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A segunda vida da Quinta do Fojo

Por Pedro Garcias

Os vinhos da Quinta do Fojo, que irromperam na cena duriense em 1996 e deixaram de ser produzidos a partir de 2001, estão de volta. Depois de uma ausência de 12 anos, Margarida Serôdio Borges, Rita Ferreira e António Taveira juntaram-se para relançar uma marca que em apenas cinco colheitas se tornou num ícone do Douro.

A colheita de 1996 foi uma das mais produtivas das últimas décadas no Douro e isso prejudicou a qualidade geral dos vinhos. Mas há pelo menos um grande vinho que nasceu e criou o seu prestígio nessa vindima. Na verdade são dois: o Fojo e o Vinha do Fojo. Ambos têm origem na Quinta do Fojo, situada na margem esquerda do rio Pinhão, no concelho de Alijó.

Já não há muitas quintas destas no Douro. Dos cerca de 13 hectares que possui a quinta, sete são de vinha muito velha, disposta em anfiteatro e tratada de forma biológica. É uma vinha com bastantes falhas, que lhe dão um certo ar de abandono — mas é apenas velhice. Muitas videiras vão morrendo e é muito difícil fazer vingar novas plantas em vinhas antigas. A primeira imagem não é muito exaltante. Porém, quando percebemos os limites da vinha, a sua raridade e disposição no terreno e o enquadramento da adega e da casa principal da quinta, erguidas em pequenos plateaux estratégicos, sem vida por perto, é que nos damos conta da imensa beleza e riqueza da Quinta do Fojo.

Foi esse encantamento que em 1996 tomou conta do australiano David Baverstock, na altura enólogo da Quinta do Crasto (hoje é o enólogo principal da Herdade do Esporão), quando visitou pela primeira vez a quinta e decidiu logo ali aceitar o repto da proprietária, Margarida Serôdio Borges, de fazer um grande vinho do Douro. O padrão de Margarida (irmã de Jorge Serôdio Borges, o produtor do tinto Pintas, do Douro) eram os grandes clássicos de Bordéus, vinhos com vida própria que estão sempre acima do enólogo e até do próprio proprietário.

Os deuses estavam com Margarida e David. O excesso de produção nunca se coloca numa vinha velha e a vindima de 1996 foi extraordinária na Quinta do Fojo. David Baverstock pensou como um bordalês e decidiu imitar a política de alguns grandes châteaux fazendo dois vinhos: um principal e caro, com o nome Fojo, e outro também muito bom mas com um preço generoso, o Vinha do Fojo. O primeiro era vendido a cerca de 70 euros e o segundo a 40 euros.

Apesar do preço elevado, os vinhos, sobretudo o Fojo, o mais caro, tiveram um grande impacto junto da crítica. As colheitas seguintes —1998 (em 1997 o vinho não foi feito), 1999, 2000 e 2001 — seguiram o mesmo padrão e colocaram os vinhos da Quinta do Fojo no patamar mais alto do Douro. A partir de 2011, o vinho deixou de ser feito. Margarida casou-se, teve filhos e quis dar prioridade à sua educação. A Quinta do Fojo podia esperar.

Quando um grande vinho deixa de ser feito vira lenda. Foi um pouco o que aconteceu com o Fojo. Nestes anos, o vinho nunca passou ao esquecimento e foi sempre visto como uma referência por parte de enófilos e críticos.

Há cerca de um ano, Rita Ferreira, a enóloga que faz os vinhos Conceito e Contraste, do Douro, tomou contacto com algumas colheitas do Fojo e o vinho impressionou-a tanto que quis conhecer as vinhas e Margarida Serôdio Borges. As duas encontraram-se e de uma mera curiosidade nasceu um projecto comum. Na altura, Margarida estava a preparar a criação de uma empresa com o primo António Taveira para relançar os vinhos da Quinta do Fojo. Depois de conhecer Rita Ferreira e ter provado os seus vinhos percebeu que partilhavam a mesma filosofia e desafiou-a a entrar na sociedade. E foi assim que nasceu a Fpartners.

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