Fugas - Vinhos

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Opinião: A magia do lote, o saber do Vinho da Madeira

Por que razão se encontram tão poucos vinhos nestes dois patamares superiores de idade, trinta e quarenta anos? Acima de tudo por questões financeiras, pela dificuldade em assegurar uma razoabilidade económica nestas duas categorias. Não é fácil desviar vinhos necessariamente velhos e extraordinários para uma família que oferece menor retorno financeiro que os vinhos Frasqueira. Por muito arbitrário ou injusto que tal possa parecer, o mercado global sente maior apetência por vinhos de uma só colheita, vinhos que ostentem uma data no rótulo, que por vinhos com indicação genérica de idade, vinhos de lote que reúnem vinhos de diferentes idades numa combinação de que muitos nem compreenderão o significado.

Compor e estruturar um vinho com indicação de idade de trinta ou quarenta anos obriga ao desbarato de stock, obriga à diminuição do rol de vinhos muito velhos que representam uma das maiores mais-valias do Vinho da Madeira. Um património de vinhos velhos que é sempre curto e que levou muito tempo e muitas gerações a envelhecer, vinhos que não podem ser desbaratados em aventuras ou vinhos de menor valor comercial. Stocks inestimáveis que a maioria das casas sente relutância em desaproveitar na elaboração de um vinho com indicação de idade, sabendo que o mesmo vinho poderia vir a ser eventualmente comercializado como um Frasqueira… numa operação muito mais sedutora do ponto de vista comercial e financeiro.

A principal consequência desta triste realidade é que, apesar de os vinhos serem esplendorosos, a categoria indicação de idade vive sob a opressão do velho síndrome de “pescadinha de rabo na boca”, incapaz de atingir um estatuto mediático suficiente para atingir o preço adequado a vinhos tão velhos e excepcionais, agastando assim os produtores, que sentem pouco incentivo para desenvolver a categoria. Só mesmo o orgulho e a vontade em querer mostrar vinhos singulares que expõem a arte do lote poderão servir como motivação, criando vinhos especiais que se sobrepõem à mera racionalidade económica. Felizmente ainda há gente assim, capaz de nos brindar com vinhos de sonho que desafiam a pura e dura lógica da vida económica.

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