Fugas - Vinhos

Cervejaria

Cervejaria Nelson Garrido

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Vinho e cerveja, duas realidades distintas

Curiosamente, e apesar de estarmos num país intimamente ligado à produção de vinho, ninguém se lembrou de produzir ou comercializar kits para a produção de vinho caseiro, formas fáceis e agradáveis de despertar o interesse pelo vinho e pela sua elaboração. Se no mundo da cerveja passou a ser relativamente simples passar de um consumo mais empenhado para a pequena produção, mesmo que em modo caseiro, no mundo do vinho existe uma compartimentação estanque e uma falta de incentivos e meios para a sua produção caseira que não autoriza os cidadãos urbanos a passar de simples consumidor à prática de elaborar o seu próprio vinho.

O que por sua vez impede, ou pelo menos desaconselha, a que os que amantes do vinho possam materializar a sua paixão em pequenos projectos vinícolas… tal como os amantes de cerveja têm concretizado ao longo dos últimos três ou quatro anos.

Claro que a lei geral não ajuda, obrigando a que toda e qualquer adega apta à produção de vinho, independentemente do seu tamanho e produção, seja submetida exactamente às mesmas regras e etapas no processo de licenciamento. Sujeitam-se assim os novos produtores, mesmo que francamente liliputianos e com uma ambição comercial minimalista, a regras tão apertadas e agressivas como aquelas reservadas às adegas que elaboram centenas de milhar ou milhões de litros.

Estas certificações incluem etapas como testes de ruído, mesmo que as adegas estejam fisicamente isoladas no meio do nada, certificação de risco contra incêndios e planos de bombeiros, como a indústria mais perigosa do mundo, ou a garantia de construção de estações de tratamento de efluentes.

Todo este processo de licenciamento comporta todos os custos inerentes à contratação de empresas de consultoria obrigatórias para cada um destes trâmites legais, independentemente de a produção se resumir a uma mera centena de garrafas em produção artesanal.

Seria possível inverter esta desagradável tendência? Sim, muito provavelmente simplificando o licenciamento das adegas destinadas aos pequenos volumes, diferenciando aquilo que é notoriamente diferente, acarinhando e estimulando novos produtores, novos agentes económicos que apesar de nascerem pequenos poderão um dia tornar-se grandes. Talvez então a produção de vinho possa assistir a um fenómeno tão feliz como aquele que o mundo da cerveja atravessa actualmente.

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