadamente urbano e moderno é o projecto com o criativo sediado em Berlim. A ideia surgiu em 2011 durante uma feira, nos EUA, onde os vinhos Pôpa despertaram a atenção do designer e consultor criativo especializado em conceitos inovadores de vinhos. No ano seguinte foi lançada numa galeria de arte de Berlim a primeira edição da Wine on the Rocks Finkus Collection – Lolita & Milf, dois DOC Douro da Quinta do Pôpa que são comercializados em conjunto, um pack com caixa em madeira ao preço de 40€ (ou 90€ para a versão magnum).

Num perfil que privilegia a elegância e lógica urbana de lifestyle, os vinhos assumem conceitos associados às personalidades (e rótulos) criadas por Finkus. Lolita é jovem, fresca, explosiva e directa, enquanto a mãe, Milf, é mais madura e complexa, e como tal com mais sabedoria e longevidade. E assim são os vinhos.

Da experiência inicial foram feitas 666 garrafas, mas a última edição vai já nas 2500, com as vendas a crescerem em circuitos artísticos da Alemanha, Suíça e EUA.

Além de um projecto de enoturismo em marcha, no Pôpa a aposta passa também muito pela internacionalização das vendas. A exportação para EUA, Bélgica, Brasil e Alemanha representou já no ano passado 65% das vendas das 50 mil garrafas produzidas e os responsáveis pela propriedade, Stéphane e Vanessa Ferreira, netos do Pôpa, esperam chegar a 75% da venda no estrangeiro já no próximo ano.

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