Mas a deriva de promover a região apostando tudo em duas castas emblemáticas do Dão, a Touriga Nacional e o Encruzado, representa um problema muito grave e potencialmente muito mais perigoso e danoso para o Dão. Não só porque a região nunca se afirmou através de vinhos extremes, vinhos de uma só casta, como nunca viveu do monopólio de uma casta tinta ou de uma casta branca. Seria um erro irreparável abandonar outras das castas emblemáticas do Dão como o Rufete, Alvarelhão, Bastardo, Barcelo, Bical, Verdelho, ou as mais tradicionais mas cada vez menos valorizadas Alfrocheiro, Jaen ou Malvasia Fina. Perder diversidade genética numa região tão rica em variedades seria um paradoxo de difícil compreensão.
Para não insistir no perigo tremendo que significa promover uma região assente exclusivamente no nome de castas, por mais nobres e extraordinárias que estas possam ser. Ninguém detém poderes exclusivos sobre a plantação de castas e a verdade é que a Touriga Nacional e o Encruzado podem ser plantados em qualquer parte de Portugal ou do mundo. Promover castas em detrimento do nome de regiões é um erro que pode sair muito caro… como a sub-região de Monção e Melgaço demonstra de forma tão eloquente e actual.
Mas nem tudo são espinhos no Dão e a região pode orgulhar-se de apresentar alguns dos grandes vinhos nacionais. Aparentemente, as coisas começam até a mudar de forma favorável para a região, que ganhou o poder de atracção para empolgar e trazer novos actores para a denominação alargando o leque de produtores de qualidade, diversificando a oferta e renovando ou protegendo algumas das vinhas. E, apesar de os olhos estarem maioritariamente virados para os vinhos tinto,s há que não perder de vista os excelentes vinhos brancos que a região produz e que por vezes chegam a exaltar ainda mais que os tintos.