Numa entrevista por e-mail, Dirceu Vianna Júnior assume o papel de adepto militante das castas portuguesas, mas não faz desse ponto de vista um fundamentalismo. Aplaude o cruzamento dos saberes antigos com o contributo de uma "geração de jovens talentosos". Admira-se com a possibilidade de se beberem bons vinhos de Norte a Sul do país. E coloca-se ao lado dos que contestam a exclusividade da rolha de cortiça nos vinhos portugueses. Com outros vedantes, diz, os consumidores de brancos aromáticos só teriam a ganhar.
O que distingue o vinho português no oceano mundial dos vinhos que se consolidou nos últimos anos (se é que há algo de verdadeiramente distintivo no vinho português)?
A habilidade de respeitar historia e tradição mas, ao mesmo tempo, não ter medo de adoptar padrões de tecnologia modernos. O grande diferencial que Portugal possui é, sem dúvida, a diversidade em termos de castas. Entretanto, existe também o aspecto humano. A indústria conta com enólogos da velha guarda que possuem experiência inigualável, mas também conta com uma geração de jovens talentosos, determinados e que levarão Portugal a um padrão de qualidade ainda mais alto no futuro. Factores históricos, tradição, aspecto humano e, principalmente, a riqueza em termos de diversidade das castas são alguns dos principais pontos que ajudam a distinguir Portugal no oceano mundial dos vinhos.
O que mais aprecia nos vinhos de Portugal?
A sua diversidade. Portugal oferece vinhos em todas faixas e preços, em vários estilos e com habilidade de harmonizar os mais variados pratos, sejam da cozinha portuguesa, brasileira, asiática ou qualquer outra. O vinhos são genuínos e de estilos tao distintos que jamais cansam o consumidor que gosta de explorar e aprender.
Como se posiciona no debate sobre a aposta exclusiva nas castas portuguesas ou na adopção de variedades ditas internacionais?
Eu posiciono-me fortemente a favor das castas portuguesas. A amplitude da oferta é o maior diferencial que Portugal tem. Arinto, Encruzado, Touriga Franca, Touriga Nacional são castas de excelente qualidade. Acredito que essas castas não devem ser sacrificadas a favor das castas internacionais. Mas não precisamos ser radicalmente contra o fluxo de coisas novas que poderão ajudar Portugal crescer no competitivo mercado mundial. Já tive a oportunidade de degustar excelentes vinhos portugueses à base de Sauvignon Blanc, Semillon e Syrah, por exemplo. Talvez isso sirva para demonstrar que Portugal também consegue fazer vinhos de estilo internacional com padrão de qualidade tao bom como qualquer outro pais. Adicionam ainda mais cores em uma paisagem já bonita.
Recomenda a estratégia da "singularidade nacional" ou defende que os produtores deviam entrar na disputa das regras do jogo impostas pelo padrão mundial do gosto?
A grande maioria dos produtores Portugueses são de pequeno porte e não têm escala suficientemente grande para brigar com os grandes empresas do Chile, Estados Unidos ou Austrália, por exemplo. Por esse motivo, a arma principal deve ser singularidade nacional e sua oferta de diversas castas e estilos de vinho. Adicionar uma pequena fracção de alguma casta internacional como Merlot, Cabernet ou Syrah para complementar uma casta portuguesa pode às vezes até ajudar o consumidor internacional que ainda não seja familiar com as castas indígenas do país a optar por uma garrafa de vinho português, pois vai-se deparar com algo familiar. Entretanto, sacrificar o carácter e estilo típico português e a singularidade nacional para seguir o padrão mundial é perigoso e desaconselhável.