Às onze horas da manhã de um dia primaveril, o júri começou a reunir-se na sala Tom Jobim do Hotel da Música, instalado numa das alas de um mercado tradicional da cidade do Porto entretanto recuperado, a escassa distância da Casa da Música. A sala estava com uma temperatura regulada e limpa de odores capazes de perturbar o olfacto. Antes da prova se realizar, as garrafas foram cobertas com papel de alumínio de modo a esconderem os seus rótulos e numeradas de acordo com um sorteio. Pouco depois, os vinhos começaram a rolar. E de imediato se gerou um consenso: a qualidade média dos brancos em prova era elevada.
Como seria de supor, nesta ronda os vinhos mais bem classificados foram os que exprimiam sedosidade no corpo, frutas frescas e jovens no aroma e acidez controlada. Um Esporão de 2013, de um lote feito a 70% com a casta Gouveio e 30% com a superfrutada Antão Vaz ficou em segundo lugar, logo depois do Pedra Cancela de 2012, do Dão, um branco com uma vivacidade que denunciava a identidade da casta Encruzado e o perfume da Malvasia. Pelo contrário, vinhos com mais tensão, mais acidez e vigor na boca saíram penalizados nesta fase da prova.
Chegada a hora do almoço, seguiu-se a segunda fase da prova. No restaurante do Hotel da Música, entradas com queijos, salmão fumado, enchidos e carpaccio de bacalhau abriram o confronto entre os vinhos e a comida. Os elementos do júri não ficaram com as notas da primeira sessão para evitar serem influenciados pelas suas opções iniciais. Os vinhos, com as garrafas outra vez envoltas em papel de alumínio, foram servidos numa ordem diferente da anterior, igualmente determinada por sorteio. De imediato, o painel tratou de invocar a memória para fazer comparações. Em alguns casos foi possível. Ao contrário do que se passara de manhã, os seus membros entenderam por bem abrir a prova a comentários, ignorando os riscos de influenciar os vizinhos. "O número 3 é o número 5 da parte da manhã?", perguntavam. "O número 5 não aguenta o bacalhau", afirmavam.
Nesta fase, o bacalhau preparado pelo chef do Hotel da Música exigia vinhos com garra para o "combate" com o sal e o azeite. Os vinhos polidos, redondos, frutados que tinham merecido todos os encómios da manhã, começaram a perder pontos em detrimento dos vinhos com mais acidez e estrutura. O Luís Pato Vinhas Velhas de 2011 que na primeira sessão ficara na última posição, parece ter rejuvenescido e conquista a segunda posição na prova com comida. E o Prova Régia Premium de 2012, um dos vinhos mais baratos na competição, sobe ao primeiro lugar, depois de um desempenho mediano na sessão inaugural.
Quer isto dizer que uns vinhos são objectivamente melhores do que outros? Não necessariamente. O que o resultado da prova nos sugere é que há vinhos melhores para serem bebidos num momento de convívio e outros vinhos que só mostram o que valem perante uma mesa posta. Dizer que, neste ou naquele determinado momento, apetece beber um branco é por isso uma abstracção. E, por oposição, conhecer os brancos mais ajustados para cada uma das circunstâncias e chamá-los pelo nome é um sinal de sabedoria.