Fugas - Vinhos

Três bombas contra o “nacionalismo vínico”

Por Manuel Carvalho

O “nacionalismo vínico” não é em si uma coisa má, desde que se manifeste em doses moderadas. Dizer que os vinhos de Portugal são os melhores do mundo pode ser um estado de espírito, desde que não nos leve a desistir de provar o que se faz lá fora.

Porque quando isso acontece é frequente verificar que muitas das teses do “nacionalismo vínico” não resistem ao confronto com a realidade. Porque se gostos são gostos e se ao nível dos tintos Portugal atingiu um patamar de excelência, ainda não tem um branco capaz de se igualar aos grandes brancos, por exemplo, da Borgonha. Ah, e não tem Champagne.

Se a melhor forma de se provar que o “isolacionismo vínico” é uma atitude errada, peguem-se nas ofertas que a distribuidora Heritage Wines tem à disposição no mercado nacional. Comece-se com um Bollinger “La Grande Année” de 2002 para se perceber que, em termos de sofisticação e elegância pura, pouco se compara a um bom Champagne. É impressionante a riqueza aromática deste vinho, capaz de conjugar aromas de maçãs verdes da fruta com notas de barrica e indícios de biscoito que acusam o envelhecimento. É magnífico o rasto crocante que deixa na boca, prenúncio de um final longo e fresco.

Depois, pode continuar-se com um Louis Jadot, Chassagne Montrachet, “Clos de Chapelle”, de 2009, produzido na famosa “Côte de Blancs” na Borgonha. Um vinho, obviamente, 100% Chardonnay, que passou cerca de 12 meses na barrica e que se apresenta numa forma notável. Se, como por vezes acontece com os grandes vinhos, o nariz é contido, na boca é um vinho sedoso, longo, com a fruta a diluir-se em sintomas de envelhecimento que terminam com notas de alperce. Um branco memorável, que durará mais duas décadas na garrafa.

Quanto a tintos, a Heritage propõe um peso-pesado de Côtes-Rôtie, de 2009: um E. Guigal Chateau d’Ampuis. Um vinho que se impõe pelo poder, com um volume de boca e uma intensidade de fruta tipicamente mediterrânicos bem temperados por uma acidez e uma estrutura de taninos que marcam a boca com impressões vegetais (espargo) de grande complexidade. Um tinto musculado, feito de Syrah (93%) e com um pequeno lote da casta branca Viognier, que passou 36 meses na barrica. Um tinto notável.

Mas… há sempre um mas nos vinhos de classe mundial. O preço, claro. O Bollinger e o Guigal custam 130 euros. O Louis Jadot 80 euros. Muito? São as regras do mercado. O facto é que Portugal “teve direito” a pequenas quantidades de cada um destes vinhos. Para cá vieram 24 Guigal, 120 Louis Jadot e 300 Bollinger.

--%>