Uma espécie de magia criativa que se manifestou depois também no cruzamento entre o LVB 2009 e um chocolate 80% preto à base de cacau produzido no delta do Mekong, no Vietname, que se caracteriza pela evidência de aromas e sabores de frutos vermelhos. Da conjugação salta um sabor mentolado, longo e estimulante, que antes não existia.
Interessante foi perceber também como funcionava este chocolate, não com um vinho do Porto mas com o DOC Douro Vale de Cavalos, igualmente caracterizado pela sedução das sensações de frutos vermelhos. Chocolates amargos deveriam, em princípio, funcionar com o tanino do vinho, também ele um elemento amargo. A questão é que a ausência de doçura abafa a fruta, que desaparece, e com ela toda a sedução que antes existia tanto no vinho como no chocolate.
Doçura é fundamental
E nem mesmo com um vinho mais rico e estruturado como o Símbolo 2010, que se cruzou a seguir com um chocolate 100% preto oriundo do Equador. Seco, terroso e intenso, com o efeito de desestruturar o vinho. Como que o decompõe, mostrando na boca todas as suas características mas de uma forma desgarrada, sem ligação entre si.
Estimulante, pelo contrário, a associação deste mesmo chocolate com o Porto Vintage 2011. Uma harmonia clássica onde tudo parece perfeito e estar no seu sítio.
Outra constatação foi a de que um vintage mais novo como o de 2011, que preserve mais fruta e açucares, funciona melhor no cruzamento com o chocolate que o extraordinário vintage 2006. Mesmo que o chocolate seja fresco, macio e convidativo como era o Pichanaki 100% preto originário do Peru.
Apesar das diversas sensibilidades, no final todos concordavam que foi com o Tawny 10 anos e com o Vintage 2011 que se fizeram as mais vibrantes e estimulantes combinações. O primeiro para os chocolates menos densos, o segundo para os mais opulentos e complexos. Clássicas e perfeitas as associações com o LVB 2009 e também com o Vintage 2006, um vinho que está fabuloso mas para o qual o chocolate já não é a sua praia.
Em jeito de conclusão, há que concordar que para o confronto com os chocolates mais secos e amargos, doçura é fundamental. É por isso que os vinhos de mesa dificilmente poderão entrar neste tipo de campeonato.
Pelo meio, e em jeito de provocação de enólogo, Jorge Pintão ainda introduziu o seu Porto Pink, na conjugação com os chocolates com características mais frutadas. Apesar da falta de consenso, serviu para mostrar que o vinho do Porto precisa de coisa novas como os Pink e os Tónic para atrair novos consumidores. “O Douro é um comboio cuja locomotiva é vintage e os Porto; as carruagens são os vinhos do Douro, mas são precisos os Pink e Tonic para abrir novas portas de entrada”, sintetizou Jorge Pintão.