Fugas - Vinhos

  • A juntar às notas cítricas e minerais, todos os vinhos apresentam carácter seco, fresco e intenso
    A juntar às notas cítricas e minerais, todos os vinhos apresentam carácter seco, fresco e intenso
  • Vinhas na ilha do Pico
    Vinhas na ilha do Pico Miguel Manso

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Preciosos brancos dos Açores ainda pouco conhecidos

A juntar às notas cítrica e marcadamente minerais, todos os vinhos apresentam  carácter seco, fresco e intenso. Ao aperfeiçoamento generalizado dos vinhos não é alheio o contributo de enólogos experientes e reconhecidos como Paulo Laureano, Anselmo Mendes ou António Maçanita, que têm trabalhado com alguns dos produtores açorianos. Em conjunto com a Comissão Vitivinícola Regional, Maçanita tem vindo a desenvolver um plano de recuperação da casta Terrantez do Pico, que estava em vias de extinção e da qual existiam já apenas à volta de uma centena de exemplares. É com ela que elabora um varietal de excepção e cuja degustação constitui toda uma experiência: seco e salino, cruza sensações de umami com frutos tropicais e até de algum tanino. A colheita de 2013 está no mercado por cerca de 40€, e não é só pela raridade. Do mesmo enólogo ainda outro varietal, de Arinto dos Açores, por cerca de metade do preço mas com a mesma intensidade mineral, salinidade e persistência de boca que o diferenciam.

Na mesma linha também os vinhos Ínsula e Curral Atlantis da mesma casta, igualmente de produções limitadas e que dificilmente se encontram fora da distribuição do arquipélago. Quanto a varietais, preciosos também os Verdelho Curral Atlantis e Cancela do Porco, com a particularidade de este último ser todo consumido no restaurante Ancoradouro, na vila da Madalena, que pertence ao produtor do vinho. Mas nem só por isso valerá a pena a visita, já que se trata da melhor casa do Pico, e provavelmente de todo o arquipélago.

É na associação entre o Verdelho e o Arinto dos Açores que se encontram os vinhos de maior consumo na região, de que o Curral Atlantis é um dos melhores exemplares. Juntando ainda um pouco de Terrantez do Pico, o Frei Gigante é de longe o vinho mais apreciado no arquipélago. A colheita de 2013, que agora provámos, supera claramente todas as anteriores, confirmando a perspectiva da enóloga, que apontava para a melhor colheita das últimas décadas.

Maria Álvares é responsável pela enologia da Adega Cooperativa do Pico, de onde saiu também este ano um surpreendente Terras de Lava, com um lote que mistura o Arinto dos Açores com Fernão Pires, Generosa e várias outras castas que existem pela ilha em escassas quantidades. Um vinho limpo, fresco e muito delicado, que cativa pela elegância e secura finais.

Apesar da crescente afirmação e evidente qualidade dos brancos do Pico, a questão é que grande parte da produção na ilha é ainda de tintos, manifestamente sem pé para andar em termos de produto. E o problema tem até uma dupla vertente, já que ao típico e tradicional vinho de cheiro se juntam vinhas recentes plantadas com algumas das mais castas internacionais. Já proibido em todo o lado, o vinho de cheiro resulta do encepamento americano, feito no final do século XIX na sequência da praga da filoxera. Além de ainda muito apreciado — apesar da qualidade abaixo do mínimo —, a questão nos Açores reveste-se de características culturais, já que é também muito utilizado como condimento em muitos do cozinhados tradicionais.

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