Entre os precursores que poliram uma nova forma de encarar o vinho na denominação estava Luís Canto Moniz, médico-cirurgião que um dia decidiu voltar a fazer vinho na quinta da família.
A primeira colheita foi vindimada e produzida em 1997, um vinho que, apesar de engarrafado, nunca chegou a ser comercializado. Um vinho delicioso e impressionante na dimensão, um vinho perturbador pela complexidade, delicadeza e precisão que, para quem já teve a sorte de o provar, se transformou numa das estrelas dos vinhos da região.
A passagem dos anos, a experiência acumulada e as melhorias na viticultura foram mudando o perfil dos vinhos, tornando-os mais elegantes, mais sofisticados, mais sedutores, sem que com tal operação o carácter e a autenticidade dos vinhos sofressem qualquer atenuação.
As colheitas mais recentes reforçam ainda mais essa sensação de sofisticação e aprimoramento do estilo. Mas sobretudo a identidade da casa mantém-se resguardada, assegurando a seriedade e a robustez característica dos Vinha Paz, autenticando um modelo consistente que combina austeridade e solidez de forma quase perfeita.
Os vinhos Vinha Paz são garante de qualidade e segurança, encontrando-se entre os mais consistentes e fiáveis do Dão. Será fácil assumir que estamos perante um dos grandes da região e de Portugal. Infelizmente, e incompreensivelmente, os vinhos de Vinha Paz continuam a ser uns eternos desconhecidos perante o grande público.
É verdade que a família prefere manter uma discrição quase absoluta, fugindo dos holofotes mediáticos e resguardando-se no silêncio de quem não gosta de assumir o protagonismo. O que é certo é que o produtor consegue reunir muitos dos melhores vinhos que o Dão produziu ao longo dos últimos quinze anos.
Os vinhos que mais se destacam são os Vinha Paz Reserva, aqueles que exprimem de forma mais fidedigna o potencial do produtor. A produção é limitada e raramente se aproxima das 8000 garrafas anuais de um vinho que alterna entre um perfil mais delicado e uma postura mais combativa, mesclando de forma bem-aventurada a austeridade do Dão com a fruta moderna e os apontamentos florais que sempre o caracterizaram. São vinhos simultaneamente inquietos e serenos, vinhos de meditação que nos levam às profundezas da região.
Mas o mais curioso e animador é assistir à arrebatadora evolução qualitativa dos Vinha Paz Colheita, os vinhos mais simples da casa que são propostos a preços francamente simpáticos. Supostamente seriam irmãos menores face aos Vinha Paz Reserva, embora consigam transmitir um lado pelo menos tão sedutor, sério e promissor como o irmão mais velho e mais respeitado. E isso é sempre um sinal inequívoco de que aqui se trabalha bem, de que as vinhas são judiciosas e ajustadas, de que o cuidado é extremo.