Fugas - Vinhos

Enric Vives-Rubio

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O vinho sabe viajar?

Basta beber alguns vinhos portugueses noutros mercados, sobretudo nos países de clima mais quente e extremado e onde a rede de refrigeração é menos cuidada, para sentir as diferenças dos vinhos face aos testemunhos que ficaram em Portugal. Nem todos os vinhos sofrem o mal da mesma forma e alguns vinhos ou estilos viajam com mais facilidade que outros. Os vinhos generosos, por exemplo, vinhos como o Vinho do Porto, Vinho da Madeira ou Moscatel, são mais tenazes e sentem menos as agruras da viagem sobretudo, no caso do Vinho do Porto, os vinhos da família Tawny. Pelo contrário, os vinhos que mais sofrem são os brancos, especialmente os mais delicados, perdendo frequentemente muita da frescura inicial e desbaratando quase todas as subtilezas aromáticas originais, como que envelhecendo anos em escassos meses de vida.

Num mundo ideal, isto não aconteceria e o circuito de frio seria mantido em todos os momentos de viagem ou guarda. Infelizmente, sabemos que vivemos num mundo que está muito longe de ser perfeito. Se formos rigorosos, percebemos que este problema não é exclusivo dos mercados de exportação. Também em Portugal, independentemente de serem garrafeiras especializadas, lojas tradicionais, grandes superfícies, restaurantes ou hotelaria, independentemente de serem armazéns de logística ou carrinhas de distribuição a fazer entregas, se sentem os efeitos da falta de cuidado, a falta de conhecimento sobre as regras de conservação do vinho, ou a falta de incentivo para efectuar investimentos dispendiosos.

Quem sofre directamente com esta realidade somos nós, consumidores e compradores de vinho, bem como os produtores. As pequenas imperfeições que resultam da má conservação do vinho nem sempre são visíveis ou facilmente compreensíveis pelos consumidores que simplesmente, e naturalmente, penalizam o produtor pensando que o vinho “já foi melhor”…

 

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