Fugas - Vinhos

  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda

Vinhos que procuram a natureza do Dão

Por José Augusto Moreira

Na Casa de Darei os vinhos não seguem modas, antes buscam a autenticidade da região.

Vinhos que não seguem modas, autênticos e reais. Assim é a filosofia da Casa de Darei, um produtor do Dão que procura evoluir segundo os desígnios da natureza e uma abordagem o mais natural possível nas práticas e métodos de produção dos seus vinhos. E apenas com as castas tradicionais da região.

A quinta, na margem esquerda do Dão e ainda encostada à albufeira de Fagilde mas com uma altitude a rondar os 400 metros, foi adquirida em 1997 por José Manuel Machado Ruivo, dando corpo ao sonho de propriedade rural. Quinze hectares com belo solar do séc. XVIII e uma vinha morta pelo abandono, que houve que arrancar para plantar de novo. Primeiro, junto ao rio, com um hectare, e depois em plano mais elevado com mais 4,5 hectares.


Tal como no refrão da música de Fausto, também no projecto de Darei há a clara noção de que atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir. E como as vinhas estão apenas agora a atingir a primeira década, também os vinhos têm procurado reflectir essa evolução. Mais espontâneos e angulosos os primeiros, mais afinados e estruturados nas últimas colheitas. Uma evolução que decorre do permanente estudo e acompanhamento da evolução na vinha do comportamento das diferentes castas e consequentes adaptações no trabalho de adega.

A par do cultivo, em modo de produção integrada, também as intervenções e tratamentos têm sido progressivamente eliminados. “Não somos ainda completamente naturais, mas as intervenções estão já reduzidas ao mínimo indispensável”, assegura Carlos Ruivo que entretanto recebeu do pai as rédeas da gestão. E foi também à procura de vinhos que sejam apenas resultado e expressão da acção da natureza, que foi sendo progressivamente reduzida a utilização da madeira no estágio dos vinhos.

Nos tintos da gama superior, os Reserva, que agora estão a ser lançados no mercado, da colheita de 2011, todo o processo decorreu já à margem de qualquer intervenção das barricas e, garante, Carlos Ruivo, assim se manterá daqui em diante. A madeira resume-se agora aos brancos topo de gama, os Private Selection. Mesmo assim de forma bem limitada. Apenas cerca de um quarto das uvas são fermentadas em grandes balseiros de madeira, sendo que depois só metade deste vinho tem um estágio de cerca de dois meses em barricas novas de carvalho francês. Com bâtonnage, para dar algum corpo e complexidade.

Em Darei, assinala-se como que uma espécie de antes e depois de 2008, a primeira colheita depois de concluídos os estudos e avaliações sobre o comportamento das castas. Nos brancos foram acrescentadas as castas Gouveio e Cerceal, que dão frescura e jovialidade ao blend até aí mais austero e concentrado, enquanto nos tintos a aposta se centrou no cruzamento da Tinta Roriz com a Touriga Nacional, temperadas com Jaen e Alfrocheiro.

Em prova recente com vinhos desde 1999, ficou claramente na memória a frescura do branco de 2002. Poderoso, envolvente e viçoso, e ainda com o vigor da juventude a sobrepor-se aos sintomas de evolução. É no cotejo entres as colheitas de 2007 e 2008 que se torna evidente a evolução de perfil. Elegância, equilíbrio e sedução com base em volume e estrutura, no primeiro, qualidades a que se junta uma cativante frescura vegetal com notas de chã e hortelã macerada, no segundo. Vinhos que estão ainda para durar e desfrutar por muito tempo.

--%>