Porque quando isso acontece é frequente verificar que muitas das teses do “nacionalismo vínico” não resistem ao confronto com a realidade. Porque se gostos são gostos e se ao nível dos tintos Portugal atingiu um patamar de excelência, ainda não tem um branco capaz de se igualar aos grandes brancos, por exemplo, da Borgonha. Ah, e não tem Champagne.
Se a melhor forma de se provar que o “isolacionismo vínico” é uma atitude errada, peguem-se nas ofertas que a distribuidora Heritage Wines tem à disposição no mercado nacional. Comece-se com um Bollinger “La Grande Année” de 2002 para se perceber que, em termos de sofisticação e elegância pura, pouco se compara a um bom Champagne. É impressionante a riqueza aromática deste vinho, capaz de conjugar aromas de maçãs verdes da fruta com notas de barrica e indícios de biscoito que acusam o envelhecimento. É magnífico o rasto crocante que deixa na boca, prenúncio de um final longo e fresco.
Depois, pode continuar-se com um Louis Jadot, Chassagne Montrachet, “Clos de Chapelle”, de 2009, produzido na famosa “Côte de Blancs” na Borgonha. Um vinho, obviamente, 100% Chardonnay, que passou cerca de 12 meses na barrica e que se apresenta numa forma notável. Se, como por vezes acontece com os grandes vinhos, o nariz é contido, na boca é um vinho sedoso, longo, com a fruta a diluir-se em sintomas de envelhecimento que terminam com notas de alperce. Um branco memorável, que durará mais duas décadas na garrafa.
Quanto a tintos, a Heritage propõe um peso-pesado de Côtes-Rôtie, de 2009: um E. Guigal Chateau d’Ampuis. Um vinho que se impõe pelo poder, com um volume de boca e uma intensidade de fruta tipicamente mediterrânicos bem temperados por uma acidez e uma estrutura de taninos que marcam a boca com impressões vegetais (espargo) de grande complexidade. Um tinto musculado, feito de Syrah (93%) e com um pequeno lote da casta branca Viognier, que passou 36 meses na barrica. Um tinto notável.
Mas… há sempre um mas nos vinhos de classe mundial. O preço, claro. O Bollinger e o Guigal custam 130 euros. O Louis Jadot 80 euros. Muito? São as regras do mercado. O facto é que Portugal “teve direito” a pequenas quantidades de cada um destes vinhos. Para cá vieram 24 Guigal, 120 Louis Jadot e 300 Bollinger.