Com crise ou sem ela, com mais sacrifícios ou sem dificuldades de monta, mais próximo de casa ou em destinos mais exóticos, a maioria dos portugueses estará agora a banhos numa das muitas praias marítimas ou fluviais que se distribuem de forma quase uniforme pelo território nacional.
O tempo quente apela a vinhos mais frescos e directos, sobretudo vinhos brancos e rosados, estilos que ganham um protagonismo agravado durante esta época estival. A comida mais leve e os ingredientes também eles mais subtis e frugais sublinham esta súbita conversão aos vinhos brancos e rosados que costuma marcar os meses de Julho, Agosto e Setembro. Acabado este curto período de subversão aos costumes, a maioria retornará às graças do vinho tinto, remetendo brancos e rosés para a simples condição de acompanhante de entradas ou para um papel de iniciação, de preparo de boca antes da entrada do vinho principal.
Não será ocasião para voltar a predicar sobre as qualidades intrínsecas dos vinhos brancos portugueses, sobre a sua versatilidade e sobre a riqueza e originalidade das castas nacionais, sobre a existência de diferentes estilos de vinhos brancos que se adaptam na perfeição às quatro estações do ano e aos diferentes ingredientes de cada época. Será antes oportunidade para aproveitar a quadra de preferência pelos vinhos brancos para sugerir alguns rótulos que se destacam por diferentes circunstâncias e condições, tornando-os perfeitos para estes meses de Verão.
O tempo quente reclama frescura, exige acidez, reivindica mineralidade e viço, palavras que estão intimamente associadas à região do Vinho Verde. Num passado ainda recente, de que alguns ainda não descolaram, associava-se Vinho Verde a vinhos simples e com alguma agulha, vinhos frisantes e de gosto marcadamente acídulo, características que deixaram hoje, felizmente, de ser norma na denominação de origem. Muitos dos grandes vinhos brancos portugueses, de todos os feitios e de todas as categorias de preço, nascem nesta região do Vinho Verde.
Entre eles contam-se os vinhos da casta Alvarinho, uma das cinco grandes variedades brancas do mundo. Os melhores continuam a nascer no extremo nordeste do Minho, na sub-região de Monção e Melgaço, no berço do Alvarinho. É aqui que a casta mostra os melhores resultados e maior afinidade, é aqui que a compreendem melhor e que sabem tirar melhor partido das suas virtudes. Entre os grandes da região contam-se os vinhos Soalheiro, tanto na versão clássica como nas edições mais luxuosas e menos fáceis de encontrar, conhecidas como Soalheiro Primeiras Vinhas e Soalheiro Reserva. Prefira o primeiro para os dias mais quentes e guarde os dois últimos para os meses de transição ou para o frio do Inverno. Na sub-região há ainda que olhar com atenção para vinhos de produtores tão interessantes como Quintas de Melgaço, especialmente o Quinta de Melgaço Vinhas Velhas, Reguengo de Melgaço, Quinta do Regueiro, Dona Paterna, Deu-la-Deu ou os nem sempre fáceis de encontrar Alvaianas e Rebouça.
A casta Loureiro é a outra grande estrela da região, destinada a transformar-se numa das estrelas das variedades brancas nacionais. Reconhecer o produtor Quinta do Ameal como o representante mais seguro, mais crente nas suas virtudes e aquele que melhor representa a casta é da mais elementar justiça. Os vinhos encontram-se num patamar qualitativo superior e são a referência de facto pela qual todos se regem. Afros é outro dos grandes promotores da casta, um produtor que tem vindo a prosperar qualitativamente em cada nova vindima, apresentando não só Loureiros excelentes como vinhos tintos da casta Vinhão de uma pureza e frescura surpreendentes. Mas não poderia deixar de mencionar nomes da região igualmente excitantes e produtores de qualidade, com estas e outras castas da região, produtores como Quinta de San Joanne, Adega Cooperativa de Monção, Casa do Valle, Quinta da Lixa, Casa de Oleiros, Quinta de Gomariz ou Tormes.
O estilo tradicional é genericamente diferente, quase oposto, mas os vinhos brancos da Península de Setúbal merecem igualmente destaque directo e laudatório, não só pela qualidade intrínseca dos vinhos mas igualmente pelo preço especialmente doce a que a maioria são propostos. Se num passado ainda relativamente recente a casta Moscatel dominava a paisagem, actualmente os argumentos diversificaram-se e conseguimos encontrar castas e vinhos para todos os apetites, de variedades nacionais a estrangeiras, de perfil mais aromático ou mais incisivo.
A José Maria da Fonseca reúne um conjunto alargado de vinhos brancos encaixados em perfis bem diferenciados que variam entre uma aproximação mais clássica, como o Pasmados, ou uma visão mais jovem, como os Colecção Privada, por vezes alimentados por castas estrangeiras como o Grüner Veltliner, quase desconhecida em Portugal. A Bacalhôa surpreende com os frescos e intensos JP, uma das relações qualidade/preço mais arrebatadoras do mercado, sem esquecer os felizes Serras de Azeitão e o mais peremptório e formal Catarina.
A Cooperativa de Pegões espanta com a qualidade dos vinhos brancos apresentados, invariavelmente vendidos a preços mais que convenientes, vinhos como o Vale da Judia, Fontanário de Pegões ou Adega de Pegões, assentes maioritariamente nas castas Moscatel e Fernão Pires. E ainda tem tempo para inovar com o Fonte do Nico Light, um lote de Moscatel, Fernão Pires e Arinto que dá origem a um vinho fresco, leve, suave… e com apenas 10º de álcool. Por fim, a Casa Ermelinda de Freitas, também ela líder na sempre difícil equação entre a qualidade e o preço, conhecida pelos risonhos Terras do Pó e Dona Ermelinda.